09 mar, 2017 - 09:40
A Lourinhã, conhecida pelos achados de fósseis e pegadas de dinossauros, tem os ovos de crocodilo mais antigos do mundo, com 150 milhões de anos, confirmaram paleontólogos num artigo científico.
"Temos cascas e ovos completos de crocodilos mais antigos do mundo", afirmou à agência Lusa João Russo, um dos quatro autores do estudo "o registo mais antigo de ovos de 'crocodilomorfo'", um grupo primitivo de répteis, do Jurássico Superior, de que são descendentes os actuais crocodilos.
Os ovos descritos no estudo, que medem cerca de sete centímetros, foram encontrados em meados dos anos 90 do século passado na mesma jazida onde os investigadores do Museu da Lourinhã descobriram um ninho de ovos de dinossauro, na praia de Paimogo.
Os ovos encontrados nos cinco locais descritos no artigo, publicado na revista “Plos One”, foram sendo descobertos em sucessivas campanhas ao longo dos anos, a última das quais em 2012.
"Na investigação preliminar feita na ocasião, chegou-se à conclusão de que alguns dos ovos eram de facto diferentes dos de dinossauro encontrados e que muito provavelmente seriam de crocodilos", explicou o investigador.
Contudo, só com a análise laboratorial microscópica efectuada a partir de 2013 é que João Russo, Octávio Mateus, investigadores do Museu da Lourinhã e da Universidade Nova de Lisboa, Marco Marzola, da Universidade de Copenhaga (Dinamarca) e Ausenda Balbino, da Universidade de Évora, puderam confirmar as hipóteses levantadas.
150 milhões de anos vs 140 milhões
"Confirmámos que a estrutura da casca do ovo era completamente diferente da dos ovos de dinossauro e muito semelhante a ovos de crocodilo tanto fósseis como atuais", concluiu o paleontólogo, para quem "a evolução em 150 milhões de anos [dos ovos de crocodilo] foi muito pouca e os ovos praticamente mantêm-se inalterados".
Os fósseis de ovos de crocodilo conhecidos até agora como os mais antigos foram descobertos no Texas, Estados Unidos, e pertencem ao Cretácico Inferior, com 140 milhões de anos.
O achado vem enriquecer o espólio do Museu da Lourinhã, conhecida como "Capital dos Dinossauros" e um dos locais paleontológicos mais ricos do mundo após o achado, em 1993, do ninho de dinossauros, o maior e com os mais antigos embriões até então encontrados.
"Sabíamos da existência de fósseis de dinossauro e de crocodilo, assim como de ovos de dinossauro. Mas desconhecíamos a existência de ovos de crocodilo e agora sabemo-lo. É mais um testemunho de que a Lourinhã é extremamente rica em termos de fósseis do Jurássico Superior e é uma referência a nível mundial", afirmou o investigador.
O estudo resultou de uma investigação financiada pela Fundação para a Ciência e Tecnologia.