18 set, 2020 - 07:15 • Lusa
“A Herdade”, de Tiago Guedes, venceu, na quinta-feira, os prémios Sophia de melhor filme e melhor realização, numa edição em que o produtor desta obra, Paulo Branco, pediu o fim das “pequenas guerrilhas” no cinema português.
Na oitava edição dos prémios Sophia, atribuídos pela Academia Portuguesa de Cinema no Casino Estoril, Cascais, o filme “A Herdade” estava nomeado em 15 categorias, tendo conquistado sete galardões, entre os quais os de melhor filme, realização e interpretação feminina, por Sandra Faleiro e Ana Vilela Costa.
Coube a Paulo Branco receber o prémio de melhor filme, mas o produtor deixou-o em suspenso: “não levo o prémio, levarei para o ano, se alguma coisa mudar entre nós todos”.
Recordando que quando começou a trabalhar, na década 1970, “todos tinham prazer que os outros filmassem e com meios muito inferiores aos que existem agora”, Paulo Branco criticou as “pequenas guerrilhas”, os “pequenos golpes” e as invejas entre os profissionais do cinema e audiovisual.
“Não vamos a lado nenhum se for assim. Não podemos exigir às instituições se entre nós não mudarmos completamente a maneira como nos olhamos uns aos outros. Há espaço para tudo, para os maus, para os medíocres e para os bons”, disse o produtor.
Outro dos filmes favoritos desta edição era “Variações”, de João Maia, tendo arrecadado também sete prémios, entre os quais os de melhor representação masculina, para Sérgio Praia, no papel de António Variações, e para o ator Filipe Duarte, distinguido a título póstumo como melhor ator secundário.
Destaque ainda para o facto de o realizador Tiago Guedes ter vencido três prémios da Academia Portuguesa de Cinema: o de melhor realizador com “A Herdade”, o de argumento original, repartido com o escritor Rui Cardoso Martins por este filme, e o de melhor argumento adaptado pelo filme “Tristeza e Alegria na Vida das Girafas”, que também realizou.
Ao longo da noite, alguns dos premiados, como Sandra Faleiro e Edgar Medina, premiado pela série “Sul”, manifestaram solidariedade para com os profissionais do setor que estão “a passar dificuldades com enorme dignidade e esforço”.
“A pandemia foi uma espécie de lupa para o sistema em que estamos a viver; não há política cultural. Estamos a viver tempos muito difíceis”, lamentou Sandra Faleiro, protagonista de “A Herdade”.
Nesta edição dos Sophia, “Tio Tomás, a Contabilidade dos Dias”, de Regina Pessoa, foi eleita a melhor curta de animação, “Raposa”, de Leonor Noivo, a melhor curta-metragem documental e “Fábrica”, de Diogo Barbosa, a melhor curta de ficção.
“Até que o Porno nos Separe”, de Jorge Pelicano, venceu o prémio de melhor documentário.
Os Prémios Sophia são uma iniciativa da Academia Portuguesa de Cinema, instituição que atribuiu ainda prémios de carreira aos realizadores Fernando Matos Silva, António-Pedro Vasconcelos e Alfredo Tropa, recentemente falecido.
A cerimónia deveria ter acontecido em março, mas foi adiada para setembro por causa da pandemia de Covid-19.
Numa edição em que esteve presente o secretário de Estado do Cinema, Audiovisual e Media, Nuno Artur Silva, foi ainda transmitida uma mensagem do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que disse acompanhar atentamente o cinema português, “antes e durante esta pandemia”, e que conhece os problemas do setor.
"Os problemas legais, as questões burocráticas, os entraves orçamentais, a falta de sensibilidade cultural e política e, como se não bastasse tudo isto, os problemas sanitários, afetando gravemente a produção, a distribuição e a exibição", disse.