28 jun, 2019 - 16:15 • Olímpia Mairos
O lobo-ibérico, que no passado já atormentou as gentes de Fafião, no concelho de Montalegre, é agora o protagonista central de um festival comunitário.
Sim, é na aldeia onde o lobo era levado para morrer que agora surge o Festival Aldeia de Lobos, uma iniciativa da Associação de Desenvolvimento de Fafião, também conhecida como Associação Vezeira de Fafião, que visa preservar o animal em vias de extinção.
“Longe vão os tempos em que esta espécie, hoje em vias de extinção, era inimiga da população de Fafião, uma das poucas aldeias do país que ainda conserva a tradição da vezeira”, refere a organização.
E na aldeia, em pleno Parque Nacional da Peneda-Gerês, ainda é possível ver, em bom estado de conservação, o fojo do Lobo, uma engenhosa armadilha, construído para apanhar os dizimadores dos rebanhos.
O fojo dos lobos era o nome dado a essa ratoeira, uma espécie de triângulo delimitado por muros de pedra com um fosso num dos vértices. Nesse buraco, dissimulado por vegetação, caíam os lobos.
Atualmente o lobo-ibérico está em vias de extinção e a Associação Vezeira está empenhada na sua preservação. O festival dedicado ao animal quer ser “mais que um festival, provocar impacto social na localidade, na sociedade em geral e, em última instância, promover uma mudança social”, refere a organização em comunicado.
Através do festival os promotores esperam “mostrar os recursos da região e sensibilizar a sociedade para a sua utilização de forma sustentada”.
Esta sexta e sábado, a figura central do evento é o lobo que dá o mote a uma peça de teatro, encenada pela Companhia de Teatro Filandorra, e a uma sessão de contos e lendas sobre a relação de Fafião com o lobo, a cargo da comunidade local.
De outras tradições da aldeia também se faz a festa, “ao som de fanfarras e com o aroma a conforto que irá sair pelas chaminés dos fornos fafiotos, com o workshop de produção de pão tradicional”.
Nas cortes onde os animais pernoitam vão estar exposições e instalações artísticas que incluem máscaras tradicionais da região, feitas de madeira.
Pelas ruas de Fafião, os visitantes terão oportunidade de ver exposições de fotografias retroiluminadas da autoria de Carlos Rio e Paulo Tavares, um mercado de produtos artesanais e fanfarras.
Mas também de muita música se faz o Festival Aldeia de Lobos. Serão dois dias de concertos e sets de DJ de artistas nacionais e internacionais. Ao mesmo tempo, há exposições de escultura, pintura e fotografia e instalações artísticas que estarão distribuídas pela aldeia de Fafião, assim como murais de arte urbana.
“Os visitantes poderão ainda participar em workshops sobre técnicas ancestrais de produção de artesanato, caminhadas por trilhos desenhados pela comunidade local, conhecer um mercado de produtos típicos produzidos na aldeia e provar refeições comunitárias cozinhadas por habitantes de Fafião”, explica a organização.
A programação do festival dá ainda a possibilidade de os visitantes acompanharem o processo de restauro da figura do santo padroeiro da aldeia, São Tiago, a realizar pelo grupo de conservação e restauro Dalmática, que se internacionalizou pelo restauro do retábulo da Catedral do Panamá.
“Não faltará também a recriação da mítica queimada galega pelo não menos mítico Padre Fontes, várias vezes protagonista deste ritual pagão praticado há vários séculos na região”, acrescenta a organização.
Durante os dois dias, os visitantes poderão acampar gratuitamente nas imediações, num local preparado para o efeito.