01 dez, 2018 - 12:50 • Maria João Costa
Sobre o mandado de seis anos que Andrés Lopez Obrador começa este sábado no México recaem expectativas quanto a uma política de reformas económicas. Mas o principal desafio do novo Presidente mexicano será enfrentar o problema da caravana de milhares de refugiados da América Latina que está estacionada em Tijuana, na fronteira com os Estados Unidos.
Em entrevista à Renascença, o escritor brasileiro Eric Nepomuceno, que viveu no México quando era correspondente para a imprensa brasileira, aponta as expectativas quanto à nova presidência mexicana.
Na Feira do Livro de Guadalajara, onde o encontramos na editora que está a publicar o seu novo livro, o autor diz que Lopez Obrador “pode significar uma rutura com uma tradição muito negativa da política mexicana para os mexicanos”.
Nepomuceno considera esta nova presidência “um momento muito interessante e importante” e explica que o México “é um país convulsionado pela violência” e que agora “abre uma porta de esperança para o futuro”.
Eric Napomuceno traduziu para português Juan Rulfo, um dos grandes escritores mexicanos. Ao seu trabalho de tradutor já distinguido com o prémio Jabuti, o escritor junta também o facto de ser colunista num dos principais jornais do México e é por isso apontado como um profundo conhecedor da américa Latina.
Napomuceno fala do desafio que Lopez Obrador vai enfrentar com a caravana de migrantes que está às portas dos Estados Unidos, na fronteira mexicana. “Estes migrantes e refugiados são um retrato da tragédia económica do nosso tempo, da violência da américa central e da paranoia de Donald Trump”.
O momento de esperança que o México vive com a nova presidência que este sábado começa contrasta, diz Eric Napomuceno, com o que está a acontecer no seu país. Questionado sobre a nova presidência de Jair Bolsonaro que em janeiro toma posse, o contista, autor de “Bangladesh, talvez e outras histórias” editado pela Porto Editora descreve o sentimento de “angustia e tristeza”.
Eric Napomuceno emigrou para a Argentina em 1973, em plena ditadura militar brasileira. Agora, o autor de “Bangladesh, e outras histórias” pensa de novo sair do seu país. Mas aos 70 anos revela que isso já não estava nos seus planos. “Tenho muito medo pelo povo brasileiro, porque por mim, eu viajo. Venho para o México, vou para Lisboa. Nunca achei que fosse viver a perspetiva de um novo exilio a essa altura da minha vida”, confessa Napomuceno.
Sobre o futuro do Brasil, o escritor afirma apenas: “Tenho uma só certeza sobre o que será o governo de Jair Bolsonaro: não haverá nada de bom.”
O que mais o deixa apreensivo é a situação dos brasileiros. Eric Napomuceno explica que “desde que o capitão do Exército Bolsonaro foi eleito” tem “procurado viajar o tempo todo”. Está receoso quando aos próximos tempos e não é só consigo. “Tenho muito medo do que vai acontecer no meu país e não é só comigo. Afinal, eu não sou o povo brasileiro. Sou branco, fui educado, só tive fome quando a empregada se atrasava para o almoço.”
Para assistir à tomada de posse do novo Presidente mexicano, está no México o primeiro-ministro português, António Costa. Andrés Lopez Obrador foi o candidato de uma coligação de esquerda progressista que venceu as eleições presidências com 53% dos votos.