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​Teatro da Cornucópia fecha portas, 43 anos depois

16 dez, 2016 - 11:36

Luis Miguel Cintra diz que os cortes nos subsídios tornaram impossível manter a histórica companhia aberta.

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Uma família chamada Cornucópia
Em 2013, quando a companhia completava 40 anos de vida, a Renascença conheceu a "família" Cornucópia e mergulhou na sua história (onde cabem muitas histórias, centenas de peças, milhares de personagens e incontáveis horas de ensaios).

O Teatro da Cornucópia, fundado em 1973 em Lisboa e dirigido por Luis Miguel Cintra, anunciou esta sexta-feira que fecha portas no sábado.

A notícia do encerramento, avançada pela Antena 1, foi confirmada ao “Diário de Notícias” por Luis Miguel Cintra. A companhia divulgou depois um comunicado sobre o encerramento.

A decisão, que não foi tomada "de repente", deve-se aos vários cortes nos subsídios, "que já eram insuficientes" e que asseguravam o funcionamento da companhia, disse ao “Diário de Notícias” Luís Miguel Cintra.

"Pensamos que ao longo destes anos fizemos muito e menos mal, mas também julgamos já ter idade para ousar dizer que não sabemos nem queremos adaptar-nos a modelos de gestão a que dificilmente nos habituaríamos a cumprir. Isso faríamos mal. Talvez seja tempo de parar a actividade", lê-se num comunicado divulgado pelo teatro.

Sem programação anunciada para os próximos meses, a companhia de teatro decidiu pôr fim à actividade com um recital, de entrada gratuita, às 16h00, a partir de textos do poeta francês Guillaume Apollinaire, com a participação de actores e músicos que têm trabalhado com o teatro.

Num balanço do percurso da companhia, será ainda lançado o segundo volume do livro "Teatro da Cornucópia – Espectáculos de 2002 a 2016", que reúne informação sobre 52 criações, e o DVD do espectáculo "Fim de Citação", de Joaquim Pinto e Nuno Leonel.

O encerramento do teatro por dificuldades financeiras tinha sido já equacionado. Em 2012, numa entrevista à Renascença, Luis Miguel Cintra afirmou que o teatro podia acabar em Janeiro de 2013.

"Teatro de reflexão"

O Teatro da Cornucópia foi fundado em 1973 por Luis Miguel Cintra e Jorge Silva Melo. A estreia deu-se com a peça "O Misantropo", de Molière, a 13 de Outubro de 1973, no antigo Teatro Laura Alves, na Rua da Palma, em Lisboa, hoje transformado numa sapataria.

Em 1975, a companhia mudou-se para o Teatro do Bairro Alto (antigo Centro de Amadores de Ballet), onde permaneceu até à actualidade.

Em quatro décadas, centrou-se sobretudo na dramaturgia contemporânea "com a intenção de construir um teatro de reflexão com uma função activa na realidade cultural portuguesa", como se lê no site do grupo de teatro.

Encenaram-se pelas de Shakespeare, Tchekov, Moliére, Genet, Pasolini, Strindberg, Holderlin, Brecht, Garcia Lorca, mas também Gil Vicente, Camões, Almeida Garrett e António José da Silva.

São "126 criações no histórico, três estreias mundiais, 25 textos dramáticos portugueses, dezenas e dezenas de actores de todas as gerações, encenadores convidados, espectáculos acolhidos e co-produzidos", elencou o teatro.

Luis Miguel Cintra, Prémio Pessoa 2005, dedicou grande parte da vida ao Teatro da Cornucópia. Retirou-se dos palcos em 2015 por razões de saúde.

Comentários
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  • Jose
    17 dez, 2016 Lisboa 22:17
    Teatros como este tem de ser capazes de subsistir com os próprios meios. Agora se querem fazer peças chatíssimas para meia duzia de intelectuais se sentirem uma espécie superior da sociedade, que o façam numa garagem com entrada só para intelectuais. Agora por o suposto povo ignorante a pagar a conta (para intelectuais não servem, mas para pagar a festa já servem...)
  • Reis
    16 dez, 2016 Lisboa 14:57
    Os mesmos que lamentam e criticam o fecho de portas, lembrem-se que foram décadas a subsistir graças a apoios estatais. Esta companhia chegou a receber 600 mil euros por ano. É muito dinheiro para financiar teatro que ninguém vê. Podemos andar eternamente a reclamar, a queixar-nos da falta de sensibilidade dos governos, mas já andamos há décadas nisto e uma coisa é certa: se ninguém vê, o impacto na cultura e na sociedade vai ser sempre ZERO, seja qual for o valor de subsídio. Talvez o Estado devesse passar a atribuir apoios culturais com os mesmos critérios de exigência com que aceita candidaturas de empresas para fundos europeus.
  • Pedro
    16 dez, 2016 Lisboa 14:33
    Mais um sinal, se não fossem já suficientes, da falta de cultura do povão "tuga". Um teatro deste tipo num país decente não necessitaria de subsídios para sobreviver, bastariam as entradas pagas, mas isso seria se em Portugal houvesse gente bastante para pagar para ir ao teatro.
  • Carlos Quintelas
    16 dez, 2016 Queluz 14:33
    Tudo tem um fim... Mas deixar de ver teatro na Cornucópia que durante muitas décadas assisti a quase todas suas representações é, para mim, e para todos aqueles que amam o Teatro e que lá estiveram sempre presentes, uma perda muito pesada... Eterniza-se o que eles fizeram de excepcional para nos proporcionar teatro de alto nível que de, forma muito didática, levava-nos, até, aos primórdios do teatro Grego, com algumas das suas tragédias representativas da antiguidade clássica, que eu fui compreendendo e aceitando com entusiasmo, até, com uma grande ajuda da minha companheira de há mais de meio século, que dispõe de uma formatura de Antiguidade Clássica da Faculdade de Letras e que me tem ensinado e impregnado de conhecimentos fundamentais para um conhecimento mais aprofundado das bases da nossa cultura, e que tão bem têm sido tratadas por Luís Miguel Cintra, esse Homem inteligente, sensível e de grande envergadura intelectual que todos nós, que gostamos de Teatro, amamos!...
  • Carlos Silva
    16 dez, 2016 Póvoa de Varzim 13:38
    Um país sem cultura, é um país sem futuro.
  • Antonio Figueiredo
    16 dez, 2016 Viseu 13:32
    Não dá?! Fecha a porta!!! É assim mesmo! Porque razão é que hei-de andar a sustentar todos estes subsídio-dependentes, que nem jeito para a coisa têm, uma vez que os (tristes) espectáculos que exibem só têm moscas e convidados a assistirem... Venham os próximos!!!!!!
  • bobo
    16 dez, 2016 lisboa e outra 13:14
    subsídios,subsídios,subsídios assim também eu queria trabalhar
  • Professor Martelo
    16 dez, 2016 Amaraleja 12:47
    menos um subsídio-dependente!!! 43 anos a mamar! cambada!!!
  • Jose
    16 dez, 2016 Setubal 12:46
    Quer dizer: O povo andou 43 anos a sustentar estes senhores e senhoras. Maravilha...
  • Miguel
    16 dez, 2016 Porto 12:31
    Corte nos subsidios? Ide trabalhar malandros, que a mim também ninguém me dá subsídios se quero comer e pagar a renda no fim do mês.

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