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World Press Photo há 18 anos em Portugal

26 abr, 2019 - 08:45 • Maria João Costa

Até 19 de maio, poderá ver em Lisboa, no antigo Picadeiro, no Museu Nacional de História Natural e da Ciência, o melhor do fotojornalismo de 2018. A Renascença falou com Mário Cruz, um português entre os premiados.

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Na edição de 2018 da World Press Photo, o júri teve de analisar 78.801 fotografias, uma delas é do português Mário Cruz e venceu o terceiro lugar na categoria Ambiente. A imagem foi captada nas Filipinas, na cidade de Manila, nas margens do rio Pasig.

Em entrevista à Renascença, o fotojornalista que trabalha para a agência Lusa explica que "a fotografia mostra um dos muitos rapazes que passam os dias a apanhar lixo no rio Pasig e mostra esse rapaz a descansar num colchão rodeado de lixo a flutuar no rio".

Esta imagem com vida contrasta com o estado do rio, declarado biologicamente morto na década de 90. "O rio tornou-se o esgoto de Manila porque estamos a falar de comunidades que não têm saneamento", explica o autor.

Para esta reportagem, Mário Cruz recorda que "tinha de atravessar o lixo". Durante um mês em que captou com a câmara as imagens diz-nos que tentou "viver o que aquelas pessoas vivem há anos. Habituaram-se a viver com o lixo". Nas fotografias vemos crianças a brincarem, mulheres a estenderem a roupa no meio do lixo, maioritariamente plástico. "É estranho quando se olha para o rio não se vê água", recorda Mário Cruz.


O fotojornalista português já não é um estreante na World Press Photo. Já em 2016 tinha conquistado o primeiro lugar na categoria de temas contemporâneos com imagens sobre a escravatura de crianças no Senegal. Nas suas palavras estas reportagens acontecem "de três em três anos ou de dois em dois" e são os momentos em que Mário Cruz diz ser "o fotógrafo que quero ser".

"O tempo de fotografar é o período mais curto do processo", explica o fotógrafo, que lembra que leva "mais tempo a preparar" a reportagem, a escolher o tema que quer documentar. E neste caso do rio Pasig, além de mostrar a fotografia vencedora na exposição patente em Lisboa no antigo Picadeiro do Colégio dos Nobres do Museu Nacional de História Natural e da Ciência, Mário Cruz tem em simultâneo outra exposição no Palácio Anjos, em Algés, em que mostra 40 fotografias desta reportagem intitulada "Living Among What's Left Behind".

"A verdade é que a World Press Photo distinguiu uma fotografia do trabalho, mas a reportagem é uma narrativa maior e em Algés estão 40 fotos e o livro [esgotado] tem 70. É sempre muito bom ter esta distinção porque traz visibilidade para o trabalho. Os temas que eu fotografo exigem essa visibilidade porque são temas escondidos ou ignorados, como é o caso" explica à Renascença Mário Cruz.

Dezoito anos de World Press Photo em Lisboa

A World Press Photo já contabiliza 62 edições e há 18 anos que anualmente aterra em Lisboa. Criada em 1955 pela organização com o mesmo nome, a World Press Photo não tem fins lucrativos e premia anualmente fotografias que lançam um olhar temas da atualidade.

Exemplo disso é a imagem vencedora deste ano. É da autoria do norte-americano John Moore e retrata uma criança hondurenha a chorar quando a mãe é detida na fronteira entre os Estados Unidos e o México. A imagem que correu o mundo pode agora ser vista em Lisboa.

A representante da World Press Photo que veio a Portugal para a abertura da exposição explica à Renascença: "Se visitar a World Press Photo durante vários anos percebe que há histórias que continuam. Agora vemos os migrantes na América Central, em anos anteriores víamos os migrantes na Europa. Acho que isso nos deve lançar um alerta para os conflitos no mundo", afirma a curadora Yi Wen Hsia.

Aprender a fotografar com os melhores

Apostada no fotojornalismo, a revista “Visão” associa-se, desde 2001 e uma vez mais, à World Press Photo e promove, além da exposição, uma série de iniciativas em torno da fotografia. À Renascença, Rui Tavares Guedes, director executivo da revista semanal, indica que já sábado, dia 27, o fotojornalista Mário Cruz vai participar numa conversa, a partir das 15h00, "sobre o seu trabalho e o trabalho premiado na World Press Photo".

Também até 19 de maio, e sempre aos sábados, há várias iniciativas "que levam as pessoas a olharem para a fotografia de uma forma diferente com os testemunhos de quem faz a fotografia a sua vida", diz Rui Tavares Guedes.

Entre as actividades programadas estão nomeadamente “workshops” de fotografia com fotógrafos de renome como "Luís Barra, fotógrafo da ‘Visão’ desde o início, que é muito experiente e que poderá até falar sobre a sua experiência recente em Moçambique onde esteve em reportagem no Furacão Idai"; também Nuno Sá "que é um fotógrafo premiado de fotografia subaquática com trabalho nos Açores absolutamente notável" irá participar.


Arlindo Carvalho, "fotógrafo da ‘Visão’ e especialista em retrato", irá também dar um dos “workshops” gratuitos. "Além de falarem os fotógrafos vão também depois acompanhar os visitantes pela área do museu e do Jardim Botânico" para ajudarem os interessados a recolher a melhor fotografia, indica o director executivo da “Visão”. Rui Tavares Guedes acrescenta ainda que um dos “workshops” será sobre a fotografia captada por telemóvel.

Além da exposição da World Press Photo, quem visitar o edifício do antigo Picadeiro do Colégio dos Nobres, na rua da Escola Politécnica poderá também ver uma outra exposição sobre os oceanos da responsabilidade da Fundação Galp.

A World Press Photo vai estar em Lisboa aberta ao público até dia 19 de maio, de quinta-feira a domingo (incluindo feriados) das 10h00 às 20h00. Os bilhetes estão à venda no local, no antigo Picadeiro - mesmo ao lado da famosa avenida das palmeiras do Jardim Botânico de Lisboa - e custam quatro euros. Para estudantes e seniores a entrada é de dois euros.

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