10 dez, 2020 - 07:14 • Rosário Silva
Investigadores da Universidade de Évora (UÉ) estão a desenvolver um estudo científico sobre a arte da Pintura Mural de Almada Negreiros. A equipa é liderada por Milene Gil, investigadora do Laboratório HERCULES da (UÉ).
Os especialistas procuram perceber, pela primeira vez, entre outras questões, “em que aspetos este artista multidisciplinar português foi inovador ou quais foram as suas fontes e tendências no desenvolvimento da sua prática como pintor muralista”, indica uma nota da instituição enviada à Renascença.
Considerado uma das “figuras-chave da vanguarda e modernismo em Portugal”, José Sobral de Almada Negreiros marcou o panorama artístico e cultural através de uma carreira multifacetada de quase 60 anos, quer em Portugal, quer em Espanha, “desde a sua primeira exposição coletiva em 1911, passando pela sua intervenção futurista em 1916-1918”.
Almada Negreiros viveu em Paris, mas também em Madrid, “onde se estabeleceu como artista e fez parte das principais tertúlias, colaborando em projetos com vários outros autores da cena cultural madrilena”, refere a UÉ.
Já em Portugal, assistiu à emergência do Estado Novo (1933-1974), contexto no qual trabalhou em várias encomendas, públicas e privadas.
“A vasta obra mural de Almada Negreiros inclui cinco núcleos de pintura realizados na cidade de Lisboa entre 1938 e 1956”, revela a instituição, destacando alguns dos mais conhecidos, como “os cinco painéis da antiga sede do Diário de Notícias (1939-40), os oito painéis monumentais da sala de espera da Gare Marítima de Alcântara (1943-45) e outros seis análogos na Gare Marítima da Rocha do Conde de Óbidos (1946-49).”
Segundo Milene Gil, “estas obras tem sido objeto de discussão preferencial no que respeita aos seus atributos plásticos, iconográficos e simbólicos”, porém, sublinha, “são poucos ainda os estudos que abordam, e muito menos os que aprofundam as particularidades das produções, as referências e repercussões dos murais pintados entre artistas conterrâneos e gerações sucessivas”.
A investigadora da UÉ que lidera a equipa que promove o estudo científico para desvendar mais sobre a obra deste modernista português revela “que todas as pinturas murais estão catalogadas como frescos”, embora esta possa “não ter sido a única técnica pictórica realizada”, sustentando a sua afirmação nos relatos de Conservadores-Restauradores do Instituto José de Figueiredo que procederam ao estudo destas pinturas entre 1970 e o ano de 2000.
Milene Gil sugere, por isso, que “os materiais empregados e o modus operandi de Almada Negreiros são praticamente desconhecidos”, acrescentando que “Almada era conhecedor da técnica do fresco, mas também era um experimentalista.”
Para encontrar respostas, a investigação em curso desenvolve-se de acordo com diferentes abordagens que vão desde a recolha e investigação de documentação, passando por exames de superfície das pinturas com recurso a técnicas convencionais e avançadas.
No final, os investigadores esperam conseguir “identificar e caracterizar as técnicas pictóricas e os materiais constituintes do suporte e das camadas cromáticas até hoje desconhecidos bem como apurar as suas implicações nos fenómenos de deterioração registados para a sua futura salvaguarda e manutenção”, declara a academia alentejana.
Milene Gil acredita que com a divulgação dos resultados deste projeto, com duração de três anos, dar-se-á “um importante passo em frente no conhecimento, valorização e conservação da arte mural de Almada Negreiros”.
Financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia, este projeto resulta de uma parceria entre o Laboratório HERCULES da UÉ, o Laboratório José de Figueiredo da Direção Geral do Património Cultural, o Instituto de História de Arte da faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e Administração do Porto de Lisboa.
Em 2017, o Laboratório HERCULES já tinha liderado uma campanha” para caracterizar a técnica pictórica e os materiais empregues por Almada Negreiros nos murais pintados entre 1939 e 1940”, na entrada do antigo edifício do Diário de Notícias, em Lisboa.