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Estudo

Falta tempo às crianças para brincar e brincam pouco com os pais

30 abr, 2019 - 08:00 • Marta Grosso

A maior parte dos mais novos brinca na escola e só 2% brincam na rua, revela estudo do Instituto Politécnico de Coimbra. Académicos mostram-se preocupados com tempo dedicado às atividades motoras na infância.

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A maioria dos pais acredita que brincar é importante para as crianças, mas dedica pouco tempo a essa atividade e condiciona o tempo de brincadeira dos seus filhos.

De acordo com um estudo elaborado pela Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Coimbra, em parceria com o Instituto da Criança e a publicação “Estrelas e Ouriços”, mais de metade dos pais inquiridos (69,7%) considera que o tempo é o principal ingrediente para que a brincadeira possa acontecer.

Mas, quando se lhes pergunta porque é que brincar é importante, é fraca a percentagem que aponta a diversão, o desenvolvimento motor e físico, a socialização ou o desenvolvimento de “habilidades úteis para a sua futura vida profissional”.

“Brincar é uma atividade muito séria do ponto de vista do desenvolvimento humano e especificamente do desenvolvimento infantil” e este “estudo reflete como nós condicionamos o tempo e o espaço em que as crianças brincam”, afirma à Renascença o professor Rui Mendes, porta-voz e coordenador do estudo, “o primeiro realizado em Portugal com uma amostra significativa”.

“O que constatamos é que a maior parte das crianças brinca, fundamentalmente, na escola, brincam muito pouco com os seus próprios pais e brincam muito pouco com os seus avós”. A maioria dos pais diz que o tempo é fundamental para as crianças brincarem. E é o que elas não têm. Nem os pais.

“Se fizermos as contas, uma criança de 8 anos que tenha sete horas de escola, uma higiene de dormida adequada, que é de oito horas, já lhe resta muito pouco tempo. Se este tempo tiver o jantar com os pais, se lhe acrescentar uma atividade de educação religiosa ou motora, como nadar, ou aprender uma língua ou estudar música, a criança fica com pouco tempo livre. Deste tempo que tem, se não for convidada a vir para a rua, estamos confrontados com uma situação em que o número de pessoas que visita museus é menor e mais gente a considerar que a visita aos centros comerciais ao fim-de-semana faz parte da rotina familiar”, realça Rui Mendes.

E, mesmo na escola, onde as crianças passam, no mínimo, seis horas, “o tempo que ela tem livre é reduzido, porque um intervalo de meia hora é para as crianças lancharem, fazerem as suas necessidades básicas, restando-lhes qualquer coisa como 10 ou 15 minutos para brincar”.

Subir às árvores “passou a ser quase uma atividade radical”

O estudo reflete como os adultos condicionam o tempo e o espaço em que as crianças brincam.

A maior parte dos pais, quando estão num parque infantil a acompanhar os seus filhos, “não consegue estar calada, porque quer condicionar o tipo de brincadeira que a criança faz”, afirma o coordenador do estudo.

A preocupação em possibilitar que as crianças brinquem mais tempo na rua, em contacto com os elementos naturais, tem vindo a crescer, uma vez que estas brincadeiras já não fazem parte do quotidiano, comparativamente com o que acontecia no passado.

E os pais parecem estar cada vez mais conscientes desta mudança: 41,2% afirmam que gostariam de mudar esta realidade.

Há hoje vários estudos que indicam que muitas crianças têm um “nível de iliteracia em relação a certas atividades motoras muito simples”, refere Rui Mendes.

“Não deixa de ser complicado termos crianças com 10 anos que não sabem andar de bicicleta ou com 9 anos com dificuldade em apertar os atacadores ou que têm 10 anos e têm dificuldade em descer uma árvore que tem um metro de altura. Ou seja, aquilo que era algo perfeitamente básico do ponto de vista motor, passou a ser quase uma atividade radical”, sublinha.

Já em 2013, as Nações Unidas alertavam para o facto de o valor do brincar no bem-estar, saúde e desenvolvimento da criança ser subestimado e desvalorizado – uma opinião também manifestada pelo Conselho da Europa e a própria National Geographic, que insiste no lema de que brincar é coisa séria.

Por outro lado, é dada primazia ao desporto e a atividades estruturadas que muitas vezes são impostas às crianças nos seus tempos livres, a que se junta a pressão para o sucesso académico, que leva as crianças a passarem pouco espaço para brincar em casa com os pais e outros pares – e assim comprometendo oportunidades para desenvolver a criatividade, a exploração e as competências sociais.

Por tudo isto isso, Rui Mendes deixa um conselho às famílias: criem “estratégias para aumentar as rotinas de brincadeira familiar” e “oportunidades para que as crianças possam aprender, no seu tempo e no seu espaço, sem interferência adulta significativa relevante”.

O estudo chama-se “Portugal a Brincar” e é apresentado nesta terça-feira pelo seu porta-voz e coordenador em Cascais.

Segundo os dados apurados, só 2% das crianças brincam na rua, mais de metade das crianças dedica uma hora a brincar com tecnologias, enquanto 1% dedicam três horas a esta forma de lazer.

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