12 jan, 2021 - 13:24 • Lusa
A Comunidade Judaica do Porto (CJP) anuncia que o “primeiro” Museu do Holocausto na Península Ibérica será inaugurado no dia 20, na zona do Campo Alegre, no Porto.
O museu “retrata a vida judaica antes do Holocausto, o nazismo, a expansão nazi na Europa, os guetos, os refugiados, os campos de concentração, de trabalho e de extermínio, a Solução Final, as marchas da morte, a libertação, a população judaica no pós-guerra, a fundação do Estado de Israel, vencer ou morrer de fome, os justos entre as nações”, segundo a CJP.
Neste novo espaço museológico existirá uma reprodução dos dormitórios de Auschwitz (campo de concentração), assim como uma sala de nomes, um memorial da chama, cinema, sala de conferências, centro de estudos, corredores com a narrativa completa e, à imagem do Museu de Washington (Estados Unidos da América), fotografias e ecrãs exibindo filmes reais sobre o antes, o durante e o depois da tragédia.
Tutelado por membros da Comunidade Judaica do Porto cujos pais, avós e familiares foram vítimas do Holocausto, o Museu do Holocausto no Porto desenvolverá parcerias de cooperação com museus do Holocausto em Moscovo, Hong Kong, Estados Unidos e Europa, contribuindo para “uma memória que não pode ser apagada”.
Em comunicado, o curador do Museu do Holocausto do Porto, o museólogo Hugo Vaz, afirma que "são esperados cerca de 10 mil alunos por ano, o mesmo número que, antes da pandemia, costumava visitar a Sinagoga".
O museu irá investir no ensino, na formação profissional de educadores, bem como na promoção de exposições, encorajando e apoiando a investigação.
“A construção do Museu do Holocausto no Porto contou com um donativo substancial de uma família sefardita portuguesa do Sudeste da Ásia que foi vítima de um campo de concentração japonês durante a Segunda Guerra Mundial”, de acordo com os responsáveis da CJP.
Em 2013, a Comunidade Judaica do Porto (CJP) partilhou com o Museu do Holocausto de Washington todos os seus arquivos referentes a refugiados que passaram pela cidade portuense.
Estes arquivos, agora regressados à cidade, incluem documentos oficiais, testemunhos, cartas e centenas de fichas individuais. No Museu estarão ainda expostos dois Sifrei Torá (rolos da Torá) oferecidos à sinagoga do Porto por refugiados que chegaram à cidade com as suas vidas desfeitas.
A inauguração, agendada para o dia 20, incluirá “uma cerimónia mais reservada e sentimental”, liderada por Dias Ben Zion, presidente da Comunidade Judaica do Porto, e Rui Moreira, presidente da Câmara Municipal do Porto.
Contará também com a presença dos embaixadores das potências envolvidas na Segunda Guerra Mundial e de Israel, assim como de Karel Fracapane, especialista do programa do Holocausto da UNESCO, do embaixador Luíz Barreiros (chefe da delegação de Portugal à IHRA - Aliança Internacional Memória do Holocausto), de Marta Santos País, comissária do Projeto Nunca Esquecer - Programa Nacional em torno da Memória do Holocausto, do bispo do Porto e do presidente da Comunidade Muçulmana da cidade. O Governo far-se-á representar pelo secretário de Estado da Cultura.
Antevendo regras legais mais apertadas em termos de saúde pública, foi já requerida autorização à Direção Geral da Saúde para a realização deste evento, “em ambiente controlado, com um total de trinta pessoas, tendo em conta a relevância política do mesmo e a sua curta duração (50 minutos) num espaço de 500 metros quadrados que possui plano de contingência para a covid-19”, refere a fonte.
Acrescenta que no dia 27, para celebrar o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto, o museu será visitado por alunos de escolas da região do Porto.
“Importa ensinar o Holocausto em Portugal. Na escola, eu e o meu irmão éramos os únicos judeus. O tema nunca era abordado nem ensinado, e poucos sabiam o que tinha sido o Holocausto”, sublinha, no comunicado, Dara Jeffries, do conselho fiscal da CJP.
Através do Museu, outro membro da CJP Jonathan Lackman “deseja seguir, no Porto, o papel que os avós tiveram nos EUA para a preservação da memória do Holocausto: ‘O meu avô fugiu de Treblinka e a minha avó foi resgatada com tifo do campo de Bergen-Belsen, no norte da Alemanha, onde faleceu Anne Frank. Contarei sempre a história deles’”, sublinha na nota de imprensa.