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Stress pode afetar a memória e reduzir o tamanho do cérebro

29 out, 2018 - 10:41

Investigadores de Harvard encontraram relação entre o aumento da hormona do stress no corpo e a capacidade cognitiva, numa população com idade média de 48 anos.

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Se vive uma vida cheia de stress, há mais uma coisa com que poderá ter de se preocupar: de acordo com um novo estudo, publicado na revista “Neurology”, o stress pode levar a perda de memória antes dos 50 e a uma diminuição no tamanho do cérebro.

Num estudo que envolveu uma amostra de 2.231 voluntários saudáveis, com uma média de idades de 48 anos, os investigadores da faculdade de medicina da Universidade Harvard descobriram que aqueles com níveis mais altos de cortisol – uma hormona indicadora de stress - tiveram um desempenho mais fraco nos testes de memória e tiveram um volume cerebral ligeiramente reduzido em comparação àqueles com nível normal desta hormona. O efeito foi mais evidente entre as mulheres no estudo.

“Encontramos perda de memória e encolhimento do cérebro em pessoas relativamente novas, antes que quaisquer sintomas pudessem ser encontrados”, disse a autora Sudha Seshadri, professora de neurologia na UT Health San Antonio, à CNN. “Nunca é demasiado cedo para reduzir o stress”.

Os investigadores enfatizam que as descobertas não permitem concluir que o stress cause danos cerebrais. Ainda assim, o estudo revela uma associação entre stress e função cerebral que é consistente com estudos em ratos, feitos em laboratório.

Não stresse: o stress é natural

É normal que o corpo reaja, quando confrontado com perigo ou outras ameaças, com um aumento dos níveis de cortisol.

Quando estamos stressados e em alerta máximo, as glândulas supra-renais produzem mais cortisol, que começa a trabalhar, juntamente com outra hormona – a adrenalina - desligando várias funções corporais que podem atrapalhar a sobrevivência. É esta a resposta corporal à chamada situação de “luta ou fuga”.

O cortisol aumenta a glicose, ou açúcar, na corrente sanguínea; aumenta o uso do cérebro dessa glicose para energia; e suprime funções corporais que não são imediatamente necessárias durante uma emergência, como digestão, reprodução e crescimento.

Quando a crise passa, os níveis de cortisol devem descer e os sistemas corporais devem voltar ao normal. Mas se o “botão de alarme” continuar ligado, o corpo pode continuar a não funcionar bem, levando a ansiedade, depressão, dores de cabeça, aumento de peso, insónias e problemas de memória e concentração.

O cérebro é especialmente vulnerável, segundo os especialistas, devido a todos os nutrientes de que precisa para funcionar nas melhores condições.

“O cérebro é um órgão muito ávido”, diz à CNN Keith Fargo, que gere os programas científicos da Associação de Alzheimer, nos Estados Unidos. “Ele requere uma grande quantidade de nutrientes e oxigénio para se manter saudável e a funcionar adequadamente. Então, quando o corpo precisa desses recursos para lidar com o stress, há menos para ir ao cérebro”, explica.

Estudos anteriores já tinham encontrado uma relação entre o cortisol e o risco de demência, mas o foco tem estado principalmente nos mais idosos e no hipocampo, a área do cérebro associada à memória.

Este estudo escolheu mais de 2.000 pessoas de meia idade, sem sinais de demência. Todos fizeram parte do Estudo de Framingham, uma investigação de longo prazo sobre o sistema cardiovascular a decorrer desde 1948 nos habitantes da cidade norte-americana de Framingham.

Cerca de oito anos depois do teste inicial, o grupo foi reavaliado – os níveis de cortisol foram medidos e depois foram feitos testes cognitivos e de memória.

Os investigadores concluíram que as pessoas com níveis de cortisol mais altos tinham maiores perdas de memória.

Paul George, professor assistente de Neurologia e Ciências Neurológicas em Stanford, que não esteve envolvido na investigação, disse à Live Science que o estudo “levanta muitas questões que precisam de exploração mais profunda, sobre como o cortisol afeta o cérebro e a capacidade cognitiva”.

George alerta que os investigadores não podem ter a certeza da causa, existência ou persistência de stress, porque estão a confiar numa simples amostra de níveis de cortisol no sangue, tirada numa manhã.

No entanto, a recomendação mantém-se: tendo em conta todos os benefícios, o melhor é mesmo reduzir os níveis de stress, já que essa redução poderá ter impacto também na sua memória.

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