02 fev, 2018 - 10:55
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Sofia Lisboa, ex-vocalista dos Silence 4, confessa ter saudades dos palcos, mas, depois de vencer uma batalha de quatro anos contra o cancro, prosseguir uma carreira na música está fora das suas possibilidades. Por lhe ter sido atribuída uma reforma por invalidez total, a cantora revela não poder trabalhar nem receber os direitos das músicas que gravou.
A artista foi uma das convidadas da emissão especial da manhã da Renascença no IPO de Lisboa. Hoje, considera-se uma “activista” e denuncia a falta de oportunidades dadas àqueles que conseguem curar-se da doença.
“Graças a Deus, cada vez mais pessoas sobrevivem ao cancro”, diz a cantora. O problema, para Sofia, é que não há uma vida digna após a doença. “Ou as pessoas voltam para os seus empregos e estão constantemente de baixa, porque não aguentam oito horas de trabalho”, “ou o tratamento dura tanto tempo que as pessoas ficam reformadas por invalidez, como eu”, explica.
Nesses casos, as pessoas ficam “condenadas a uma reforma totalmente castradora”, que não lhes dá direito a auferir mais rendimento. “Nem sequer os direitos dos discos dos Silence 4 posso receber”, revela Sofia Lisboa. “É totalmente absurdo. É uma coisa que fiz no passado, antes da doença – não é uma prestação de serviço”, afirma.
As consequências, para Sofia, envolvem mais custos para o Estado. “Quem não está reformado está constantemente de baixa”, porque não consegue manter o mesmo ritmo. “Quem está reformado e não pode trabalhar está constantemente em depressão”. O que “aumenta os custos para o Estado, que tem que ajudar nos medicamentos”, diz.
Sofia diz estar a falar com as "pessoas certas" para resolver o problema, com a ajuda da Câmara Municipal de Leiria. "Não é pelo dinheiro. Eu estive no IPO e o dinheiro numa cama de hospital não serve de nada". O que a motiva é ajudar pessoas como ela a sentirem-se úteis, a terem reconhecimento por um trabalho. "Devo ser o primeiro caso em Portugal em que um artista fica reformado por invalidez total tão cedo", adianta.
A cantora diz ter encontrado "algumas entidades disponíveis para alterar a situação", mas sempre no cumprimento da lei. "Eu sou mais drástica, digo que têm que mudar as leis", afirma.
Sofia Lisboa era professora de fitness e estava grávida de 14 semanas quando, em 2010, lhe foi diagnosticada leucemia linfoblástica aguda, um cancro no sangue que se caracteriza pelo aumento descontrolado dos glóbulos brancos. Foi obrigada a interromper a gravidez e sujeita a tratamentos dolorosos.
No livro “Nunca desistas de viver”, que lançou no final de 2014, revela que acabou por ficar desfigurada, como resultado da medicação pós-transplante de medula. O transplante foi um sucesso graças à compatibilidade a 100% da irmã mais velha, mas Sofia ganhou 27 quilos e o corpo cobriu-se de pelos. Ficou “irreconhecível”.
Hoje, Sofia Lisboa dedica-se a fazer voluntariado e a alertar para o problema. "As estatísticas dizem que uma em cada três pessoas vão ter cancro alguma vez na vida", afirma a cantora, com base num relatório da Sociedade Espanhola de Oncologia Médica de 2016. "Mas daqui a 10 anos, três em quatro pessoas vão ter cancro", revela. "A maioria vai curar-se, mas estas pessoas vão passar a ser a maioria".
"As leis que existem hoje estão desadequadas", considera. "Não sou um génio por descobrir isto - o que os legisladores têm que fazer é prevenir essa época", remata.