03 fev, 2019 - 18:36 • Lusa com Redação
O Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S) e o Centro Hospitalar São João, no Porto, estão a desenvolver um projeto que visa otimizar o prognóstico e o tratamento de tumores cerebrais pediátricos através de “imunoterapias dirigidas”.
“Esta é uma área que carece de avanços e de alternativas terapêuticas. As terapias são limitadas, e aquelas que estão agora a ser desenvolvidas e que poderão vir a ser aplicadas precisam da procura de biomarcadores moleculares [alterações específicas das células tumorais]”, explicou à Lusa Jorge Lima, investigador do i3S, a propósito do Dia Mundial da Luta Contra o Cancro, que se celebra na segunda-feira.
O projeto, denominado “Implementação de biomarcadores moleculares para medicina de precisão em doentes com tumores cerebrais pediátricos”, iniciou-se há cerca de dois anos, no seguimento de uma doação por parte de um casal português que perdeu o filho devido a um cancro.
“O casal angariou dinheiro para o tratamento da criança, mas infelizmente não chegou a ser utilizado porque a criança faleceu. Mas, eles não o queriam e decidiram aplicá-lo em algo que fosse útil para outras crianças”, disse.
Assim, em colaboração com profissionais do Hospital de São João, os investigadores começaram a procurar biomarcadores moleculares que permitissem a aplicação de “imunoterapia direcionada”.
“O sucesso destas terapias dirigidas está intimamente relacionado com os biomarcadores moleculares encontrados. Portanto, temos de pesquisar no tecido tumoral a existência destas alterações de modo a dizermos que terapia pode ser aplicada a determinado biomarcador”, esclareceu Jorge Lima.
O projeto, que em julho de 2018 foi distinguido com a Bolsa de Investigação Médica Lions - Núcleo Regional do Norte da LPCC na Área do Cancro Pediátrico, envolve para já 40 crianças e adolescentes, das quais cinco já estão a ser tratadas com recurso às terapias dirigidas.
De acordo com Maria João Gil da Costa, oncologista pediátrica do Centro Hospitalar S. João e interlocutora clínica daquela unidade hospitalar no projeto, uma vez que é difícil que os “laboratórios farmacêuticos invistam em ‘drogas’ para os cancros pediátricos, dado o número escasso de doentes”, todo este processo requer "muita atenção" às alterações e fármacos encontrados para os cancros dos adultos.
“Por exemplo, o caso o melanoma. Vimos que em alguns tumores das crianças também estava presente esta mutação, portanto, estamos a utilizar a terapêutica que se utiliza nos melanomas para os adultos nas crianças que também tem essa mutação”, esclareceu a médica.
À Lusa, Maria João Gil da Costa adiantou que este é “um mundo ainda muito incerto”, apesar de ser uma aposta de tratamento que está a ser feita a nível internacional.
“Estamos longe de saber quanto tempo temos de manter o tratamento, porque é que é efetivo nuns tumores e não em outros, o que acontece quando pararmos ou como controlar os efeitos colaterais do mesmo”, acrescentou.