30 set, 2020 - 18:07 • Maria João Costa
“Não será nunca a incerteza que nos fará parar”, garantiu esta quarta-feira o presidente do conselho de administração do Centro Cultural de Belém (CCB), na apresentação da temporada para os próximos meses.
Num ano marcado pela pandemia de Covid-19, a programação terá como mote a palava “Entre”. No palco do Grande Auditório, Elísio Summavielle explicou que o verbo escolhido é um convite ao público para regressar ao CCB, mas também a palavra que define a era que vivemos, entre a pandemia e “um tempo que ainda desconhecemos”.
A aposta do cartaz que foi apresentado coloca a tónica na criação contemporânea portuguesa. Programada por Delfim Sardo, a temporada assume, explicou o programador, “um caráter hiíbrido”, atendendo à “diversidade dos públicos”.
Numa altura em que o modelo dos Dias da Música está a ser “repensado”, o CCB mantém a temporada sinfónica, explica Sardo que acrescenta, no entanto, que irão “dar expressão à música contemporânea”. Além da música, a dança estará também muito presente num cartaz que dá “atenção à criação portuguesa” e que aposta também na “relação entre arte e educação”
Numa apresentação intercalada por uma performance musical dos percussionistas Hélio Morais e Joaquim Albergaria, apresentou-se também em palco o novo consultor do CCB. Rui Horta, usa o mote da temporada, e “entra” para equipa de uma casa onde muitas vezes já se apresentou como artista. O coreógrafo que explica que sempre recusou “cargos de poder”, aceitou ser consultor neste tempo que diz ser de “urgência”. Horta, responsável do Espaço do Tempo em Montemor-o Novo, traz a sua experiência.
O mais importante, no olhar de Horta é “não deixar cair os artistas neste período difícil”. Em entrevista à margem da apresentação, o criador explica que “o mais importante de uma programação é não deixar apagar do mapa toda uma geração emergente, um pouco mais frágil. Se os artistas continuarem presentes, no ano seguinte irão circular e sobreviver”.
Num ano “atípico e que poderá sofrer reajustes”, como explicou Delfim Sardo, foi divulgada apenas a programação até janeiro. Embora o CCB já tenha mais eventos programados, dado o atual contexto, apenas revelou uma parte da temporada. A somar à incerteza da pandemia, coloca-se também a questão da ocupação dos espaços do CCB com a presidência portuguesa da União Europeia que poderá obrigar a reajustes na programação dos espaços.
Mas o cartaz hoje divulgado prevê por exemplo, um concerto dos Pop Dell’Arte de João Peste já no próximo dia 8 de outubro que marcará o fim do ciclo CCBeat, que dará lugar a outra programação musical mais virada para os cruzamentos. Previsto está, por exemplo, para dia 30 de outubro, o concerto de Stereossauro, explicou o programador Fernando Luís Sampaio.
A nova temporada conta ainda com diversas parcerias com festivais, como o Cumplicidades ou o Temps d’Image. Na apresentação esta quarta-feira, Rui Horta indicou ainda que foi intenção “dar ao CCB um novo ímpeto como casa de produção”. Exemplo disso, são as dez coproduções, dais quais Horta destacou as estreias de Marta Reis Jardim e Beatriz Dias na dança, do Teatro da Cidade a 20 de novembro ou o espetáculo “Bo (U)checha” de Miguel Filipe que teve estreia fora de Portugal.
Na área da música clássica, o programador André Cunha Leal explicou que “a pandemia impôs a necessidade de repor obras que estavam na sombra”. É nesse sentido que a maestrina Joana Carneiro irá apresentar com a Orquestra Sinfónica Portuguesa, a Sexta de Mahler, numa versão de câmara, a 29 de novembro. Depois do cancelamento do festival Dias da Música que deveria ter tido Beethoven como tema, a música do compositor vai apresentar-se ao longo de vários concertos da nova temporada, com espetáculos das Orquestras Sinfónica, Metropolitana ou da Camerata Alma Mater.
Ainda na área dos espetáculos, o programador Fernando Luís Sampaio destacou uma das iniciativas integradas no centenário de Amália Rodrigues. Trata-se do espetáculo criado pelo realizador João Botelho, intitulado “Amália – A Voz Maior do que o Fado” que contará, entre outros com nomes como Ricardo Ribeiro, Camané, Mário Laginha ou a galega Luz Casal e que terá lugar no Grande Auditório dias 26 e 27 de novembro.
Além da vinda do Teatro Nacional de São João (TNSJ), no Porto, ao CCB, a 21 e 22 de janeiro com o clássico “Castro”, de António Ferreira; e dias 29 e 30 de janeiro com a peça “O Balcão” de Jean Genet, foram ainda referidos outros destaques na conferência de imprensa. Nomeadamente o novo espetáculo da Companhia Maior que terá nesta temporada a direção do encenador e realizador Marco Martins, e o recital de piano com Nuno Vieira de Almeida com declamação de Albano Jerónimo a 24 de janeiro.
Na programação da Fábrica das Artes, está de regresso a exposição “No Fundo Portugal é Mar” e será reposto de 5 a 7 de novembro o espetáculo “A Menina do Mar”, com música original de Bernardo Sassetti, com o pianista Filipe Raposo e a atriz Carla Galvão. Em cartaz estão ainda apostas na área da formação em torno da questão do mar, que contarão com diversas vozes da área artística e científica.
Também sobre a temática do mar continuará patente na Garagem Sul a exposição de arquitetura “O Mar é a Nossa Terra”, mas para fevereiro está programada uma nova mostra que vem de Itália, do Museu Nacional de Arte do Século XXI de Roma, intitulada “Em Casa”. Segundo o programador André Tavares, esta é uma mostra que “dá exemplos dos diversos modos de habitar as cidades” dos tempos contemporâneos.
O CCB espera até ao final deste ano assinar o contrato para o alargamento do edifício. Depois do concurso público internacional para a construção dos chamados Módulos 4 e 5 que preveem um hotel e espaços comerciais, há apenas um candidato que se perfila.
Em declarações à Renascença, à margem da apresentação da temporada, o presidente do CCB, Elísio Summavielle explicou que espera finalizar o contrato até ao final de 2020.
“Houve um concorrente que está interessado e com quem estamos a ultimar os termos do contrato que é a Mota Engil. O contrato está a ser trabalhado entre as partes, a comissão irá a avaliar a minuta final”.
Summavielle manifesta o “desejo” que o contrato seja firmado “até ao final do ano”, embora refira que não faz “promessas calendarizadas”, acrescenta que “felizmente as coisas estão em bom andamento”.
Em causa está uma área total de mais de 23 mil metros quadrados que prevê uma zona de escritórios, uma área para comércio e um hotel de luxo, de pelo menos 4 estrelas virado para o Rio Tejo. A obra terá um custo de 70 a 80 milhões de euros.
Completar-se-á assim o projeto feito há 25 anos, pelo arquiteto italiano Vittorio Gregotti – ele que morreu já este ano, vítima de Covid-19.
A notícia foi avançada pela imprensa italiana. Gre(...)