19 jun, 2020 - 17:30 • Pedro Mesquita
O que esperar de um álbum onde, num só verso, cabem Anne Frank, Indiana Jones e Rolling Stones? O que esperar deste disco para ouvir e ler?
Miguel Ângelo, vocalista dos Delfins, começou a ouvir Dylan desde muito novo e, como admirador confesso, já saboreou o álbum, do primeiro ao último minuto: "É um disco importante, não só porque é o primeiro a ser lançado depois do Nobel da Literatura, mas também porque é o primeiro disco de originais desde o 'Tempest', que é de 2012".
Curiosidade ainda mais aguçada pela idade de Robert Allen Zimmerman, o nome verdadeiro de Dylan: 79. O cantor, compositor, escritor, ator e pintor marca a cultura mundial há mais de 50 anos. Bob Dylan tem agora 79 anos e, como sublinha Miguel Ângelo, "continua na estrada."
"Infelizmente, viu a sua digressão interrompida, pela COVID 19, mas é de realçar que continua numa espécie de 'tour' que nunca acaba, como ele próprio diz, e este é já o seu 39.º disco de estúdio", completa Miguel Ângelo.
A carreira é longa e neste primeiro álbum depois de um Nobel da Literatura Bob Dylan apostou numa abordagem diferente: "Logo que ouvi o primeiro tema, um tema enorme, achei logo muito interessante. Procurou uma abordagem um pouco mais literária, não sei se impulsionado pelo Nobel da Literatura. As referencias doutros cantores, de outras figuras das artes, da cultura, escritores, estão por todo o disco. Num só verso deste disco, falar de Anne Frank, Indiana Jones e dos Rolling Stones - que até rima - torna o disco muito curioso e, se calhar, uma peça diferente."
O registo adotado por Dylan, neste "Rough and Rowdy Ways", também resulta numa marca a ter em conta, explica Miguel Ângelo: "Mais calmo, mais a falar do que a cantar - acho que as limitações da sua voz também o fizeram repensar um bocadinho a interpretação dos temas - mas é engraçado como o seu ponto de vista, nomeadamente em relação ao Século XX, continua a ser muito acutilante e isso é a tradição do cantor Folk de usar as palavras e a guitarra como uma arma. Isso continua bem presente no Dylan".
Como sintetizar, então, o último álbum do nobel da Literatura? "É, se calhar, um disco mais longo, com canções de 14 ou 16 minutos, por vezes. É um disco para ouvir e ler".