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Entrevista

​Itamar Vieira Júnior recebe Prémio Leya com esperança, num momento "dramático no Brasil"

17 out, 2018 - 15:08 • Maria João Costa

O autor nascido em Salvador, na Bahia, surpreendeu a Renascença ao ligar de volta para responder à chamada. Do outro lado do Atlântico, explica que o seu telefone não pára de tocar. “Estou no hospital com o meu pai”, diz, mas isso não o impede de mostrar a sua satisfação pelo prémio que acaba de receber.

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“Mando um abraço a todos os portugueses”, foi assim que Itamar Vieira Júnior terminou a conversa que manteve com a Renascença no dia em que venceu o Prémio Leya 2018.

O autor nascido em Salvador, na Bahia, surpreendeu a rádio ao ligar de volta para responder à chamada. Do outro lado do Atlântico, explica que o seu telefone não pára de tocar. “Estou no hospital com o meu pai”, diz, mas isso não o impede de mostrar a sua satisfação pelo prémio que acaba de receber.

O seu romance “Torto Arado” foi escolhido por unanimidade entre 348 originais avaliados pelo júri do Prémio Leya que este ano assinala o seu décimo aniversário.

O romance "Torto Arado" foi escolhido por unanimidade pelo júri do Prémio Leya 2018. De que fala este livro que, em breve, será publicado em Portugal?

É um romance de formação, que narra a vida de duas irmãs desde a infância até à maturidade. É um romance que retrata como tema a vida de descendentes de escravos no interior do Brasil.

O Brasil foi um dos países mais tardios a aprovar a abolição da escravatura, em 1888, e 120 anos depois a gente ainda tem pessoas que vivem em situação de escravidão. Então, é uma história que trata da luta pela terra como forma de transgredir a condição de vida que importa às populações descendentes de escravos no Brasil.

É um tema muito atual perante a situação que o Brasil vive hoje. É também um livro que ajuda a pensar o futuro do Brasil?

Sim, é um tema bastante atual. Eu ainda estou muito emocionado e ainda não consegui processar inteiramente esse prémio e a importância do Prémio Leya. Recebo essa notícia na véspera da eleição [presidencial], com muita esperança porque, atualmente, no Brasil vivemos um momento dramático em que a nossa democracia está em risco.

Um candidato com uma agenda claramente fascista [Jair Bolsonaro] é o líder das pesquisas. Observo tudo isso com muita apreensão, os meus pares intelectuais e escritores têm visto isso com muita apreensão, e é um momento dramático. Vejo esse prémio com muita satisfação, sobretudo para essa obra que trata dessa questão.

É também finalista do Prémio Jabuti, na categoria de conto. É o prémio literário mais importante do Brasil. Juntando o Prémio Leya, podemos dizer que este é um ano importante para a projeção da sua carreira literária?

Sim, sem dúvida. É um ano importante para a projeção da minha obra. Tenho o livro "A Oração do Carrasco", que foi vencedor do prémio da União Brasileira de Escritores e, agora, é finalista do Prémio Jabuti.

É um livro lançado por uma editora pequena e independente no Brasil que teve uma projeção importante e trata de temas tão caros à sociedade brasileira. Vejo com muita satisfação essa indicação e agora com a notícia do Prémio Leya, sem dúvida é um premio que projeta a carreira dos escritores que o recebem.

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