07 jan, 2020 - 16:27 • Maria João Costa
“Uma pequena superpotência musical”. É assim que o embaixador checo em Lisboa define o seu país, o mesmo do famoso compositor Antonín Dvořák, e que este ano será a nação homenageada da 16.ª edição do Festival Terras sem Sombra, que irá decorrer de 18 de janeiro a 12 de junho, em 13 concelhos do Alentejo.
O Festival Terras sem Sombra que este ano chega, pela primeira vez, a quatro distritos do Alentejo aposta em juntar a música erudita, ao património e a um conjunto de iniciativas de salvaguarda da biodiversidade.
Programados estão 18 concertos, que abarcam um repertório musical que vai da Idade Média até à atualidade, e irá acontecer em Vidigueira, Barrancos, Mértola, Arraiolos, Viana do Alentejo, Beja, Ferreira do Alentejo, Castelo de Vide, Sines, Alter do Chão, Santiago do Cacém e Odemira, mais três concelhos que no ano passado.
Na apresentação esta terça-feira em Lisboa, o diretor geral do evento, José António Falcão anunciou outra das novidades da edição deste ano. Há uma aposta no rejuvenescimento do público da música erudita, com o programa "Terras Kids" direcionado para crianças e jovens com idades entre os seis e os 16 anos e que tenta também incentivar o público familiar.
“A música erudita está a notar um envelhecimento dos públicos”, explicou Falcão numa sessão na Biblioteca da Academia das Ciências em Lisboa, acrescentando que “a Associação Europeia de Festivais, a que o Terras Sem Sombra pertence, deu um mandato para levar o público infantojuvenil” de volta à música.
Na apresentação, Sara Fonseca, a responsável por esta programação para os mais novos, deu a conhecer a mascote do “Terras Kids”, uma ovelha de lã feita por artesãos alentejanos e explicou que irão pegar nas famosas Fábulas de La Fontaine, para pensar as atividades para os mais pequenos que irão decorrer em locais como Nodar, Beja ou Castelo de Vide.
Com o mote "Uma Breve Eternidade: Emoções e Comoções na Música Europeia (éculos XII-XXI)", esta edição do Festival Terras Sem Sombra, vai itinerar por vários concelhos, entre eles quatro novidades: Castelo de Vide, Arraiolos, Alter do Chão e Viana do Alentejo.
O programa, que está todo detalhado na página de internet terrassemsombra.pt, foi dado a conhecer na conferência pelo espanhol Juan Angel Vela del Campo, o diretor artístico do festival que começou por destacar os concertos de músicos checos que irão apresentar “a quinta essência da música checa”.
Além do concerto pré-inaugural, que irá esta semana levar o Grupo Coral Os Bóinas, de cante alentejano, à cidade de Praga, no Alentejo haverá também um diálogo entre a pianista Ana Telles e a flautista checa Monika Steitová que tocarão em Arraiolos, na Igreja do Convento de Nossa Senhora da Assunção, a 29 de fevereiro.
Outro dos destaques vindo da República Checa, nesta embaixada musical ao Alentejo, será o Tiburtina Ensemble que tocará a 18 de janeiro na Igreja Matriz de São Cucufate, em Vila de Frades (Vidigueira) tornando esta vila “na capital da música coral”, classificou o diretor artístico.
Juan Angel Vela del Campo destacou também a presença dos grupos checos Clarinet Factory que tocará jazz, a 16 de maio, no Castelo de Sines, e os Smetana Trio, que vai estar a 27 de junho na Igreja Matriz de Santiago Maior, em Santiago do Cacém.
Outra das novidades do programa do Terras Sem Sombra é que haverá este ano, a 13 de junho, um espetáculo surpresa em lugar a anunciar.
O diretor artístico que destacou este festival como um dos melhores da Europa, ironizou que “não se ouve uma tosse ou um caramelo a ser desembrulhado nos espetáculos, ao contrário do que acontece nos grandes auditórios da Europa”.
No cartaz há também espaço a revelações para o público nacional. Exemplo disso é o jovem violoncelista Pedro Bonet, de 22 anos, que venceu este ano um importante prémio em Espanha e que toca, a 1 de fevereiro, no Cineteatro de Barrancos. Nas palavras do diretor artístico, este músico “está a arrasar agora em vários países” e apresenta-se com um programa onde irá tocar Bach.
Outro dos destaques é o contratenor José Hernández Pastor que “se dedica a concertos a cappella de música antiga”, como disse Juan Angel del Campo, que explicou que este intérprete “gosta de se passear entre o público para dar a sentir a dimensão espiritual”. O espanhol irá atuar a 15 de fevereiro, em Mértola, na Igreja Matriz de Nossa Senhora de Entre-as-Vinhas.
Mas nem tudo é música. Este Festival Terras Sem Sombra empenhou-se desde a sua fundação na recuperação do património do baixo Alentejo e continua hoje, 16 anos depois, a apostar em olhar o património de génese alentejana.
Uma das sessões programadas para 1 de fevereiro, em Barrancos, é dedicada ao Barranquenho; também em Arraiolos, a 29 de fevereiro, irão olhar a arte da tapeçaria ou em Sines, a 16 de maio, irão dedicar uma sessão às artes tradicionais da pesca.
Além da música e o património, o Terras Sem Sombra dá também destaque à salvaguarda da biodiversidade. Entre as iniciativas programadas estão ações de salvaguarda dos laranjais da Vidigueira; o rio Ardila, que nasce em Espanha e desagua na margem esquerda do rio Guadiana, perto de Moura, contará com uma ação em torno da flora e fauna da região; já em Mértola haverá uma iniciativa de sensibilização sobre agricultura sustentável e em Alcáçovas a ação será sobre a proteção da raça bovina Garvonesa ou Chamusca.
O uso alimentar da bolota colhida nos montados de Arraiolos, a produção artesanal da cal, na freguesia de Trigaches, em Beja, ou o cavalo Lusitano são outros dos temas nestas ações de salvaguarda da biodiversidade alentejana promovidas pelo Festival Terras Sem Sombra organizado pela associação Pedra Angular e que conta com diversos apoios, desde a Direção-Geral das Artes, a apoios mecenáticos de diversas entidades privadas e públicas.