20 mai, 2020 - 22:52 • Pedro Mesquita , Filipe d'Avillez
A cientista portuguesa Elvira Fortunato é apontada como candidata ao Nobel da Física, mas diz que isso é, para ela, uma miragem.
Em entrevista à Renascença, a vice-reitora da Universidade Nova de Lisboa recorda que a maioria dos galardoados são mais velhos e que ela ainda tem um longo caminho para percorrer.
A investigadora tornou-se mundialmente conhecida em trabalhos pioneiros na chamada eletrónica de papel e tem-se destacado, nos últimos anos, na chamada eletrónica transparente.
“Estamos a falar de um trabalho que se insere numa área que é a eletrónica transparente e basicamente aquilo que nós fizemos – e fomos pioneiros a nível mundial – em conjunto com um grupo americano e outro japonês, foi utilizar materiais completamente diferentes, sustentáveis, em alguns casos de origem renovável, para aplicações de eletrónica.”
A tecnologia aplica-se a aparelhos que têm mostradores, como televisões, tablets ou telemóveis. “Cada pixel, que mostra as imagens, é comandada por um transistor. E esses transistores, até aqui, têm sido feitos por um material que é o silício. Para a nova geração de mostradores o silício não responde. Daí terem surgido estes materiais que são óxidos metálicos, que têm muitas vantagens: são materiais amigos do ambiente, sustentáveis.”
Para além das vantagens tecnológicas e ambientais, estes novos transístores são ainda substancialmente mais baratos.
“O custo é muito menor do que os atuais. Posso até reciclar estes materiais. A tecnologia para eu fazer estes circuitos integrados é muito mais amiga do ambiente, sem sombra de dúvida, do que a tecnologia convencional”, explica.
Questionada sobre a possibilidade de vir a ganhar um prémio Nobel, a investigadora é modesta. “Isso para mim é uma miragem. É evidente que fico contente, e fico contente por ver a área em que trabalho ser reconhecida e ter impacto. Eu sou engenheira e gosto que aquilo que faço tenha impacto na sociedade.”
“Ainda sou relativamente nova e geralmente os galardoados têm muito mais idade. Acho que ainda tenho um longo caminho a percorrer”, diz ainda.