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Vamos “Mudar pelo Planeta”?

08 nov, 2017 - 19:02 • Ângela Roque

Poupar água, escolher bem o que se come ou cultivar o relacionamento com os outros, não são coisas desligadas entre si. O documentário que vai ser exibido esta quinta-feira, em Lisboa, mostra 10 histórias da vida real que provam que as mudanças que o mundo precisa para travar as alterações climáticas dependem de todos e de cada um.

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“Mudar pelo Planeta. Cuidando das Pessoas. Histórias de Vida Sustentáveis” é o título do documentário que esta quinta-feira vai ser exibido em Lisboa, às 19 horas, seguido de um jantar tertúlia sobre as alterações climáticas e o que está ao alcance de cada um fazer. A versão em inglês foi apresentada no início desta semana em Bona, na Alemanha, onde está a decorrer, até dia 17, a Conferência das Nações Unidas para as Alterações Climáticas (COP 23).

O documentário, e o manifesto ilustrado que também vai ser divulgado, foram realizados no âmbito do projecto ‘Juntos pela Mudança – acção conjunta por estilos de vida sustentáveis’, promovido pela Fundação Fé e Cooperação (FEC) com o apoio do Instituto Camões, e em parceria com a Associação Casa Velha – Ecologia e Espiritualidade (ligada aos jesuítas), e a Rede CIDSE, um organismo internacional que reúne agências católicas para o desenvolvimento e solidariedade.

A realizadora Patrícia Pedrosa conta à Renascença como este trabalho provocou uma mudança na sua própria vida, porque é impossível ignorar os alertas e os desafios que faz. E espera que tenha um efeito “bola de neve” na responsabilidade que todos devem assumir na luta contra as alterações climáticas. Porque todos têm o poder de escolher.

O que é que a levou a fazer este documentário e o que é que ele nos mostra?

Fui convidada para fazer este documentário pela FEC, aqui em Portugal, e pela CIDSE, que é uma organização internacional. No início não estava muito entusiasmada, mas aos poucos este projecto de ‘mudar pelo planeta cuidando das pessoas’ foi ganhando importância na minha própria vida. Mais do que histórias de vida sustentáveis, estas são histórias de mudança, de pessoas que em alguma fase da sua vida começaram a levar mais a sério esta coisa de cuidar do planeta cuidando delas próprias e dos outros. E de repente, ao fazer as entrevistas e gravações, comecei a sentir-me envolvida pelo tema. Neste momento eu diria que esta é quase uma causa para mim.

Estes temas já a preocupavam antes?

Não particularmente, mas num ano mudou muita coisa. Claro que eu já tinha uma noção do que era ser bio, de que era bom escolher produtos sem químicos, uma amiga até já me tinha alertado para a importância de olhar para os ingredientes nas embalagens, mas nunca o tinha feito. O click na minha vida começou com uma das entrevistas para este documentário, a entrevista ao Alfredo Sendim, um agricultor do Alentejo, que diz que não podemos continuar a comer quase a matar-nos, e a matar o planeta, sem nos sentirmos responsáveis. Depois continuei as entrevistas, e ouvi o padre Samuel Guedes, no norte, falar na questão da economia social e da importância de olharmos para aquilo que é local, biológico, porque essas escolhas favorecem um estilo de vida mais sustentável. Depois conheci a Teresa Nazaré, e ainda hoje dou por mim a pensar nas coisas que ela disse. Foi depois dessa conversa que fiz a experiência de ir ao supermercado e olhar para os ingredientes do pão. Porque eu achava que o pão era uma coisa muito simples, feito só de farinha, água e sal. Mas não, tem uma série de químicos, conservantes, emulsionantes. Nunca mais comprei pão nesses sítios.

Essa consciência também aumentou a responsabilidade em fazer este trabalho?

Se calhar sim, porque cada vez mais temos noção de que é urgente uma mudança, fazermos alguma coisa, porque todos nós estamos a sentir na pele as alterações climáticas. Por causa dos incêndios em Portugal, pelas graves catástrofes que estão a acontecer no mundo, pela seca que estamos a viver, os grandes movimentos de pessoas. Já existem metas políticas que estão a ser colocadas, e são muito importantes, mas não sei até que ponto é que não nos estão a levar para daqui a uns anos, quando a mudança tem de ser realizada agora.


O documentário pretende mostrar que a mudança é possível e que passa por todos e por cada um?

A mensagem é essa, que todos nós podemos fazer essa mudança e participar dessa mudança, que temos esse poder. Passa por cada um de nós, no nosso dia a dia, fazendo pequenas mudanças, estando abertos a este processo.

São 10 as histórias de vida que o documentário mostra. Quem são estas pessoas e onde é que estas histórias se passam?

Estas pessoas são pessoas comuns, como nós. Temos testemunhos em Espanha, Filipinas, Bélgica, Canadá, Inglaterra e em Portugal. Falámos com o Alfredo Sendim, o tal agricultor da herdade do Freixo do Meio, em Montemor o Novo, e que vai ter um dia aberto no próximo fim de semana. Vale a pena ir lá ver como é que ele consegue ter um pequeno paraíso no meio do Alentejo. No documentário ele explica que a herdade é o culminar de um processo que começou há 30 anos.

A Teresa, que também já referi, é uma mãe que vive em Lisboa. Trabalha na área de investigação da saúde pública e diz-nos que nunca tivemos tantos químicos na nossa vida, na comida, no que bebemos, no meio ambiente, e não sabemos que impacto isso terá. Fala da importância de fazermos uma série de pequenas opções, sabendo que não vamos ser 100% ecológicos de um dia para o outro, mas há que começar, devagarinho. A Maria, que é uma jovem estudante da Universidade Nova, e também a Dulcineia, falam-nos da ecologia integral, lembrando que ter uma vida sustentável também passa pela relação que temos com os outros. Também temos o testemunho de alguém que vive em Bruxelas e nos lembra como o estilo vida europeu e o desperdício que existe na alimentação é excessivo e insustentável, e que todos temos que ter consciência de que temos este poder de fazer pequenas mudanças, que somando umas às outras poderão ter um efeito de bola de neve e transformar isto tudo.

São testemunhos que correspondem ao que o Papa Francisco propõe encíclica Laudato Si, sobre a ecologia humana. Sentiu-se interpelada por esse documento?

Como é óbvio. Se existem no mundo comunidades, indígenas ou não, que fazem desta ideia da ecologia integral um modo de vida desde que existem, para nós ocidentais este conceito é um tanto ou quanto revolucionário, porque nós separámo-nos da natureza e destas coisas todas há vários anos, entrámos numa sociedade de consumo depois da II guerra mundial, e começámos sistematicamente a consumir cada vez mais e a esquecermo-nos de onde é que vem a comida, como é que conseguimos manter as prateleiras dos supermercados cheias, como é que estas coisas todas acontecem.

É quase uma reeducação que é preciso fazer?

Não sei se é uma reeducação, mas tem realmente de haver uma aproximação a quem trabalha no campo e nos põe a comida no prato, um respeito pela natureza e pelos seus ciclos, no fundo termos capacidade de reagir a um sistema que nos está a ser imposto através da agricultura industrial. Porque nós podemos escolher, e não nos podemos esquecer disso. Há uma pessoa que aparece no documentário, na Bélgica, que nos diz 'quando comemos fazemos uma escolha, e essa escolha não deixa de ser uma escolha política”. Ou nos aproximamos realmente daquilo que é a natureza e daquilo que nós somos na nossa essência, ou continuamos num sistema que nos é imposto, de separação e de cada vez mais alienação. Acho que o Papa Francisco teve um papel fundamental com a Laudato Si, ao lançar um conceito que é uma ideia revolucionária na sociedade ocidental contemporânea.

As alterações climáticas preocupam cada vez mais pessoas, mas as mudanças são lentas. Este documentário pretende insistir neste alerta?

Mais do que um alerta é um convite, e mais do que insistir é dar a liberdade às pessoas de escolherem ou não fazerem nada, e deixar que alguém decida por elas, ou estar à espera dos tais colapsos que toda a gente prevê que vão acontecer, ou começarem a fazer alguma coisa no seu dia a dia, pequenas mudanças que possam todas juntas causar o tal efeito bola de neve que evite as catástrofes todas que nos anunciam.

Já pensou levar o documentário ao Papa?

Não pensei, mas porque não? Ele também resulta de toda esta reflexão. Esta semana já tivemos oportunidade de fazer o lançamento do documentário na COP 23, em Bona. Apresentámos a versão em inglês que fizemos, teremos outra em espanhol. Foi na segunda-feira, estive lá a participar num workshop que a CIDSE organizou na Conferência das Nações Unidas para as alterações climáticas, onde o documentário foi mostrado e serviu de ponto de partida para mesas redondas onde se discutiram estas questões.

Por cá onde é que o documentário pode ser visto?

O documentário vai ser apresentado em Lisboa esta quinta-feira, às 19h, no Largo Café Estúdio, no Intendente. Depois ficará disponível no site da FEC e também na minha página.

Espera que o documentário leve muita gente a mudar de vida, como lhe aconteceu a si?

Espero que cada um que o veja se sinta de alguma maneira identificado com estas histórias e diga 'se eles conseguem, eu também consigo’. Uma mudança este documentário já conseguiu fazer! Foi a minha.

Comentários
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  • Fausto
    09 nov, 2017 Lisboa 01:06
    Os dinossauros morreram...porque...acabou-se a cerveja...
  • Filipe
    08 nov, 2017 évora 21:32
    Gente doida , onde estava aquando da extinção dos dinossauros e quebra do elo do Homem de Neandertal . Estudam e estudam e só conseguem entreter bêbados e drogados com estas mudanças . Ainda não se deram conta que a mente humana é a cabeça de um alfinete perdida em todos os grãos de areia existentes no planeta Terra .

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