03 jun, 2019 - 15:41 • Maria João Costa
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Estava um dia de sol e Agustina participava na Liber, a feira do livro onde a literatura portuguesa estava em destaque. Conversamos e não foi sobre livros. Recordo o seu vestido de flores miúdas, o cabelo apanhado, os sapatos de salto onde os seus pés pareciam mal caber. Na memória dos sentidos ficará o riso de Agustina, um riso com que terminava as frases da nossa conversa que não foi sobre livros, mas sobre gatos.
Agustina era felina, sedutora para alguns, com garras para outros. Talvez por isso nem todos lhe tenham dado a oportunidade de serem seus leitores. Mas esses são os que perdem. São os que não sabem que em cada livro de Agustina está o seu sangue, a sua vida, o seu português exemplar. Estão o Douro e as famílias do Norte, estão mulheres de carácter que só alguém com o nome invulgar como Agustina poderia criar.
Agustina era uma escritora porque queria, e sempre o quis. Agustina escrevia na sua letra miúda, a caneta azul, numa folha A4, sem linhas. E escreveu sempre direito sem linhas tortas. Raras são as correcções nos seus manuscritos que vi na casa com vista para a foz do Douro, quando, em 2012, com a jornalista Joana Beleza, fizemos a reportagem “O mundo de Agustina”. Na sala da casa, as gavetas guardam os seus manuscritos. Nas estantes estão fotografias, em caixas estão guardados pequenos tesouro como as cartas que trocava com Maria Helena Vieira da Silva ou Sophia de Mello Bryener Andersen, duas das suas amigas.
Agustina é hoje uma escritora viva, está nos seus livros e são tantos, há muito para descobrir. Agustina não é só "A Sibila". Agustina é "A Ronda Da Noite", "Os Incuráveis", "Mundo Fechado", mas é também as impressões de "Breviário do Brasil" ou "Crónica da Manhã".
Se há dúvidas de que devemos ler Agustina, deixo as palavras dela e a forma como definia a sua arte: “Há pouca gente que perceba que escrever é uma espécie de danação em que às vezes se têm encontros com Deus”. Vamos perceber porquê lendo Agustina?