A escritora Lídia Jorge foi distinguida esta sexta-feira com o Prémio da Feira Internacional do Livro de Guadalajara, de Literatura en Línguas Românicas. O galardão mexicano junta-se ao Prémio Tributo de Consagração Fundação Inês de Castro/2019 atribuído, em julho passado, à obra de Lídia Jorge.
A autora, nascida há 74 anos em Boliqueime, no Algarve, foi já distinguida com outros galardões, entre eles o Grande Prémio de Literatura dst (2019), o Prémio Vergílio Ferreira (2015), o Prémio Luso-Espanhol de Cultura (2014), o Prémio Internacional de Literatura da Fundação Günter Grass (2006), o Grande Prémio de Romance da Associação Portuguesa de Escritores e o Prémio Correntes d'Escritas (2002), o Prémio Jean Monet de Literatura Europeia (2000) e o Prémio D. Diniz da Casa de Mateus (1998).
Lídia Jorge é a 30.ª distinguida com o principal prémio de literatura da Feira de Guadalajara.
Júri destaca a "imensa humanidade" da carreira de Lídia Jorge
O júri do Prémio da Feira Internacional do Livro de Guadalajara, que hoje distinguiu a carreira literária de Lídia Jorge, realçou a sua "originalidade e subtileza de estilo", a independência da obra e a "imensa humanidade" da escritora portuguesa.
O júri deste ano foi constituído pelo professor Mario Barenghi, da Universidade Bicocca, de Milão, Itália, pela escritora e crítica literária Anna Caballé, assim como pelo escritor Javier Rodríguez Marcos, ambos de Espanha, pela investigadora Luminita Marcu, da Universidade Bucareste, na Roménia, pelaa editora livreira francesa Anne Marie Métailié, pelo docente mexicano Rafael Olea Franco, da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, e pela escritora e ensaísta brasileira Regina Zilberman.
O júri destacou "o nível literário" de Lídia Jorge, e o modo "como a sua obra novelística retrata a forma como os indivíduos enfrentam os grandes acontecimentos da História".
Lídia Jorge recorda que a literatura é um ato de resistência
A escritora portuguesa Lídia Jorge afirmou hoje que "a literatura é um ato de resistência absolutamente indispensável", em tempos de pandemia, e manifestou-se "muito feliz" por receber o Prémio de Literatura da Feira Internacional do Livro de Guadalajara .
Na mesma sessão de anúncio, realizada 'online' pela feira, Lídia Jorge afirmou que este prémio literário -- que distingue o conjunto da carreira -- surge "num momento muito particular".
"Um prémio como este diz: 'Os teus livros valem alguma coisa para os leitores' e dá um sentido à nossa vida pessoal. Em primeiro lugar, a literatura é uma grande alegria interior, íntima, e depois quando passa para a audiência, para as pessoas, para o público que a lê e ama, é um milagre", afirmou Lídia Jorge.
Na mesma sessão de anúncio, Lídia Jorge dedicou o prémios aos "companheiros" da literatura portuguesa e revelou que está a trabalhar numa nova obra, que poderá ter por título "Misericórdia", influenciada pela recente perda da mãe e pela pandemia da covid-19.
"O homem é um hospedeiro e o hóspede é o covid-19. Tem milhares de letras no seu genoma, mas não o conhecemos. É insidioso. Pensamos na 'Origem das Espécies', que explica que uns comem os otros. A natureza é uma questão de fome", disse.
Em tempos de pandemia, Lídia Jorge sublinhou ainda que "a literatura é um ato de resistência absolutamente indispensável" e que é preciso "publicar, ler e divulgar".
"As pessoas compreendem que a leitura é um exercício fundamental sem o qual as outras artes serão menores, serão superficiais. Esta pandemia é uma espécie de tomada de consciência e que devemos regressar à leitura silenciosa", disse.
Em espanhol, a escritora tem editados os títulos "Notícia da Cidade Silvestre" (Alfaguara, 1990), "O Jardim sem Limites" (Alfaguara, 1995), "A Costa dos Murmúrios" (Alfaguara 2001), "O Vale da Paixão" (Seix Barral, 2001) e "Marido e Outros Contos" (Edicións Xerais de Galicia, 2005).
No ano passado, a autora publicou "Em Todos os Sentidos", no qual reuniu crónicas de reflexão quotidiana. Estas crónicas resultam de um convite feito pelo realizador de rádio João Almeida, diretor da Antena 2, em finais de 2018, para colaborar num programa seu, com este mesmo título.
Segundo a escritora "a crónica não constitui um género, é apenas uma espécie de homenagem ao deus que faz escorregar os grãos de areia, mirando de soslaio. Como não podemos vencer o Tempo, escrevemos textos que o desafiam a que chamamos crónicas".
No ano passado, ainda, o romance "O Estuátrio", de Lídia Jorge, venceu o XXIV Grande Prémio de Literatura atribuído pelo grupo empresarial DST. Esta obra foi finalista do Prémio Médicis.
Em 2018, Lídia Jorge editou o seu primeiro livro de poesia, "O Livro das Tréguas", uma seleção de 50 dos poemas que a autora escreveu e nunca tinha publicado.
Lídia Jorge estreou-se em 1989 com o romance "O Dia dos Prodígios". Desde então tem publicado vários títulos nas áreas do romance, conto, ensaio e teatro.
Os escritores brasileiros Rubem Fonseca, premiado em 2003, e Nélida Piñon, em 1995, são os outros autores de língua portuguesa distinguidos com o principal prémio da Feira Internacional do Livro de Guadalajara, numa lista que também inclui a uruguaia Ida Vitale, o francês Emmanuel Carrère, os espanhóis Enrique Vila-Matas, Juan Marsé e Juan Goytisolo, o italiano Claudio Magris, o colombiano Fernando Vallejo e o peruano Alfredo Bryce Echenique, entre outros.
O prémio foi entregue pela primeira vez ao chileno Nicanor Parra, em 1991.
Lídia Jorge sucede ao mexicano David Huerta, premiado em 2019.
A Feira Internacional do Livro de Guadalajara, a segunda maior do mundo, no mercado livreiro, depois da feira de Frankfurt, na Alemanha, vai decorrer este ano de 28 de novembro a 6 de dezembro. O prémio será entregue durante a realização da feira.
Portugal foi o país convidado da FIL de Guadalajara, na edição de 2018.
Ministra da Cultura sublinha originalidade de Lídia Jorge
A ministra da Cultura, Graça Fonseca, sublinhou hoje "a originalidade e subtiliza" de Lídia Jorge, na mensagem de felicitações à escritora, pela conquista do Prémio de Literatura em Línguas Românicas, hoje atribuído pela Feira Internacional do Livro de Guadalajara.
"Este prémio, que assinala a originalidade e a subtileza do estilo literário de Lídia Jorge, junta-se aos demais prémios nacionais e internacionais já recebidos pela escritora, nomeadamente o Prémio Luso-Espanhol de Cultura, em 2014, o Prémio Jean Monet de Literatura Europeia, em 2000, ou, ainda, o Prémio Internacional de Literatura da Fundação Günter Grass, em 2006", assim como os prémios "portugueses mais importantes", como o D. Diniz e o Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores, acrescenta Graça Fonseca.
A atribuição do prémio máximo da Feira Internacional do Livro de Guadalajara (FIL Guadalajara) "demonstra também o destaque que a literatura em língua portuguesa tem alcançado no panorama internacional, reconhecendo a originalidade e a mestria no estilo dos nossos autores", escreve a ministra da Cultura.
"Com uma obra vasta, que os géneros literários nunca conseguiram capturar [em exclusivo] por completo, a escrita de Lídia Jorge destaca-se pela qualidade, pela abrangência e pelo diálogo permanente com a experiência histórica e literária portuguesas", refere Graça Fonseca.
A ministra da Cultura cita ainda a autora, na sua mensagem: "'A escrita é redentora. A escrita faz com que o autor, independentemente do reconhecimento, tenha uma história de vida magnífica', história esta que vem consolidada com este Prémio", conclui Graça Fonseca.