23 mar, 2020 - 19:41 • Maria João Costa
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“A situação é absolutamente dramática”, o diagnóstico é feito por João Alvim, o presidente da APEL – a Associação Portuguesa de Editores e Livreiros. Em entrevista à Renascença sobre o atual momento vivido no setor do livro, o responsável da APEL revela que a “95 por cento da atividade livreira está parada”. Este panorama é traçado no dia em que a ministra da Cultura indica que as livrarias podem “vender à porta, no postigo”.
Numa altura em que muitas cadeias de livrarias, e livrarias independentes anunciaram o encerramento e em que as principais editoras a operar em Portugal anunciaram a suspensão da produção de novos livros, o setor vive dias difíceis.
“Resta apenas o circuito on-line” explica João Alvim que refere, no entanto que a venda digital “tem uma expressão pequena em Portugal”. Para o presidente da APEL “a atividade do livro parou, pura e simplesmente, na totalidade”. “Se não há venda, não há produção”, diz Alvim.
Questionado sobre as palavras de Graça Fonseca que considerou os livros estão incluídos nos bens de primeira necessidade e que as livrarias podem por isso vender à porta, o presidente da APEL levanta algumas questões. Desde logo quanto a livrarias que funcionam dentro de centros comerciais, entretanto encerrados.
“Não sei se os livreiros terão capacidade para o fazer ou não. Até porque há muitas livrarias situadas em centros comerciais que encerraram. Nem sei se podem trabalhar nessas condições. As livrarias de rua poderão certamente fazê-lo, mas não sei se o vão fazer, porque isso implica também ter empregados disponíveis. Admito que uns fá-lo-ão, outros não o farão. Mas pelo menos é uma tentativa de poder dar alguma satisfação às pessoas que já têm tantas limitações neste momento.”
Ministério da Cultura cria linha de apoio de emerg(...)
João Alvim que considera que este momento de recolher obrigatório “é uma boa oportunidade para retomar a leitura”, diz em entrevista telefónica à Renascença que algumas livrarias que se dedicam apenas à venda de livros estão agora a braços com uma situação crítica.
“O encerramento de atividade deixa-os com custos fixos como por exemplo, as rendas, para as quais não está previsto qualquer apoio – ao contrário do que acontece em outros países”. Alvim acrescenta que “as rendas já vêm, nos últimos anos, a subir e têm vindo a tornar-se numa enorme dificuldade que tem levado ao encerramento de muitas livrarias”.
“Também os distribuidores de livros estão totalmente parados”, afirma o presidente da APEL numa altura em que a associação também já decidiu adiar para o final de agosto, inicio de setembro a realização da Feira do Livro de Lisboa. Também os editores travaram a fundo na atividade. Não se têm publicado novos livros, os projetos estão á espera que a pandemia do novo coronavírus passe.
“Ao pararem as editoras há um impacto num número imenso de pessoas. Vai desde os autores que não têm os seus livros publicados e não recebem as respetivas receitas” explica Alvim que indica que também “quem intervém na preparação dos livros que vai dos tradutores aos maquetistas passando pelos capistas e por fim as gráficas” tudo “fica parado, sem trabalho”.
Segundo as palavras do responsável da APEL, também ele um editor, a situação vivida mostra “toda uma fragilidade deste setor que é terrível”.
Confrontado com a linha de emergência de um milhão de euros hoje disponibilizada pelo ministério da Cultura, o representante dos editores e livreiros considera que “não se aplica ao caso” deste setor. João Alvim defende que esta área do livro deveria beneficiar de outro tipo de apoios.
Aos livreiros deveria ser dada uma ajuda “com os compromissos dos custos fixos que eles não poderão suportar sozinhos quando têm de ter as portas fechadas durante três meses” defende o responsável da APEL que para os editores propõe outro tipo de apoio.
No seu entender o Governo pode ajudar de das formas: “Lançando programas do desenvolvimento de novos projetos editorias. Mas também era uma boa oportunidade para serem feitos reforços de livros nas bibliotecas públicas e escolares. A quantidade de livros disponíveis tem vindo a reduzir e as compras têm diminuído ao longo dos anos, por isso essa poderia ser uma grande ajuda ao setor”, diz João Alvim.