08 jun, 2020 - 08:10 • Liliana Monteiro
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A petiscada da centenária Voz do Operário, em Lisboa, deveria arrancar já esta segunda-feira, mas os planos foram congelados devido ao surto de Covid-19. Vítor Agostinho, diretor-geral da coletividade, diz à Renascença que decidiram esperar por novas orientações do Governo, mas já está tudo pronto para celebrar os Santos Populares em segurança, sem os ajuntamentos de arraiais passados.
“Chamamos petiscada para não chamar arraial”, explica Vítor Agostinho, garantindo que a Voz do Operário tem “condições de abrir o espaço e que o distanciamento social está assegurado”.
“As pessoas são atendidas à mesa e não em modo self-service, temos maior controlo sem ser tudo ao molho. Será diferente dos outros anos, mas na mesma com cheiro a Lisboa, cheiro a sardinha e caracóis como estamos habituados nesta altura do ano.”
“O Beco” que acolhe os arraiais, afirma Vítor Agostinho, “tem capacidade para 200 pessoas” e todas as condições, “com mesas afastadas, garantindo o distanciamento social para 95 pessoas”.
A Voz do Operário é uma Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS) e considera que esta é uma forma de “ajudar e ser ajudada”.
Para garantir que tudo corre bem e não há filas, “as marcações são feitas por reserva para as pessoas não chegarem à Voz do Operário e o espaço estar cheio”, adianta o diretor-geral, garantindo que tudo está planeado: “as pessoas não vão entrar pela porta normal, mas pela porta principal por causa das desinfeções. Depois é irmos comer as sardinhas!”.
As reservas estão praticamente esgotadas. “Temos muitas marcações a partir de segunda-feira, a semana do Santo António. Se não está esgotado, está praticamente esgotado, está tudo com uma vontade imensa de conversar e juntar família nos Santos Populares”.
A festa era para começar já esta segunda-feira, mas na sequência das novas orientações foi preciso “remarcar a sardinhada e caldo verde para a semana a seguir”, argumenta.
As mesas são para um máximo de seis pessoas, mas antes eram de 12. “Se a família for de sete ou oito admitiremos, mas grupos de amigos não. Embora nunca sabemos se as pessoas são familiares ou não, mas temos estado a chamar a atenção das pessoas”, explica Vítor Agostinho.
Ao serviço vão estar no mínimo 12 pessoas. “Temos mais de 100 voluntários disponíveis para ajudar, porque é assim que se trabalha, sócios, amigos e trabalhadores da Voz do Operário que se disponibilizam a dar uma mãozinha”.
O diretor-geral da Voz do Operário considera que, desta forma, conseguem festejar aliados ao respeito por quem manda e faz recomendações para o bem de todos.
Neste período que se avizinha dos Santos Populares, Alfama, Mouraria e outros bairros lisboetas vão ter as ruas mais vazias, sem bancas a vender o tradicional manjerico ou a sardinha assada, mas os restaurantes mantêm ementa típica de arraial.
O restaurante “Esquina de Alfama”, por exemplo, vai ter sardinha assada e caldo verde, mas avisa desde logo que as mesas têm de estar separadas e os grupos só podem ser no máximo de 10 pessoas.
Também o restaurante “Manjerico Alegre” alerta todos os que ligam que será melhor fazer marcação e que os grupos devem rondar as seis a dez pessoas da mesma família, o que não é fácil de verificar, admite a gerência. Da cozinha nas noites de Santo António vão sair febras, sardinha e caldo verde.
O “Páteo Alfacinha”, também muito procurado nos Santos Populares por ser uma recriação de um típico bairro lisboeta, vai abrir, para já, apenas um dos restaurantes.
“Habitualmente o restaurante ‘A Horta’ tem capacidade para 60 lugares, reduzimos a capacidade para 28 por forma a garantir o distanciamento que é exigido. Tem uma grande vantagem porque é uma área ventilada, ao ar livre e privada”, explica Luís Gonzaga, o responsável comercial do espaço.
Vão aceitar grupos até 20 pessoas. Quanto a animação, explica Luís Gonzaga, “podemos ter fado ou um churrasco privado porque o espaço tem essa possibilidade, mas a animação é um serviço pré-contratado, não aberto a todo o público, isso seria precoce e podia correr mal”.
Quem entrar neste restaurante encontrará vários pratos tipicamente portugueses. “Quem aqui vier sentirá logo o cheiro da grelha e aos manjericos. Teremos a tradicional sardinha e prego de bochecha de porco preto”, explica Luís Gonzaga, que acrescenta: “a diferença é ser um pátio lisboeta seguro porque é privado e a pessoa pode usufruir da mesma experiência de 2019, sem confusão e com a máxima segurança possível”.