15 jan, 2021 - 11:34 • Maria João Costa , Marta Grosso , Pedro Filipe Silva
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Adiado, cancelado, fechado. São de novo palavras que batem à porta da Cultura. As regras impostas pelo novo confinamento obrigaram salas de espetáculo, de Norte a Sul do país, a encerrar e suspender toda a atividade.
Exemplo disso é o que aconteceu no Teatro Nacional D. Maria II, que tinha em cena as novas peças de Mónica Calle e de Jorge Andrade.
Em entrevista ao programa da Renascença Ensaio Geral, os atores falam sobre o impacto que a pandemia está a ter na atividade cultural, desde logo pela forma como estiveram a trabalhar nos dois espetáculos que estreavam esta semana no D. Maria II.
Mónica Calle antecipou a estreia de “Carta”, a peça que reúne em palco mais de 30 atrizes, num espetáculo que questiona “como se continua?”.
Nesta entrevista, a atriz e encenadora da companhia Casa Conveniente explica que este é um espetáculo que “vive e precisa deste coletivo e desta necessidade de estarmos juntos.”
Na preparação para o espetáculo, foram feitos testes Covid-19 e alguns positivos foram atrapalhando o decorrer dos ensaios, mas agora que estrearam foi a imposição de um novo confinamento que interrompeu o decurso do espetáculo.
Mónica Calle, que se assume como cristã e mulher de fé, diz ao Ensaio Geral que “o trabalho artístico e as artes do palco têm uma dimensão religiosa”.
Nesse sentido, Mónica Calle aponta o teatro como “um local social, de encontro e partilha” e sublinha que “só existe nessa dimensão”.
Face ao novo encerramento das salas de espetáculo, a encenadora é crítica: diz que a representação “não é substituível por apresentações online”, porque considera que “o teatro perde a sua dimensão primária de encontro e de partilha”.
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Também Jorge Andrade, da companhia Mala Voadora, viu o espetáculo “Off” morrer na praia. Estreou no dia 14 e as sessões seguintes foram canceladas.
Em entrevista ao Ensaio Geral da Renascença – que nesta sexta-feira vai para o ar excecionalmente às 13h00 – o encenador que assume um dos papeis na peça fala sobre a forma com a pandemia interfere com o trabalho artístico.
O teatro “faz-se iminentemente com os outros e na presença dos outros”, sublinha Jorge Andrade lamentando a “impossibilidade de as pessoas irem ver o espetáculo” que prepararam.
Tal como Mónica Calle, também Andrade considera que as “tecnologias” usadas “para manter alguma atividade cultural no quotidiano das pessoas e das instituições” não preenchem o vazio deixado pela suspensão da atividade.
Este ator – que, em “Off”, trabalhou com Chris Thorpe o texto de uma peça que pretende falar sobre o fim – lembra que também a companhia ficou impedida de viajar neste último ano, como pretendia, e que isso afetou o trabalho.
“Também existe uma impossibilidade de nós artistas termos o nosso quotidiano e o nosso quotidiano faz-se a trabalhar no mesmo lugar que outras pessoas. É na discussão e no confronto que encontramos motivações e o assunto” para os espetáculos, aprofunda Jorge Andrade.
Em comunicado, o Teatro Nacional D. Maria II anunciou, na quinta-feira, a suspensão das atividades. Aos espectadores “que tenham adquirido bilhetes para espetáculos ou outras iniciativas afetadas por esta suspensão” informa que “deverão, a partir de 19 de janeiro, contactar a bilheteira do Teatro através do número gratuito 800 213 250 ou do e-mail bilheteira@tndm.pt, para obter informação sobre o seu reembolso ou reagendamento”.
A casa dirigida pelo diretor artístico Tiago Rodrigues afirma “o seu compromisso de fazer tudo o que estiver ao seu alcance para continuar a apoiar companhias, artistas e técnicos independentes, assim como todo o setor cultural, neste momento difícil”.
No mesmo texto, pode ler-se que vão continuar a trabalhar para que o teatro – que consideram “um bem essencial – seja democraticamente acessível e seguro para todos”.
Na quinta-feira, um dia antes de começar o novo confinamento geral, o Governo anunciou um apoio de 42 milhões para a Cultura. A medida foi bem recebida pelo Sindicato dos Trabalhadores de Espetáculos, do Audiovisual e dos Músicos, sobretudo, porque corresponde a algumas das reivindicações do setor.
Contudo, na opinião do coordenador Rui Galveias, há que analisar o documento para saber se chega para resolver a situação de todos os trabalhadores.
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“Temos que avaliar e perceber se o que está em cima da mesa chega onde nós queremos. Sinceramente, enquanto houver um trabalhador que está numa situação de miséria por causa destes tempos tão difíceis, vamos continuar a lutar e ninguém poderá ficar para trás”, afirma à Renascença.
Segundo o anúncio da ministra da Cultura, os trabalhadores independentes ligados ao setor terão um apoio de 438 euros – um valor universal, que abrange cerca de 18 mil trabalhadores com atividade aberta no setor cultural. Mas é insuficiente, diz Rui Galveias.
“A reivindicação do sindicato era, pelo menos, um ordenado mínimo e, portanto, continua a ser insuficiente. As pessoas vão continuar dentro daquilo que é o limiar da pobreza em muitos casos”, justifica.
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Também em declarações à Renascença, Álvaro Covões, da Associação de Promotores de Espetáculos, Festivais e Eventos, destaca o facto de o Governo ter, finalmente, admitido que este “foi o setor mais afetado em Portugal”.
“Antes de anunciar as medidas transversais ter-se apresentado um programa para a Cultura, de facto, revela bem que o Governo finalmente percebeu que a Cultura foi o setor mais afetado em Portugal”, afirma.
Em 2020, avança, a quebra foi de 80%. “E quando olhamos para março a dezembro, que é o período da pandemia, estamos com uma quebra acima dos 90%. Uma quebra de 90% é a mesma coisa que não ter trabalhado”, destaca.
O segundo confinamento geral começou às zero horas desta sexta-feira e prevê o encerramento de todos os espaços culturais.