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São Carlos anuncia temporada com mais portugueses, após greve e mudanças internas

26 jul, 2019 - 12:53 • Maria João Costa com Lusa

A ministra da Cultura anunciou reforço de 660 mil euros para a Opart, que gere o teatro e a Companhia Nacional de Bailado.

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A vida do Teatro Nacional de São Carlos nos últimos meses foi tumultuosa, marcada por greves que afetaram espetáculos, a notícia da indisponibilidade do diretor artístico para continuar á frente da programação e a saída da administração da Opart – o organismo que gere o teatro de ópera português e a Companhia Nacional de São Carlos. Agora tenta-se virar a página. O São Carlos deu a conhecer a nova temporada e as apostas que aí vêm para os próximos meses.

No cartaz da temporada lírica estão sete óperas, duas delas com novas produções. Um dos destaques vai para a nova produção de “A Trilogia das Barcas” do compositor português Joly Braga Santos que regressa ao palco do teatro depois de uma ausência de mais de 30 anos. A obra, a partir dos autos das barcas de Gil Vicente, terá a direção de Joana Carneiro e encenação de Luca Aprea e sobe ao palco a partir de abril de 2020.

Na temporada sinfónica também ainda pensada diretor artístico, o britânico Patrick Dickie, que termina funções em agosto, haverá também uma aposta por artistas portugueses. No cartaz estão obras de Emmanuel Nunes e Eurico Carrapatoso e serão interpretadas, em estreia mundial, peças dos compositores Ana Seara (com "Sinfonia (des)concertante") e Pedro Moreira.

A presença portuguesa faz-se também ao nível dos intérpretes quer na temporada lírica, quer na sinfónica. Ao palco do São Carlos vão subir vozes como as da soprano Ana Quintans, Cátia Morezo, Luis Gomes, Marco Alves dos Santos ou artistas como Jorge Moyano ou Olga Prats e os solistas da Orquestra Sinfónica, Pedro Meireles, Irene Lima, Francisco Ribeiro e Paulo Guerreiro.

A temporada lírica inicia-se a 10 de outubro com a ópera italiana "La forza del destino", de Verdi, com encenação de David Pountney e que marcará o regresso do maestro Antonio Pirolli que irá dirigir o Coro do TNSC e a Orquestra Sinfónica Portuguesa.

Outro dos destaques vai para a opera “Orfeo ed Euridice” integrada nas comemorações do centenário do nascimento de Sophia de Mello Breyner Andresen que sobe ao palco a 6 de novembro, com a direção musical de Jane Glover.

Quanto à temporada sinfónica, a Orquestra Sinfónica Portuguesa, dirigida pela maestrina titular, Joana Carneiro, dá o seu primeiro concerto da temporada, fora de portas, a 22 de setembro no Centro Cultural de Belém, em Lisboa. Serão interpretadas obras de Beethoven e Strauss e "Concerto para violino, opus 14", do norte-americano Samuel Barber.

Outra das apostas da programação sinfónica será o compositor Gustav Mahler, de quem será interpretada "A Canção da Terra" - numa apresentação em diálogo com uma obra de Emmanuel Nunes - e ainda as sinfonias n.º4 e n.º9. Em abril, a Sinfónica vai participar, no CCB, no festival Dias da Música dedicado no próximo ano a Beethoven.

Aposta em programação para famílias

Uma das novidades da temporada agora anunciada é a aposta em programação dedicada para as famílias. O 'foyer' do São Carlos irá receber uma programação durante as manhãs, pensada para famílias e para públicos a partir dos 6 anos. Alguns dos espetáculos pensados são, por exemplo, "Uma história da trompa", de Laurent Rossi, a "Flauta mágica vista da Lua", de Mário João Alves, e "Trinta e seis histórias para entreter os filhos de um artista", de Francisco de Lacerda.

Ainda em fevereiro, o destaque vai para um concerto dirigido pelo maestro Pedro Neves, em que serão interpretadas peças de Pedro Moreira, Eurico Carrapatoso e, em estreia mundial, "Sinfonia (des)concertante", da compositora Ana Seara.

Mais dinheiro para a Opart, assegura a ministra da Cultura

Presente na apresentação da temporada esteve a ministra da Cultura. Graça Fonseca aproveitou o momento para anunciar que a Opart – o Organismo de Produção Artística que gere o são Carlos e a Companhia Nacional de Bailado terá um reforço financeiro de 606 mil euros para refundar a programação artística das estruturas que tutela.

Ao lado do novo presidente do conselho de administração do organismo, André Moz Caldas, que tomou posse no passado dia 5, depois da saída de Carlos Vargas e da sua equipa, a ministra referiu à agência Lusa que "é preciso arrumar organicamente esta casa e é preciso fazer alguma refundação artística. É preciso voltar a ter projeto artístico, a ter programação para famílias, ir para fora de Lisboa, é preciso voltar a ganhar mais públicos".

Numa altura em que o São Carlos continua sem ver nomeado um novo diretor artístico, a ministra Graça Fonseca, garantiu que o próximo diretor artístico, que deverá assumir funções em setembro, será português e anunciado em breve pelo Opart.

Quanto à maestrina Joana Carneiro, que esteve ausente da apresentação da temporada e que terminaria funções este mês, terá o mandato renovado como titular da Orquestra Sinfónica Portuguesa. Também ausente da apresentação esteve Patrick Dickie.

Anuncia-se assim uma nova etapa na vida do São Carlosdepois da greve que afetou os vários espetáculos do São Carlos, Orquestra Sinfónica Portuguesa e da Companhia Nacional de Bailado no mês de junho. As estruturas fizeram a paralisação para reivindicar uma harmonização salarial entre trabalhadores, um regulamento interno de pessoal, e melhores condições de higiene e de trabalho.

A greve foi suspensa pelos trabalhadores dias depois de a nova administração do Opart ter tomado posse. Na altura, os trabalhadores consideram que a nova administração demonstrou ter capacidade de "propor um caminho de compromisso e negociação", segundo palavras do Sindicato dos Trabalhadores dos Espetáculos, do Audiovisual e dos Músicos.

No final da apresentação da temporada, André Moz Caldas afirmou que a partir de setembro haverá novas reuniões formais entre o Opart e os representantes dos trabalhadores com vista a um "processo de coerência interna" sobre condições de trabalho.

Até lá está suspensa a aplicação, anunciada em junho pela tutela, de reposição das 40 horas semanais de trabalho para os trabalhadores da CNB, num entendimento do que deveria ser a harmonização salarial com os trabalhadores do São Carlos.

Numa altura em que a CNB ainda não apresentou a programação da próxima temporada e questionado sobre se espera um clima de tranquilidade a partir de setembro, André Moz Caldas respondeu: "Não tenho dúvidas de que a instabilidade laboral é uma coisa do passado".

Sobre obras no Teatro Nacional de São Carlos, Graça Fonseca referiu que estão orçamentados cerca de 120 mil euros para preparar, para 2020, a abertura de concursos para intervenção na estrutura do edifício e melhoria das condições de trabalho.

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