03 jun, 2019 - 14:23 • Crónica de Patrícia Reis
Maria Agustina gostava de rir. Não será a característica mais badalada da escritora-génio mas será sempre no riso que a encontrarei.
Conhecer Agustina, privar com ela, foi uma imensa generosidade de outra escritora ímpar, a Inês Pedrosa, que me arrastou para um almoço no Grémio Literário, ali na Rua Ivens em Lisboa. Ainda estávamos no século XX. Arrastou-me porque eu estava coberta de timidez e vergonha, conhecer a Agustina era conhecer alguém que eu já amava sem ela o saber. Amava a forma como entendia o mundo e nos dava num romance a possibilidade de repensarmos as grandes inquietações da nossa alma.
Admirava infinitamente a sua maneira de driblar a linguagem, conhecedora profunda dessa pátria feita de palavras. O almoço foi o princípio de uma amizade e foi a surpresa de a conhecer tão próxima de mim.
Quando se conhece um génio espera-se distância e Agustina envolveu-me num imenso abraço de histórias e de riso, sempre o riso. Devo-lhe muito, devo-lhe tanto. Uma vez disse-lho e ela respondeu que os encontros na vida não são coisa pouca. Agustina era grande e será sempre um pouco minha.
* Escritora