04 mar, 2019 - 15:54 • Maria João Costa
É um dos nomes incontornáveis da literatura infanto juvenil portuguesa. António Mota publicou em 1979 o seu primeiro livro para crianças. Assinala por isso este ano 40 anos de vida literária, uma data marcada pelo lançamento do seu primeiro livro para adultos.
“No Meio do Nada”, editado pela ASA, é uma obra que o autor, nascido no concelho de Baião, sempre teve em mente. Em entrevista à Renascença, desabafa que já perdeu a conta ás vezes que lhe perguntaram quando é que escreveria para adultos. Chegou agora o momento de lançar um livro que, nas suas palavras, estava destinado a ser “a prenda” que iria dar a si próprio neste aniversário literário.
António Mota é um dos autores mais premiados da literatura infanto juvenil portuguesa. Recebeu, entre outros, o Prémio da Associação Portuguesa de Escritores em 1983, o Prémio Gulbenkian de Literatura para Crianças e Jovens em 1990, o Prémio António Botto em 1996 e o Grande Prémio Gulbenkian de Literatura para Crianças e Jovens, categoria «Livro Ilustrado», em 2004.
Agraciado pela Presidência da República com a Ordem da Instrução Pública, o escritor explica que “No Meio do Nada” é um livro que presta uma homenagem à capacidade das mulheres. Cada capítulo, curto, tem o nome de uma mulher. São poucos os homens que habitam este livro cheio de histórias. E é neste desfile de personagens, diz-nos o autor, que está a sua “observação” e “o jogo de entrar na pele” destas mulheres que, sob o seu olhar, são “heroínas” com “capacidade de sofrimento e resiliência”.
Como num palco, neste livro surgem histórias que poderão ir ao encontro das vidas dos leitores. “Estou contente porque tenho leitores que me dizem que não conseguem largar a historia”, conta António Mota. O escritor descreve o seu novo livro como “um conjunto de vozes” e explica que, na experiência do leitor, surge por vezes a sensação de que “não está sozinho”.
“No Meio do Nada” é um livro “que tem anos”, lembra, porque o foi escrevendo recorrendo, por exemplo, às suas viagens de comboio ou a outros momentos em que a sua atenção se focava em alguém e no exercício de imaginar o que se poderia passar na cabeça dessa pessoa.
“Se é escritor, tanto escreve para crianças como para adultos”
António Mota, que a Renascença encontrou no festival Correntes d’Escritas, na Póvoa de Varzim, recorda uma conversa no início da sua carreira com a escritora Agustina Bessa-Luís, que lhe disse que “um escritor é como um bailarino que tanto dança o vira, como dança em pontas”.
Questionado sobre o voltar a escrever para crianças, Mota lembra que: “Se é escritor, tanto escreve para crianças como para adultos.” A verdade é que muitos dos que começaram a lê-lo em crianças, 40 anos depois, podem agora descobrir o escritor António Mota para adultos.
Contudo, “em breve teremos aí outro livro para crianças”, desvenda António Mota, revelando ao mesmo tempo que “não é fácil” escrever para crianças.“Sei muito bem quando estou a escrever qual é a palavra que eles não percebem”, explica. Ainda assim, deixa essa palavra ficar, “porque eles também têm de crescer”. “É o dançar em pontas”, como lhe ensinou Agustina.