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“Três Cartazes” vencem “noite negra” dos Globos de Ouro

08 jan, 2018 - 07:23

Foi a primeira cerimónia do sector cinematográfico depois das denúncias de abusos sexuais que envolvem produtores e actores de Hollywood. Oprah Winfrey foi a senhora da noite.

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“Três cartazes à beira da estrada” e os principais vencedores dos Globos de Ouro
“Três cartazes à beira da estrada” e os principais vencedores dos Globos de Ouro

O filme “Três cartazes à beira da estrada” (“Three Billboards Outside Ebbing, Missouri”, de Martin McDonagh) foi o grande vencedor da 75ª edição dos Globos de Ouro, que se realizou no domingo, no hotel Beverly Hilton, em Los Angeles.

Melhor drama, Melhor actriz (Frances McDormand), melhor actor secundário (Sam Rockwell) e melhor argumento (Martin McDonagh) foram os prémios arrecadados, ultrapassando “The Shape of Water” – favorito para os prémios de cinema e televisão ao somar sete nomeações.

O filme de Guillermo del Toro não foi, contudo, além de dois prémios: de melhor realizador e melhor banda sonora (Alexandre Desplat).

O prémio de melhor canção foi para “This Is Me”, de “O grande showman”, escrita por Benj Pasek e Justin Paul, a dupla que deixou a sua marca no ano passado com “La La Land”.

O galardão de melhor filme de animação foi para “Coco”, da Pixar, enquanto “In The Fade” (Alemanha e França), de Fatih Akin, arrecadou o de melhor filme estrangeiro.

Os Globos de Ouro, prémios do cinema e da televisão são atribuídos pela Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood e vistos como uma antecâmara dos Óscares, cujas nomeações vão ser anunciadas no próximo dia 23, estando a cerimónia de entrega marcada para 4 de Março.

“Their time is up”, disse Oprah

A apresentadora de televisão Oprah Winfrey venceu o Prémio Carreira Cecil B. DeMille e pôs de pé todo o auditório dos Globos de Ouro com o seu discurso contra “os homens poderosos e brutais”.

“O que sei com toda a certeza é que dizer a verdade é a arma mais poderosa que todos temos e sinto-me especialmente inspirada e orgulhosa por cada mulher que teve a coragem de falar e partilhar a sua história”, começou por dizer.

“Este ano, nós tornámo-nos a história. Mas não é apenas a história da indústria cinematográfica. É uma história que transcende qualquer cultura, geografia, raça, religião, política ou local de trabalho”, prosseguiu para depois afirmar que os abusos no sector, tornados públicos em 2017, são a história de muitas mulheres “cujo nome nunca se conhecerá”.

O discurso de Oprah Winfrey que mereceu uma ovação em pé
O discurso de Oprah Winfrey que mereceu uma ovação em pé

“Esta noite, quero expressar a minha gratidão a todas as mulheres que aturaram anos de abusos e assédio, porque, tal como a minha mãe, têm filhos para alimentar e contas para pagar e sonhos para perseguir”, disse.

“São trabalhadoras domésticas, que trabalham em fábricas e restaurantes, em engenharia, ciência, em política e são parte do mundo tecnológico, são atletas nos Olímpicos e militares”, apontou.

Considerando que durante “demasiado tempo se viveu numa cultura de homens poderosos” e que “por demasiado tempo as mulheres não foram ouvidas quando se atreviam a dizer a verdade sobre o poder desses homens”, determinou: “o seu tempo chegou ao fim” (numa referência a esses homens).

“Há um novo dia no horizonte e quando esse novo dia finalmente nascer, será por causa de muitas mulheres magíficas, muitas das quais estão aqui nesta sala, e por muitos homens fenomenais, que lutam para nos conduzir ao momento em que mais ninguém tenha de dizer ‘Me too’”, concluiu.

Pautado por momentos de aplausos, o discurso fez levantar o auditório – uma mancha negra de actores e realizadores, todos vestidos de preto em sinal de protesto contra os casos de abusos e assédio.

A também produtora e empresária recordou ainda quando, ainda criança, assistiu pela televisão a cerimónia dos Óscares que Sidney Poitier venceu com o Óscar de melhor actor – o mesmo Sidney Poitier que viria a ser distinguido também com o Cecil B. DeMille nos Globos de Ouro de 1982 (o mesmo prémio que agora distinguiu Oprah Winfrey).

Passadeira vermelha de negro

Os vestidos e trajes negros inundaram o tapete vermelho na 75ª edição dos Globos de Ouro, um reflexo do movimento "Me Too" destinado a denunciar o assédio sexual às mulheres em Hollywood.

Meryl Streep, Hugh Jackman, Chris Hemsworth, Jessica Biel, Justin Timberlake, Catherine Zeta-Jones, Dakota Johnson, Emma Watson e as crianças da série "Stranger Things" foram alguns dos actores que chegaram à celebração vestidos de negro.

Na sequência do escândalo por acusações de abuso sexual contra o produtor Harvey Weinstein, e que também atingiram Dustin Hoffman, John Lasseter ou Brett Ratner, era já esperado que este desfile na passadeira vermelha constituísse o primeiro grande protesto público contra o assédio sexual.

A iniciativa juntou-se à acção desencadeada por mais de 300 mulheres poderosas de Hollywood, onde se incluem Meryl Streep e Eva Longoria, que lançaram recentemente um fundo de defesa legal destinado a ajudar as mulheres menos privilegiadas a defenderem-se de possíveis abusos sexuais no local de trabalho.

O fundo de defesa legal designado "Time's Up" já garantiu mais de 13 milhões de dólares (10,7 milhões de euros) em doações e procura ajudar estas mulheres com baixos salários a protegerem-se das consequências que podem surgir após a denúncia de abusos sexuais.

Globos de Ouro. Passadeira vermelha vestiu-se de negro e as mulheres fizeram-se ouvir
Globos de Ouro. Passadeira vermelha vestiu-se de negro e as mulheres fizeram-se ouvir

Kirk Douglas, o homenageado surpresa

A lenda do cinema Kirk Douglas recebeu uma homenagem surpresa durante a 75.ª edição dos Globos de Ouro.

Aos 101 anos, Kirk Douglas apareceu no palco do hotel Beverly Hilton acompanhado pela nora, Catherine Zeta-Jones (mulher de Michael Douglas), para apresentar o prémio de melhor argumento.

No entanto, antes de anunciar o vencedor do galardão, o público colocou-se de pé e presentou com um grande aplauso o protagonista de “Horizontes de Glória” (1957) ou “Spartacus” (1960), que surgiu de cadeira de rodas e foi assim a estrela de um dos momentos mais emotivos da noite de gala.

No seu discurso, Catherine Zeta-Jones destacou que Kirk Douglas foi uma figura-chave para acabar com as listas negras em Hollywood ao contratar, por exemplo, Dalton Trumbo para escrever “Spartacus” e fazer com que aparecesse nos créditos do filme pelo seu trabalho.

Após a intervenção, o actor assinalou que Zeta-Jones já tinha dito tudo, pelo que não era preciso pronunciar o discurso que tinha preparado.

Kirk Douglas conquistou o Globo de Ouro de melhor actor de drama pela sua interpretação em “A Vida Apaixonada de Van Gogh” (1956) e, em 1968, recebeu o Globo de Ouro Cecil B. DeMille, atribuído todos os anos a uma “pessoa com reconhecido impacto no mundo do entretenimento”.

Lista dos vencedores

Cinema:

Melhor drama: “Three Billboards Outside Ebbing, Missouri” (Três cartazes à beira da Estrada”)

Melhor comédia/musical: “Lady Bird”

Melhor actor de drama: Gary Oldman (“Darkest Hour”)

Melhor actriz de drama: Frances McDormand (“Three Billboards Outside Ebbing, Missouri”)

Melhor actor de comédia/musical: James Franco (“Um desastre de artista”)

Melhor actriz de comédia/musical: Saoirse Roan (“Lady Bird”)

Melhor ator secundário: Sam Rockwell (“Three Billboards Outside Ebbing, Missouri”)

Melhor actriz secundária: Allison Janney (“I, Tonya”)

Melhor realizador: Guillermo del Toro (“The Shape of Water”)

Melhor argumento: Martin McDonagh (“Three Billboards Outside Ebbing, Missouri”)

Melhor banda Sonora original: Alexandre Desplat (“The Shape of Water”)

Melhor canção original: “This is Me”, de Benj Pasek e Justin Paul (“O grande showman”)

Melhor filme de animação: “Coco”, de Lee Unkrich e Adrian Molina.

Melhor filme estrangeiro: “In The Fade”, de Fatih Akin (Alemanha/França)

Televisão:

Melhor série dramática: “The Handmaid’s Tale”

Melhor série de comédia/musical: “The Marvelous Mrs. Maisel”

Melhor minissérie: “Big Little Lies”

Melhor actor de série dramática: Sterling K. Brown (“This is Us”)

Melhor actriz de série dramática: Elisabeth Moss (“The Handmaid’s Tale”)

Melhor actriz de comédia/musical: Rachel Brosnahan (“The Marvelous Mrs. Maisel”)

Melhor actor de comédia/musical: Aziz Ansari (“Master of None”)

Melhor actriz de minissérie: Nicole Kidman (“Big Little Lies”)

Melhor actor de minissérie: Ewan McGregor (“Fargo”)

Melhor actor secundário de série televisiva: Alexander Skarsgård (“Big Little Lies”)

Melhor actriz secundária de série televisiva: Laura Dern (“Big Little Lies”)

Prémio Carreira Cecil B. DeMille: Oprah Winfrey

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