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​Lobo Antunes. “Não há talentos, há bois, pessoas que marram até aquilo ficar bom"

06 fev, 2018 - 19:50 • Maria João Costa

Escritor foi convidado por Marcelo Rebelo de Sousa e esteve no Palácio de Belém a conversar com duas dezenas de alunos.

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Reportagem de Maria João Costa

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O escritor António Lobo Antunes encontrou-se esta terça-feira com um grupo de alunos, no Palácio de Belém. Falou de bons livros, de maus livros, do processo de escrita e aconselhou os jovens a não pedirem conselhos a ninguém.

Lobo Antunes foi apresentado por Marcelo Rebelo de Sousa aos 20 alunos de uma escola de Lisboa como um génio que não precisou de ganhar o Nobel para ser Nobel da Literatura.

Neste encontro Lobo Antunes falou do seu ofício. Diz que começou a escrever aos cinco anos para tentar responder ao que não entendia. Mas aos alunos não dá lições.

“Se quer escrever a sério não pode perguntar a ninguém como se faz. Ninguém lhe pode ensinar nada, só pode ensinar a maneira como eles escrevem, que não é a sua. Se quer escrever não peça conselhos a ninguém. Ninguém lhe pode dar nada porque não estão na sua pele.”

Aos estudantes de humanidades diz que é canhoto, que aos 75 anos continua a gostar de escrever à mão porque gosta de desenhar a letra e revela os segredos da sua oficina de escrita.

“O importante não é escrever é emendar, emendar e emendar. Se escreve e vai ler logo a seguir fica todo contente, [mas] se ler no dia seguinte percebe que aquilo está uma merda. E deita fora aquilo que na véspera tinha achado formidável. Não há talentos, há bois, pessoas que marram, marram as vezes que forem necessárias e escrevem e escrevem as vezes que forem necessárias, até aquilo ficar bom.”

António Lobo Antunes citou García Lorca, Rilke, Cesariny, convocou as memórias da sua infância, dos pais e da família, numa tarde em que interpelou a plateia sempre com uma preocupação: “estou a ser claro? Então continuo a caminhar de mistério em mistério e os livros são uma forma de responder a esses mistérios”.

Respostas que levam o autor a escrever livros como o recente “Até que as pedras se tornem mais leves que a água”. António Lobo Antunes vê contudo bons e maus livros e os maus não lhe interessam.

“Um livro mau, muitas vezes é um sucesso, porque não a põe em questão a si mesma, nem ao leitor. Um livro fácil é como uma mulher ou um homem fácil, que me interessa a mim. Onde tudo é óbvio, onde tudo está à mostra, não me interessa nada. A mim, interessa-me o que é difícil”, resumiu o escritor.

A conversa com os alunos durou cerca de uma hora e terminou com um pedido de Lobo Antunes: “aqueles que acreditam em Deus, rezem pela minha alma pecadora”.

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