02 dez, 2018 - 16:31 • Maria João Costa
Fernando Ribeiro protagonizou uma das enchentes no auditório do Pavilhão de Portugal na Feira Internacional do Livro de Guadalajara numa sessão em que veio falar sobre Fernando Pessoa intitula “Ópio, desejo ou vontade?”. Depois de muitos autógrafos e fotografias com os fãs, o vocalista dos Moonspell conversou com a Renascença sobre a sua paixão que são os livros e a poesia de Fernando Pessoa.
Mas não foi só a sessão que encheu. Também o concerto dos Moonspell superou todas as expectativas e esgotou o recinto da feira onde decorrem os concertos. Fernando Ribeiro explica à Renascença que tocam no México “desde 1998” e que os portugueses Moonspell são “a primeira banda de heavy metal a tocar na feira” criada há 32 anos. A titulo de curiosidade, o vocalista indica-nos que “a diretora da feira é uma grande fã da música heavy metal”. E respondendo a um dos fãs que foi à conferência dos Moonspell, Fernando Ribeiro lembrou que “o heavy metal é certamente a música mais literária e literata do mundo”.
A vinda da banda portuguesa ao México não se fica apenas pela participação musical. Os Moonspell aproveitaram a feira do livro também para lançar uma biografia traduzida para espanhol por fãs do grupo aqui no México. O livro intitulado “Lobos que foram homens” escrito por Ricardo Amorim foi traduzido por dois mexicanos. Fernando Ribeiro explica que não encontraram uma editora para o publicarem, e por isso decidiram ser mesmo a banda a procurar “uma gráfica para imprimir”.
“Fomos nós que contratamos uma gráfica no México, á punk rock”, diz rindo. O trabalho de tradução “brilhante”, classifica Fernando Ribeiro contou com a ajuda da banda. Mas nas palavras do vocalista, os seus fãs tinham “o léxico” certo e conheciam bem a banda para realizar esta empreitada. O livro apresentado aqui no México com a ajuda do escritor José Luís Peixoto, um grande admirador da banda, esteve á venda durante a apresentação. “Vamos vendê-lo á porta, um pouco old school”, admite Fernando Ribeiro.
Fernando Pessoa e os livros que inspiram a música dos Moonspell
E se é verdade que já era conhecido que os Moonspell tinham levado a poesia de Fernando Pessoa para a sua música, não é menos verdade que parte da razão para isso ter acontecido é a paixão de Fernando Ribeiro pelo autor de A Mensagem. Fernando Ribeiro protagonizou no México uma conferência em que falou do poeta. E embora não seja um académico da matéria mostrou saber falar sobre Pessoa e não se intimidou quando estava sua frente o colombiano Jerónimo Pizarro, um dos grandes especialistas e estudiosos da obra de Pessoa.
É de resto nos livros que Fernando Ribeiro vai buscar grande parte da inspiração para a música. “Aquilo que toda a gente procura, é inspiração. Há pessoas que encontram na vida, eu também tenho isso. Certamente, algumas coisas que passei na vida já foram parar ás minhas letras. Mas sem dúvida o meu grande manancial de inspiração e ideias é sempre a literatura. A primeira coisa que eu faço para escrever o disco, é ler livros” diz-nos Fernando Ribeiro.
E no meio de tanta azáfama, Fernando Ribeiro quer ainda ter tempo para levar para casa alguns livros da feira de Guadalajara. Aqui sente-se em casa. Já recebeu um livro do Panamá oferecido por fãs da banda, agora quer ter tempo para dar uma volta no espaço da Feira para escolher outros livros. No espaço da feira, Fernando Ribeiro explica-nos: “Se não fosse hipoteticamente o vocalista dos Moonspell, este era um sítio onde me sentiria bem. Adoro estar em sítios rodeado por livros, por pessoas que se interessam. Adoro ver as pessoas passearem-se com os livros. Isto, embora não tenha sido um evento criado para mim, é quase como se fosse. De certeza que vou ser das pessoas que mais vai disfrutar”.
De acordo com Fernando Ribeiro, “nenhuma outra música permitira ter acesso aos livros e à cultura” como tem tido com os Moonspell. “É um mundo que me encanta muito” desabafa Ribeiro que lembra o amigo escritor José Luís Peixoto e conta: “De vez em quando, quando estamos um bocadinho cansados das nossas carreiras digo, tomara eu ser escritor, andava sozinho, não tinha que aturar ninguém! Estas coisas dos Moonspell, andar com quilos a trás! E diz, tomara eu, estar numa banda, ter companhia, não me sentia sozinho. Nós entendemo-nos muito bem e positivamente invejamos a carreira um do outro. Se calhar a segunda melhor coisa do que ser um músico de heavy metal, é ser escritor!”