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Os quilómetros que um maestro faz para um concerto na Casa da Música

27 mai, 2020 - 14:45 • Maria João Costa

A Casa da Música retoma os concertos a 1 de junho, com novas regras para espetadores e músicos. Os reajustes na programação obrigam a orquestras reduzidas em palco, público com máscaras e logística de desinfeção.

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A Casa da Música, no Porto, é uma das salas de espetáculos que retomam a atividade já na segunda-feira. O concerto de reabertura vai ter entrada gratuita, mas é preciso usar máscara e reservar o bilhete previamente. A Sala Suggia vai ter a lotação habitual de 1.200 lugares mais limitada devido às novas regras. Também no palco, o distanciamento é regra. Sem possibilidade de juntar uma grande orquestra, a Casa da Música optou por um programa à medida.

O concerto de segunda-feira vai contar com a Orquestra Barroca, que irá interpretar peças de William Corbett, Wilhelmine von Bayreuth, Henry Purcell, Antonio Vivaldi, John Blow e Pedro Jorge Avondano. A programação teve de ser refeita, conforme explica, em entrevista à Renascença, o diretor artístico.

António Jorge Pacheco explica que o concerto de reabertura “vai contar com 12 músicos". "E é bom para começar a testar o plano, as zonas de circulação entre salas de ensaio, palco e camarins", assinala.

Este responsável explica que a “própria arquitetura da Casa da Música é extraordinária, mas complexa, porque tem muitos circuitos possíveis e muitos pontos onde há possível contato entre o público, os técnicos e músicos”. Apostados em evitar esses cruzamentos, os responsáveis da Casa da Música admitem que, depois deste teste do primeiro concerto, poderão “introduzir alguma correção”.

No redesenhar de toda a programação, a Casa da Música optou por não vender bilhetes. Todas as atividades são de entrada livre em junho, mas o público deverá, previamente, marcar o seu bilhete. Entre espetáculos, será feita a desinfeção da sala, do palco e das zonas onde os artistas e publico circulam.

A logística está preparada, assegura António Jorge Pacheco, que indica que terão “máscaras à entrada, para o público que possa eventualmente se esquecer” de trazer. Haverá zonas de desinfeção das mãos e, “entre cada concerto, tem de haver uma desinfeção total da sala”. Esta medida “obrigou a criar um espaço entre cada evento, de várias horas, para que se possa fazer estas operações todas”.

Também o palco será todo desinfetado e “as cadeiras, as estantes e os instrumentos” irão para uma sala para serem limpos depois de cada concerto, segundo o diretor artístico.

Programa alterado à nova realidade


Depois do primeiro concerto, estão já previstos outros ao longo da semana. A Casa da Música retoma os habituais concertos das terças-feiras ao final da tarde, às 19h30. O ciclo “Novos Valores” vai juntar projetos e músicos portugueses na Sala Suggia e terá entrada livre.

A 5 de junho, sexta -feira, às 21h30, haverá a apresentação de “novos valores”, isto é, “artistas mais jovens que estão a aparecer e merecem ser divulgados”.

Estes concertos decorriam no café da Casa da Música e, agora, terão lugar na sala principal. Este "será um momento de grande responsabilidade para estes jovens músicos”, refere António Jorge Pacheco, que sublinha que poderá “ser um estímulo adicional para estes jovens que estão em inicio de carreira”.

No sábado, dia 6, regressam as formações musicais da casa, a Orquestra Sinfónica do Porto e o Remix Ensemble. Para o espetáculo da Orquestra, o maestro titular Baldur Brönnimann, que mora em Madrid, vai ter de fazer uma longa viagem para chegar ao Porto.

O diretor artístico da Casa da Música está apostado em manter os compromissos que tinha. "[Para] o primeiro concerto da Sinfónica, com o maestro titular, chegámos a pensar que não seria possível ele vir, por estar a fronteira fechada e não haver voos de Madrid para o Porto”, revela.

Porém, pela música, tudo é possível e o maestro Baldur Brönnimann “vai ter de apanhar um comboio de Madrid para Santiago de Compostela e depois vir de carro com outro músico que virá de lá tocar”. Poderão atravessar a fronteira “porque têm contrato de trabalho” e têm a “indicação de que vêm trabalhar” para o Porto, explica Pacheco.

No domingo, às 12h00, será, também, retomada a atividade do serviço educativo. Será sempre neste horário, aos domingos, durante o mês de junho, que a Casa da Música regressa aos espetáculos pensados para famílias.

"Obviamente, os cuidados e as medidas serão redobrados, porque vamos ter crianças e estamos a acautelar tudo para que as pessoas se sintam seguras e disponíveis para usufruir da música que temos para oferecer”, explica António Jorge Pacheco.

Reportório de grande orquestra suspenso


A pandemia do novo coronavírus trouxe vários desafios às grandes salas de espetáculo. Não só à Casa da Música, como a todas as salas pela Europa, nomeadamente no que toca ao reportório de grande orquestra.

Agora, por causa da distância que tem de haver entre músicos, as orquestras têm de se apresentar em palco com formações reduzidas. “As orquestras só podem ter 32 músicos no máximo”, indica o diretor artístico da Casa da Música.

Na entrevista, que poderá ouvir no programa Ensaio Geral, da Renascença, António Jorge Pacheco explica que é, agora, impossível juntar os mais de 100 músicos numa orquestra que pode por exemplo, exigir “uma sinfonia de Mahler”.

“Há um certo reportório que está vedado em toda a Europa, que é o grande reportório sinfónico romântico e pós-romântico”, diz António Jorge Pacheco, que indica que exige “90 a 100 músicos e às vezes mais”.

“Isso nesta fase não podemos realizar”, afirma este responsável da Casa da Música, que teve de optar por outro tipo de formação musical e reportório para agora levar a palco.

"Um enorme vazio" vai ser enfim preenchido


A experiência do confinamento também trouxe outras vantagens. A Casa da Música encontrou na internet um espaço para se manter ativa durante o estado de emergência e calamidade. O diretor artístico, António Jorge Pacheco, explica que ganharam público com isso, mas reconhece que os músicos já têm saudades de tocar.

“Para muitos, para não dizer para uma grande maioria, [esta paragem] foi uma grande frustração. Eles estão habituados a tocar em conjunto todas as semanas. Encontramos outras formas deles participarem através das redes sociais, gravando eles próprios em casa obras ou excertos. Mas estão com muita vontade de voltar à música.”

António Jorge Pacheco refere-se a este momento de travagem a fundo na atividade como “um enorme vazio”, que começa a agora a ver uma luz ao fundo do túnel.

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