01 dez, 2020 - 09:19 • Redação com Lusa
O ensaísta Eduardo Lourenço, Prémio Camões e Prémio Pessoa, morreu esta terça-feira, aos 97 anos. A informação foi confirmada à Renascença por fonte próxima do autor. O professor, filósofo, escritor, crítico literário, interventor cívico, várias vezes galardoado e distinguido, foi um dos pensadores mais proeminentes da cultura portuguesa.
A missa vai ter lugar quarta-feira no Mosteiro dos Jerónimos, às 12h00. Será concelebrada pelos cardeais D. Manuel Clemente e D. Tolentino Mendonça.
Eduardo Lourenço também era conselheiro de Estado de Marcelo Rebelo de Sousa. Os cinco membros deste órgão são designados pelo Presidente da República em funções, pelo período correspondente ao seu mandato.
Em abril deste ano, o ensaísta venceu o Prémio Árvore da Vida – Padre Manuel Antunes. O júri atribuiu a distinção por unanimidade.
Eduardo Lourenço recebeu o Prémio Camões (1996) e o Prémio Pessoa (2011). Entre outras distinções, recebeu as insígnias de Grande Oficial e a Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada, a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique e a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade.
Era Oficial da Ordem Nacional do Mérito, Cavaleiro da Ordem das Artes e das Letras e da Legião de Honra de França.
Autor de mais de 40 títulos, possuiu desde sempre "um olhar inquietante sobre a realidade", como destacaram os seus pares.
"O Labirinto da Saudade", "Fernando, Rei da Nossa Baviera" são algumas das suas principas obras.
"Na verdade, falo de mim em todos os textos", disse Eduardo Lourenço sobre a sua obra, citado pelo Centro Nacional de Cultura, nas páginas que lhe dedica online. "Cada um dos assuntos por que me interesso daria para ocupar várias pessoas durante toda a vida. [Mas como] não possuo vocação heteronímica, tenho procurado encontrar um nexo entre as minhas diversas abordagens da realidade".
Eduardo Lourenço Faria nasceu em 23 de maio de 1923, em S. Pedro do Rio Seco, no concelho de Almeida, na Beira Alta.
Licenciado
em Ciências Histórico-Filosóficas, na Universidade de Coimbra, em 1946, aí
inicia o seu percurso, como assistente e como autor, com a publicação de
"Heterodoxia" (1949).
Marcelo Rebelo de Sousa reagiu através de uma mensagem no site da presidência, onde disse que“Eduardo Lourenço foi, desde o início da segunda metade do século passado, o nosso mais importante ensaísta e crítico, o nosso mais destacado intelectual público”.
Segundo o Presidente, “devemos-lhe algumas das leituras mais decisivas de Pessoa, que marcam um antes e um depois, e um envolvimento, muitas vezes heterodoxo, nas questões religiosas, filosóficas e ideológicas contemporâneas, do existencialismo ao cristianismo conciliar e à Revolução”.
“E entre todos os intelectuais portugueses da sua envergadura, nenhum outro foi tão alheio à altivez, à auto-satisfação, ao desdém intelectual, ao desinteresse pelas gerações seguintes”, sublinhou na nota.
O primeiro-ministro já reagiu à morte de Eduardo Lourenço. Em declarações aos jornalistas, esta manhã, declarou que esta quarta-feira será dia de luto nacional. Na sua intervenção lembrou o autor de “uma das maiores obras ensaísticas portuguesas", que “ajudou muito a refletir sobre os fatores de intemporalidade nacional”, incitando os portugueses a prosseguir as lições deixadas.
A Ministra da Cultura já reagiu no Twitter. “Não posso deixar de lamentar profundamente a morte de Eduardo Lourenço, uma das mentes mais brilhantes deste país. Eduardo Lourenço foi um pensador, arguto e sensível como poucos e incansável combatente do caos dos dias”, escreveu Graça Fonseca.
O director do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura destaca o homem cordial, um pensador que cujo convívio acabava por seduzir. À Renascença Seabra Pereira diz que nunca houve pensador mais contemporâneo. “Nunca houve na nossa contemporaneidade pensador mais atualizado em todos os aspetos universais do pensamento, e, no entanto, sempre fiel aos mesmos fundamentos antropológicos, axiológicos, éticos e à consequente obrigação - dizia ele - de suportar a liberdade humana em todos os domínios.”
O presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens
Culturais e Comunicações Sociais
destaca o papel de Eduardo Lourenço na procura
da verdade. “A Igreja une-se a todo o homem da Cultura e reconhece que a Cultura
é algo de muito profundo e necessário. Ele foi um grande veículo para a procura
da verdade e, portanto, já estava aí - de alguma maneira - pré-anunciado o
Evangelho. Ele era um homem da preocupação da verdade, e por isso, está aí já
de alguma maneira as sementes do Verbo, as sementes o Evangelho”, disse o bispo
D. João L.avrador.
O pensador José Gil recorda um homem com várias dimensões e com uma visão global. “Recordo como alguém capaz, no panorama português, de uma visão global sobre o nosso país, sobre a sua cultura, pensamento filosófico, sobre a sua literatura, história e política. Ele realmente tinha muitas dimensões no seu pensamento.
O filósofo diz que possuía um pensamento geopolítico de uma grande dimensão. “É sem dúvida o maior espírito da segunda metade do século XX da nossa história.”
Durão Barroso lamentou a morte do ensaísta e filósofo Eduardo Lourenço, "um dos maiores portugueses" que afirma ter conhecido.
“Morreu Eduardo Lourenço um dos maiores portugueses que conheci e de quem guardo tão excelentes recordações. Poucos terão feito tanto quanto ele para 'identificar' e definir Portugal e a sua cultura e o nosso particular modo de ser. Um grande intelectual, um notável Português!”, escreveu o ex-presidente da Comissão Europeia e antigo primeiro-ministro no Twitter.
A Fundação Calouste Gulbenkian recorda o ensaísta como o “pensador de espírito livre e olhar profundo”, que fez parte da sua administração durante dez anos. Numa mensagem de “profundo pesar pela morte do professor Eduardo Lourenço, colaborador de longa data e administrador não-executivo da Fundação entre 2002 e 2012”, a presidente do Conselho de Administração, Isabel Mota, destaca "a sua imensa cultura, alavancada por uma enorme sede de conhecimento e interesse pelo sentido das coisas, o seu amor pela História, o seu discreto sentido de humor".
“Pensador de espírito livre e olhar profundo, aberto e sempre diferente sobre as questões, o professor Eduardo Lourenço deu, ao longo dos anos, um importante contributo na forma de se pensar o destino português”, disse a presidente, citada pelo comunicado da instituição.