13 mai, 2017 - 23:35 • Marta Grosso , Inês Rocha
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Fez-se história. Com a canção "Amar pelos Dois", Salvador Sobral arrebatou o júri e o público europeu e conquistou o primeiro lugar no festival da Eurovisão, na Ucrânia. Esta foi a 49ª participação portuguesa no festival. A 50ª deverá ser disputada em Lisboa.
O melhor resultado até agora tinha sido o sexto lugar, alcançado por Lúcia Moniz, em 1996, com a canção “O meu coração não tem cor”.
A canção portuguesa venceu a votação do júri, tendo recebido a pontuação máxima do júri de vários países: Suécia, San Marino, Letónia, Israel, Espanha, França, Arménia, Islândia, Geórgia, Lituânia, Sérvia, Suíça, Hungria, Holanda, República Checa e Reino Unido.
No fim das votações, Salvador reagiu à vitória: "Vivemos num mundo de música "fast-food". Esta pode ser uma vitória para a música", afirmou no fim da cerimónia em Kiev.
Pouco consensual sobretudo dentro de portas, mas favorito nas apostas internacionais, Salvador Sobral voltou a pôr o Festival da Canção na boca do portugueses.
“Amar pelos dois” é uma composição de Luísa Sobral, irmã do cantor. Recorde a actuação do português na final:
A actuação de Salvador também convenceu um dos gigantes da música brasileira. Num vídeo publicado no Facebook, Caetano Veloso disse: "Eu quero que o Salvador Sobral ganhe a Eurovisão. Ele é bom demais". Veja o vídeo:
“Completamente diferente e original”
Polémico na maneira como se apresenta e na interpretação, que adorna com alguns trejeitos, Salvador tornou-se num fenómeno de sucesso dentro e fora das fronteiras nacionais.
Sem página pessoal nas redes sociais, a página oficial do cantor subiu para mais de 76 mil “Gostos” e, no YouTube, o vídeo da actuação no Festival da Canção já vai em mais de um milhão e 500 mil visualizações. A actuação intimista na semifinal ucraniana também foi vista mais de um milhão de vezes.
No Spotify, “Amar pelos dois” está no top 10 das mais ouvidas em Portugal e é a 15ª mais ouvida em Espanha, onde o cantor reúne imensos apoiantes.
Nas redes sociais, pessoas de todo o mundo comentaram a canção portuguesa, havendo mesmo quem tivesse desejado que “Amar pelos Dois” fosse tocada na primeira dança do seu casamento (William Stanley, Austrália).
Nas redes sociais, o hashtag #salvadorable foi "trending topic" no Twitter em Portugal várias vezes.
Com inspirações de jazz, a canção composta por Luísa Sobral não agrada a todos, mas quem gosta gosta muito.
“Proporciona atmosfera desde a primeira nota e, assim que ouvimos a parte instrumental, percebemos que é completamente diferente e original”, descreve um dos apresentadores do “WWW blogs”, canal do YouTube subscrito por mais 36.700 pessoas e onde três jovens aprofundam informação sobre os concorrentes à Eurovisão.
Na opinião dos intervenientes, a canção portuguesa faz lembrar “um jazz dos anos 1920” sem deixar de ser actual. E Salvador “é emotivo sem gritar e dramático sem exagerar”.
Na opinião de outra “youtuber”, responsável por um canal com mais de 1.400 subscritores, a participação portuguesa deste ano “é uma reentrada impressionante na Eurovisão. Toda a interpretação está em consonância com o poema e há imenso ênfase na história. Só posso descrever a canção como cinematográfica”, refere.
Após a primeira semifinal, Salvador Sobral reforçou a preferência entre os votantes no site eurovisionworld.com, que faz uma média de várias casas de apostas, e, na sexta-feira, véspera da final, passou para primeiro lugar do ranking, destronando a Itália.
Filho de peixe…
Filho de pai músico, Salvador Sobral cedo se habituou às notas e aos tons musicais. As viagens de carro em família eram feitas a cantar, em conjunto com a irmã, Luísa Sobral, e o pai. “O três a fazer vozes”, recorda a Luísa Vilar, mãe dos irmãos Sobral.
Na sala dos pais, é uma bateria que assume todo o protagonismo, conta ainda a mãe, numa entrevista à Renascença.
É ainda em criança que aparece junto do público, em concursos de talentos, no “Bravo Bravíssimo” da SIC. Já adolescente, concorre à terceira edição de “Ídolos” (2009), tendo chegado à fase das galas em directo. A irmã, Luísa Sobral, também concorreu ao “Ídolos”, mas em 2003 e ficou em terceiro lugar.
Os estudos levaram-no até Espanha, onde estudou Psicologia e começou a tocar em bares. Mais tarde, decide inscrever-se na escola de música Taller de Musics, em Barcelona.
É nessa altura que colabora com a banda de pop-indie Noko Woi e grava um vídeo na rua, do “cover” de “After you gone”, que canta com o venezuelano Leo Aldrey.
Em 2016, Salvador Sobral edita o seu primeiro disco, intitulado “Excuse me”.
Aos 27 anos, Salvador atinge um dos melhores momentos da sua carreira com a actuação no Festival Eurovisão da canção, em Kiev.
O melhor resultado em 61 anos de Portugal na Eurovisão
O Festival Eurovisão da Canção existe desde 1956. Portugal participa desde 1964 e conseguiu, este ano, o melhor resultado de sempre (sendo que esteve ausente do concurso cinco vezes: em 1970, 2000, 2002, 2013 e 2016).
Na primeira vez que participou, Portugal não conseguiu um único voto. A canção escolhida foi “Oração”, interpretada por António Calvário. Portugal só voltou a obter zero votos em 1997, com “Antes do Adeus”, interpretada por Célia Lawson.
Mais tarde, em 1969, a “Desfolhada Portuguesa” de Simone de Oliveira conseguiu apenas quatro pontos, tendo ficado em penúltimo lugar (15º).
Só em 1971 é que Portugal conseguiu ficar entre os 10 mais pontuados. Tonicha cantou “Menina do alto da serra” e conseguiu o nono lugar (83 pontos).
No ano seguinte, Carlos Mendes conseguiu ainda melhor com “A festa da vida”: o sétimo lugar e 90 pontos.
Em 1973, Portugal conseguiu manter-se no Top 10, com a “Tourada” de Fernando Tordo, mas voltou a cair para o último lugar em 1974, com "E Depois do Adeus", de Paulo de Carvalho.
No total, das 45 participações que Portugal teve no festival europeu, apenas nove deram origem a lugares dentro das 10 mais votadas.
Em 1979, "Sobe, Sobe, Balão Sobe", cantada por Manuela Bravo, voltou a pôr o país dentro do top com o nono lugar e, no ano seguinte, José Cid leva "Um Grande, Grande Amor" até à sétima posição do festival.
Em 1993, Anabela levou “A cidade até ser dia” até à barreira dos dez melhores classificados. Mas foi Lúcia Moniz que, em 1996, conseguiu a classificação mais alta até hoje para Portugal: o sexto lugar, com a música “O meu coração não tem cor”.
Recorde as canções que Portugal levou à Eurovisão desde 1964.