23 mar, 2018 - 14:03 • António Jorge, coordenador musical da Renascença
E ao terceiro mês do ano de 2018, Dylan, Bob Dylan regressou a Lisboa.
A “Never Ending Tour”, na estrada há 30 anos, trouxe 18 canções mais duas com o selo de qualidade do homem que não deve e não teme. Por isso mesmo, reapropria-se com mestria das suas canções, amassando-as para as tornar quase novas, quase desconhecidas – Robert Zimmerman é único na arte de fazer dos clássicos (há muito canções nossas) verdadeiras estreias.
Talvez porque, como sempre disse: “não me apetece olhar para trás”.
Dylan entrou no palco de um pavilhão esgotado e sem luzes acompanhado por cinco músicos de excelência (poderia ser de outra forma?).
O autor de “The Times They Are A Changin” fez um concerto de mão dada com o seu piano e apenas por uma vez deixou o elegante instrumento entregue à dimensão do palco.
A noite começou cedo e terminou ainda mais cedo, porque esta coisa de ouvir as canções de Dylan por Dylan, não tem noite nem dia: tem apenas a temporalidade do momento - e a poesia.
Num verdadeiro cocktail detox (sem prazo de validade), revisitámos o lugar onde afinal o blues, o rock, o jazz e o swing coabitam em plena harmonia, roçando por vezes a perfeição.
Vinte canções depois, o trovador e Nobel da Literatura faz apenas um pequeno gesto de agradecimento e volta de novo costas a tudo – apenas porque não tem tempo para olhar para trás.
Momentos antes tinha cantado “Blowin' in The Wind”, mais uma canção quase nova: ou talvez não.
Já cá fora, alguém comenta: “adorei, mas nem boa noite, nem obrigado, nada…”
Afastei-me e pensei: e era necessário?