15 mai, 2020 - 06:30 • Maria João Costa
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Reconhece que é um privilegiado, mas Nuno Lopes está preocupado com a forma como a classe artística tem sido afetada pelos efeitos secundários da pandemia de Covid-19.
Em entrevista à Renascença, o ator que se estreia esta sexta-feira na série “White Lines”, no serviço de streaming Netflix, faz uma denúncia: “há muitas pessoas da minha classe que estão neste momento em situação de fome, mesmo!”
Nuno Lopes, que representa o papel de Boxer na série realizada por Álex Pina, o mesmo produtor da famosa “Casa de Papel”, alerta que “é muito preocupante o momento que vivemos”.
O artista fala numa “situação horrível” e lamenta o constante estado de precariedade, agravado pela pandemia de Covid-19. “A classe cultural em Portugal já é precária desde sempre, pior fica quando há uma crise e quando não temos sequer a condição de intermitentes, como há noutros países”, fala Nuno Lopes da experiência do que vê lá fora.
Entrevista
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O ator alerta para o facto de estes profissionais não terem “sequer direito a subsídio de desemprego”. Segundo Nuno Lopes, esta precariedade “significa, que quando não estão a trabalhar, como agora, porque não podem, não têm como ganhar a vida”. É por isso que o ator que tem vindo a ganhar destaque na cena internacional, afirma, sem sombra de dúvidas, que “há muitas pessoas” da classe artística “que estão neste momento em situação de fome”.
Preocupado, mas considerando-se um “privilegiado” nesta fase, Nuno Lopes também viu o seu trabalho afetado. “Tive de parar um filme que estava a fazer com o Marco Martins. Voltamos para Portugal e como as condições monetárias que a cultura tem nunca são grandes, estamos neste momento a perceber como é que podemos continuar”, conta o ator.
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Nuno Lopes, que nesta fase da carreira está a gostar do desafio de fazer televisão, diz que “tem sempre saudades do palco”. O ator conta que o projeto cinematográfico com o realizador Marco Martins já tinha “cenários construídos, viagens pagas com o pouco dinheiro que havia para fazer o filme”, por isso questiona-se sobre como e quando poderão voltar às rodagens.
Nuno Lopes lembra ainda que “tinha um outro projeto em França” e esse vai depender também da reabertura das fronteiras “e de como será a evolução do vírus no mundo”.
A pandemia de Covid-19 tem afetado muito o setor das artes, um inquérito recente promovido pela Fundação GDA (Gestão dos Direitos dos Artistas) revelava que a maioria dos espetáculos cancelados desde março, devido à Covid-19 eram de música e que “por cada espetáculo cancelado ficaram sem rendimento, em média, 18 artistas, 1,3 profissionais de produção e 2,5 técnicos”.
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Até 31 de março, segundo os dados recolhidos pelo inquérito foram cancelados 4.287 espetáculos, sendo que, 69%, ou seja 2.964 eram de música, 1.048 de teatro e 100 de dança. O inquérito mostra também que foram cancelados outros 175 espetáculos “de outra natureza”.
Também a Associação de Promotores de Espetáculos, Festivais e Eventos (APEFE), já veio dizer que foram adiados cerca de 27 mil espetáculos entre março e final de abril.
Na quarta-feira, Marcelo Rebelo de Sousa recebeu o Movimento pelos Profissionais do Palco que apontou ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, as dificuldades vividas pelos profissionais das artes e sobretudo a preocupação com as incertezas futuras.