08 jan, 2021 - 10:25 • Vasco Gandra, correspondente em Bruxelas
No gigantesco átrio de entrada do Conselho da União Europeia vive-se esta semana numa azáfama, no arranque da presidência portuguesa, que começou oficialmente no dia 5 de janeiro.
Com aparato e ruído, artistas e técnicos encontram-se por estes dias atarefados a instalar uma obra coletiva de 20 artistas – uns já consagrados na cena artística internacional, outros jovens promissores.
Nesta instalação com vários metros de altura, as peças estruturam-se lembrando uma torre de babel. É um mosaico de cores, representações e mensagens fortes, num contraste notório com o edifício frio e cinzento do Conselho.
Para Vhils, artista e curador da obra coletiva, é importante os artistas fazerem-se ouvir nestes espaços. "É importante haver espaços para novos discursos, maneiras de pensar e para todas estas questões que muitas vezes não são ouvidas ou visíveis”, diz à Renascença.
“É o que eu tento fazer com este tipo de projetos. Para mim, faz todo o sentido. E é importante as instituições serem prementes a novas ideias e pensamentos", acrescenta.
No espaço de entrada do Conselho, ultimam-se os preparativos da instalação desta obra que, segundo a presidência portuguesa da UE, representa também o espírito de cooperação e diversidade de 20 artistas com o objetivo de construir algo comum. Um pouco como a Europa, um projeto que trouxe integração e oportunidades para esta geração de artistas.
"Pertenço a uma geração cuja arte e o trabalho bebeu muito da abertura que a Europa permitiu a todos. O acesso que tivemos à informação, conhecer outras pessoas que têm os mesmos valores e que gostam de fazer o que fazemos. A Europa foi muito importante para mim e para o movimento artístico e criativo. Para o setor da cultura foi bastante importante", afirma Vhils.
Segundo a presidência portuguesa, a obra coletiva destes artistas pretende simbolizar igualmente uma Europa mais "amiga" do ambiente já que os materiais utilizados são reciclados.
Esta é, de resto, uma prioridade de Portugal ao leme do Conselho: promover a "Europa Verde" e a UE como líder mundial na ação climática.
A preocupação "climática" está igualmente patente na obra de outro artista. Bordalo II tem uma peça instalada no edifício das cimeiras europeias, no sítio por onde passam os chefes de Estado e de Governo quando se reúnem em Bruxelas. A obra – uma medusa gigante, ou caravela portuguesa, feita de muito lixo plástico apanhado no mar – confronta-nos com o tema da produção de lixo, do desperdício, da poluição e dos seus efeitos no planeta.
A peça, explica Bordalo II, recorre também a restos de iluminação de exterior "para criar um efeito próximo dos flashes da publicidade luminosa que acabam por nos fazer querer consumir e comprar algumas coisas. O que está completamente ligado à temática do consumismo, do desperdício que se acaba por transformar em lixo um dia mais tarde".
Bordalo II espera que a sua obra e o seu trabalho em geral possam inspirar e sensibilizar, não só os decisores políticos, mas o público de maneira geral.
Apesar do acesso aos edifícios do Conselho estar limitado devido à pandemia, a exibição das obras durante este semestre dará visibilidade à arte urbana portuguesa, instalando-a no coração da vida política e diplomática da União Europeia, "confrontando" os que por ela passam.