02 mar, 2017 - 10:37
Veja ou reveja ou directo na Manhã da Renascença
Sérgio Godinho lança, aos 71 anos, o romance "Coração mais que perfeito". O músico diz que o seu primeiro romance tem quase o mesmo sabor do seu primeiro álbum. É algo como um "dique criativo que se solta".
Conhecido pela música, pelas actuações em palco, pelos discos, que edita desde a década de 70 do séc. XX, Sérgio Godinho tem canalizado a sua veia criativa por outros géneros, como teatro, cinema, ficção para crianças, poesia e contos.
Sérgio Godinho esteve esta quinta-feira no programa Carla Rocha - Manhã da Renascença, falando da sua mais recente criação e de como é escrever para vários registos.
Lançou no festival Correntes d'Escrita [na Póvoa de Varzim] o primeiro romance. Chama-se “Coração mais que prefeito”. A quem é que pertence este coração mais do que perfeito?
Ui!... Nesse caso, pertence às personagens, porque não é com certeza meu….
À Eugénia?
À Eugénia e à outra personagem muito importante, que é uma outra personagem feminina, que passa por todo o livro. E há uma personagem masculina que vai influenciar toda a história. Os corações são todos pouco perfeitos e, aqui, o mais que perfeito quer dizer que já deu a volta e já é imperfeito outra vez.
O livro começa com uma cena chocante...
Sim, com um suicídio. E, depois, voltamos atrás. É logo a primeira página e não estou a desvendar nada.
Qual foi a inspiração para este primeiro romance?
Foram muitas coisas. A minha vida e, sobretudo, a minha imaginação, que criou as personagens. E, depois, são elas que, paradoxalmente, nos vão interrogar para onde vão, e o que estão ali a fazer e quem são elas.
Quando começa a escrever já tem essas respostas?
Não. Posso ter uma ou outra ideia e, depois, elas começam a aparecer. Há uma altura em que as peças encaixam, mas demora tempo a definir as personagens. É um trabalho diário e eu, com este romance, adquiri uma disciplina que não tinha. Sobretudo, porque é um trabalho diário.
Obriga-se a escrever?
Não. Quero. Essa é a questão: não me obrigo. Estou a escrever para um disco de canções, neste momento, e, nesse caso, tenho de me obrigar. É um outro tipo de trabalho.
Já escreveu de tudo: canções, contos, romances... Quais são as diferenças?
São enormes. É outra estrada. A música é uma coisa e, nas palavras, tem outras coisas: as rimas, métricas...
O que é que lhe falta escrever?
Respondo ao contrário. Já acabei o meu segundo romance. Daqui a um ano, encontramo-nos aqui.
E há um disco que também está "no forno"...
Sim, há um novo álbum que sairá em Setembro. Tive que parar a escrita do terceiro romance porque, agora, estava a escrever canções e estava engrenado.
Consegue escrever muitas coisas ao mesmo tempo?
Não. Tem de ser à noite, geralmente. Quando tudo parou.
Um das grandes marcas do Sérgio Godinho é o bom uso da língua portuguesa. E em diversos registos…
Utilizo em registos diferentes, tal como as músicas são muito diferentes. A paleta musical é muito variada. Tenho uma marca, mas as canções são muito diferentes.
O seu pai incentivava-o a escrever…
O que o meu pai dizia era para não deixar os trabalhos a meio. Sempre fui um bocado impaciente: escrevia e, depois, ia fazer outra coisa e aquilo ficava a meio. Talvez por isso comecei nas canções porque se pode encerrar.