11 dez, 2018 - 09:43 • Olímpia Mairos
O vale do Côa não para de surpreender. A prová-lo estão as mais recentes descobertas no decurso de escavações arqueológicas, realizadas no sítio da Penascosa. A equipa de arqueólogos foi surpreendida com novas rochas com gravuras rupestres. E há uma que está a despertar grande interesse por apresentar bovinos selvagens e cavalos em movimento.
“As figuras representadas são auroques [uma espécie de bovino primitivo, selvagem] e cavalos em movimento, que estão gravados na rocha de xisto e representam já uma das mais importantes [descobertas] da Arte do Côa”, conta o arqueólogo Thierry Aubry.
Na nova rocha, com vários metros de comprimento, “há um painel bem conservado, onde são visíveis bem ao centro dois auroques com cabeça virada que, à primeira vista, parecem estar a contar uma história, mantendo um diálogo”, detalha o arqueólogo, considerando que “as descobertas vão mudar a visão do sítio arqueológico da Penascosa”, porque “pertencem a uma fase estilística do paleolítico superior que não se conhecia” naquele sítio.
"Banda desenhada"
“Esta rocha é quase uma banda desenhada, tem várias imagens associadas em movimento, parece que as várias figuras nos contam uma história, há patas a mexer e a representação de várias cenas. Isto, para a arte do paleolítico, é muito importante”, considera o investigador.
No entender dos arqueólogos, a nova rocha vai mostrar que aquele local é bem mais complexo do ponto de vista arqueológico, do que inicialmente se pensava.
“Há uma longa sequência cronológica no sítio arqueológico da Penascosa que vai desde os 30 mil até aos 15 mil anos”, diz Tierry, acrescentando que sempre que se faz uma escavação são “encontrados dados arqueológicos de âmbito internacional”.
"Estas descobertas revelam não só a riqueza da arte rupestre de um dos sítios mais visitados do Vale Côa, como confirma a importância da continuação de trabalhos arqueológicos, mesmo em locais que se julgam muito bem estudados ou conhecidos", defende o especialista.
As gravuras foram descobertas a poucos metros da “rocha 37”, que tem gravada uma “cabra”, e que mobilizou um novo interesse por parte dos arqueólogos sobre o sítio arqueológico da Penascosa, mesmo junto rio Côa.
As novas descobertas estavam completamente tapadas pelos sedimentos das cheias do rio Coa e vêm, segundo os especialistas, demonstrar “a diversidade de um sítio mais clássico do parque arqueológico, onde há gravuras com cerca de 30 mil anos”.
Apesar de ainda carecerem de um estudo mais pormenorizado, as novas gravuras rupestres, “do ponto de vista estilística, podem ser datadas entre 18 mil e 15 mil anos”.
Duas décadas de sondagens
Decorridos 20 anos sobre a classificação da “Arte do Côa” como Património Mundial, as sondagens no Sítio da Penascosa prosseguem, no âmbito do projeto “PaleoCôa”, e têm trazido à luz do dia novos achados que mostram o potencial da área.
Aquando da classificação da “Arte do Côa” como Património Mundial da Humanidade, em 1998, apenas se conheciam cerca de 150 rochas distribuídas por 15 sítios. Atualmente conhecem-se mais de 500 rochas e 50 sítios.
Os arqueólogos continuam a defender que a descoberta da “Arte do Côa” foi uma das “mais importantes descobertas arqueológicas do Paleolítico Superior, em finais do século XX, em toda a Europa”, e “um dos mais fabulosos achados arqueológicos do mundo”.
Desde agosto de 1996, o Parque Arqueológico do Vale do Côa organiza visitas a vários núcleos de gravuras, como Penascosa, Canada do Inferno e Ribeira de Piscos.
Recentemente, em visita ao Côa, o secretário de Estado da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Sobrinho Teixeira, desafiou os politécnicos e as universidades a enviarem alunos ao Vale do Côa, no âmbito do processo de aprendizagem, para melhor perceberem a evolução histórica da população mundial.
“O Parque Arqueológico do Vale do Côa tem uma grande importância para melhor se perceber a evolução da população, não só deste território, bem como da população mundial”, defendeu o governante, considerando importante “desenvolver investigação a partir do próprio Parque a vários níveis científicos”.