12 abr, 2017 - 17:14 • Catarina Santos
O filme “Jacinta” é uma adaptação do livro homónimo de Manuel Arouca, que assina também o guião. Foca o impacto que as aparições tiveram nos pastorinhos, sobretudo em Jacinta, e implicou fazer uma viagem no tempo até 1917. O realizador Jorge Paixão da Costa não estranhou, por isso, quando recebeu o convite para dar vida àquela história. “Há praticamente 15 anos que só faço coisas de época. Fiz o 'Mistério da Estrada de Sintra', fiz 'A Ferreirinha', 'A Raia dos Medos', o 'República'… E, portanto, há 15 anos que vivo no final do século XIX e no princípio do século XX”, conta à Renascença.
Um dos maiores desafios para recriar a Fátima de há 100 anos foi a cenografia. “Hoje em dia é muito difícil encontrar uma casa totalmente de pedra que não tenha ao lado um poste de electricidade ou uma caixa retransmissora de canal por cabo, estradas asfaltadas… e isso é mais complicado”, exemplifica.
Por isso, a rodagem fez-se em aldeias vizinhas de Fátima, com perto de 100 figurantes, escolhidos entre a população local e com vários adereços da época.
Jorge Paixão da Costa considera “a figuração fantástica”, mas há um pormenor que se revelou difícil de reproduzir. “Para pessoas do início do século XX, [as que agora fizeram de figurantes] eram um bocadinho anafadas. Em 1917, as pessoas tinham um ar muito magro, a dieta alimentar era completamente diferente. Estas aqui vão parecer que foram todas um bocadinho insufladas”, admite o realizador, com humor. Mas "não vai ser por aí que a história e o filme vão perder interesse", acredita.
Primeiro o cinema, depois a televisão
As aparições de Fátima são revisitadas no filme pelos olhos daquelas três crianças, protagonistas de um acontecimento que as colocou sob pressão da sociedade, em plena Primeira República.
“Não sou uma pessoa crente, mas achei muito interessante contar a história da verdade de três crianças, das quais uma se destaca por ser a mais nova e por ter vivido tão pouco tempo para se bater por essa verdade”, afirma.
Esta é uma história contada inúmeras vezes, no cinema e na televisão, mas Jorge Paixão da Costa espera que o público reconheça que, no seu filme, “a abordagem é diferente”.
“Eu fiz os possíveis para retratar essa inocência das crianças. E, tal como acontece com as crianças, por vezes existem algumas incoerências por parte das personagens, mas que não são erros de narrativa, é o comportamento das personagens como normalmente [as pessoas] se comportam”.
O elenco de “Jacinta” conta com actores como Dalila Carmo, Paula Lobo Antunes, Rita Salema e António Pedro Cerdeira. Uma versão adaptada será mais tarde exibida na TVI, em dois episódios.