30 nov, 2018 - 07:37 • Maria João Costa
Nem só de literatura se faz a presença portuguesa em Guadalajara onde até domingo decorre a Feira Internacional do Livro em que Portugal é o país convidado. O arquiteto português João Luís Carrilho da Graça é esta sexta-feira homenageado na Arpa Fil, na cidade de Guadalajara. Em entrevista à Renascença, o arquiteto diz que este reconhecimento que lhe é feito pela Universidade de Guadalajara no auditório Juan Rulfo da feira do livro, “é para toda a arquitetura portuguesa”.
Esta homenagem que lhe é feita aqui vem da parte da Universidade e é feita neste contexto da presença portuguesa na feira do livro, como vê este reconhecimento do seu trabalho?
Penso que é antes de mais uma homenagem á arquitetura portuguesa. Estão aqui uma série de colegas meus do Porto que admiro imenso e esta homenagem aparece no contexto de um convite que nos foi endereçado pela Universidade de Guadalajara que tem 300 mil estudantes que é uma coisa impressionante.
Muitos desses alunos estão aqui na Feira do Livro de Guadalajara. Este evento conta com a presença de muitos estudantes mexicanos de várias idades. É uma feira muito jovem.
É extraordinário ver uma feira do livro com este entusiasmo incrível, cheia de milhares de pessoas entusiasticamente aqui.
Todos os que entram na feira têm obrigatoriamente que passar pelo pavilhão de Portugal, esta imensa estante de livros. Qual é a sua opinião como arquiteto sobre o espaço?
Acho que o projeto é muito feliz, muito interessante e a localização também. Penso que o projeto é do meu colega João Santa Rita, meu amigo. Só posso felicitá-lo. Acho que está a funcionar muito bem.
A arquitetura portuguesa tem sido um dos exemplos de maior visibilidade cultural de Portugal no estrangeiro. Como define a sua identidade arquitetónica?
É sempre difícil ser o próprio a definir a identidade arquitetónica. O que sempre tento fazer é salientar a singularidade de cada ponto do planeta nos quais nós podemos intervir. O meu objetivo principal é manter sempre o caracter público da arquitetura e tentar revelar o que com mais intensidade define cada sítio em que vou intervir.
O arquiteto tem esse poder de transformar a cidade? De fazer cidade?
Não, não tem esse poder. Luta por ele! Esse poder é difuso, tem muitos intervenientes, muita gente com poder que influencia. Nós temos de ter convicções, ideias claras e lutar por elas.
Na arquitetura mexicana tem algum arquiteto que goste particularmente, que o influencie?
Não há nenhum com quem trabalhe, mas há um arquiteto na história da arquitetura que é incontornável que é o Luis Barragán que nasceu precisamente em Guadalajara. Já vi aqui algumas coisas deles, vou continuar a ver. Já estive na Cidade do México onde visitei grande parte das suas obras. A contribuição dele é completamente singular a nível mundial, é um arquiteto muito intenso e interessante.
Sente também hoje que a sua arquitetura cria escola em Portugal e a nível mundial?
Sinceramente não procuro isso, mais do que os prémios o que interessa aos arquitetos é a possibilidade de construírem mesmo que sejam coisas pequenas, mas com intensidade com bons resultados, respeitadas. O arquiteto Álvaro Siza queixava-se no outro dia e penso que é verdade, que algumas das suas obras estão abandonadas e maltratadas. Isso é comum a quase todos os arquitetos. Acho que esse respeito e homenagem podemos eventualmente merecer e a sociedade deveria dar-nos.
Olhando para esta feira, procura sempre um livro para levar para a sua biblioteca?
Eu ainda vou comprar um livro que li há muitos anos em francês do Juan Rulfo e que por estar aqui quero comprar em espanhol, por romantismo.