15 jul, 2020 - 08:00 • Maria João Costa
É um dos primeiros projetos de sala de espetáculos a nascer na era da pandemia covid-19. O novo auditório exterior do Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa, foi desenhado pelo arquiteto João Luís Carrilho da Graça e segue as novas regras de segurança e distanciamento impostas pelo tempo pandémico que vivemos. Em entrevista à Renascença, o arquiteto que venceu o Prémio Pessoa 2008 fala do “desafio principal” que foi cumprir essas regras.
“Há sempre dois metros entre as pessoas que estão a assistir. Mas pela forma de anfiteatro como se organiza, há uma certa individualização dos lugares, normalmente aos pares”, explica Carrilho da Graça a partir do seu atelier.
Segundo o arquiteto, quem se sentar nos blocos de cortiça com que é feito este auditório vai experimentar, “ao mesmo tempo, um sentido coletivo dentro daquela praça”.
Em tempos de distanciamento social e isolamento, a cultura ganhou outros contornos, no entanto, “esse sentido de conjunto é sempre importante para qualquer espetáculo a que se assiste”, refere Carrilho da Graça, que conclui: “é o facto de não estarmos sozinhos, de vermos o palco e o conjunto das outras pessoas que aplaudem e reagem”.
Carrilho da Graça confessa que estes tempos de confinamento lhe têm sido “difíceis” por sentir falta do trabalho de equipa. E abraçou este desafio do CCB com muito agrado. Nesta entrevista à Renascença explica que sempre gostou de “fazer coisas efémeras”.
O auditório tem um “palco muito generoso”, descreve o programador do CCB, Delfim Sardo. Tem “12 metros por 12” e uma plateia para quase 400 pessoas.
O grande anfiteatro grego de cortiça
Como o pátio superior do CCB, onde fica instalado o auditório, “é todo revestido a pedra, e tem uma ressonância mais ou menos intemporal”, Carrilho da Graça quis apostar “em dar uma certa presença e importância ao palco”.
Depois de visitar o espaço o arquiteto afirma: “a sensação que me dá é que estamos numa espécie de anfiteatro grego feito em blocos de cortiça”.
Os blocos de aglomerado oferecidos pela Corticeira Amorim “têm uma dimensão muito semelhante à das pedras que revestem o pátio”, descreve Carrilho da Graça, e fazem-lhe recordar os tempos de infância.
Natural de Portalegre, o arquiteto cresceu “ao lado da Fábrica Robinson onde eram fabricados aqueles enormes paralelepípedos de aglomerado de cortiça”.
Ritmos de Cabo Verde abrem o CCB de verão
A programação de verão do CCB arranca já esta quarta-feira com o espetáculo “Fogo-Fogo”, às 21h00, e reúne no palco o grupo de Francisco Rebelo, João Gomes, Márcio Silva, Danilo Lopes e David Pessoa. É um concerto que irá ter os ritmos do funaná e outros estilos de dança de Cabo Verde.
Tal como toda a programação de verão do CCB que tem como lema “fazer o melhor dentro do que é possível”, aquele espaço de cultura apostou numa política de bilheteira acessível. Todos os concertos, sessões de cinema e outras atividades têm uma entrada de cinco euros.
No cartaz, há concertos que vão do jazz à pop, passando pelo fado e música clássica, há também conversas, atividades para os mais novos, Yoga, Tai Chi Chuan, Pilates e Showcooking. Aberta mantêm-se também a exposição de arquitetura da Garagem Sul intitulada “O Mar é a Nossa Terra”.
“É uma programação com um patamar de qualidade muito exigente, mas que em simultâneo pode corresponder a apetências muito diversas do público”, explica Delfim Sardo sobre o cartaz que pensaram para este verão afetado pela pandemia do novo coronavírus.