20 jan, 2021 - 18:12 • Maria João Costa
“Aonde pertencemos? Onde nos sentimos em casa? Qual o nosso papel na sociedade?” são algumas das perguntas que norteiam a edição em que a Kino, a mostra de cinema de expressão alemã atinge a maioridade.
Aos 18 anos, este festival estreia-se num novo formato fruto da pandemia.
De 21 a 27 de janeiro, a Kino organizada pelo Goethe-Institut Portugal em conjunto com diversas embaixadas vai exibir pela primeira vez exclusivamente online dezasseis longas-metragens, na sua maioria em estreia nacional.
Através do site do Goethe, mas também da plataforma de streaming Filmin.pt poderá ver novas produções cinematográficas da Alemanha, Áustria, Suíça e Luxemburgo. Desde logo, o filme de abertura, “Berlin Alexanderplatz", do realizador Burhan Qurbani, protagonizado pelo ator luso-guineense Welket Bungué, no papel de um refugiado que chega à Europa depois de um violento naufrágio.
O filme é inspirado “numa obra emblemática da literatura alemã”, explica à Renascença Susana Santos Rodrigues.
A curadora da Kino lembra que já tinha sido adaptada ao cinema por Fass Binder e que o filme agora apresentado na mostra estreou no Festival de Berlim. O filme valeu a Welket Bungué, em novembro, o prémio de melhor ator no Festival Internacional de Cinema de Estocolmo.
“A nível temático, Berlin Alexanderplatz, é um filme que reflete sobre as questões da emigração” lembra Susana Santos Rodrigues que adverte que a temática “atravessa também o programa inteiro da programação deste ano”, da Kino.
Também em entrevista ao programa Ensaio Geral da Renascença, Teresa Althen, a nova programadora cultural de cinema do Goethe aponta a palavra alemã “Heimat” que explica ser como a saudade para os portugueses e que não tem uma tradução direta, para exemplificar como esse conceito tão germânico guiou a programação deste ano da Kino.
“Esta questão aonde pertencemos? Para onde vamos? Este ano, no cinema, mas também para todos nós é uma questão muito importante. Quando estamos num país, uma nacionalidade é uma ideia, é algo emocional. Tem significados diferentes para cada um. Os filmes da Kino deste ano vão ao encontro e à procura disso, desse sentimento de pertença”, diz Teresa Althen
Esta responsável que se expressa bem em português, faz à Renascença um balanço dos 18 anos da Kino e diz que foi crescendo e consolidando o seu publico. Agora, com a programação através da internet surge também a oportunidade de chegar “a todo o país”.
Qualquer pessoa pode comprar bilhete ou um passe para ver todos os filmes em cartaz. Susana Santos Rodrigues destaca alguns que os cinéfilos não devem mesmo perder, entre eles está “Irmãzinha”, da dupla suíça Stéphanie Chuat e Véronique Reymond. Na secção Perspetivas, onde estão programados primeiros filmes de jovens realizadores, a curadora destaca “Diz-me tu, então” que explica “surpreendeu”. O realizador Michael Fetter Nathansky é um dos nomeados para o Prémio do Público.
Na secção Realidades em que são exibidos documentários, há quatro para ver, um deles “Em nome de Xerazade ou o primeiro beergarden em Teerão” de Narges Kalhor é destacado pela curadora. Trata-se de um documentário que relata a história de uma iraniana que estuda realização na Alemanha e que espera fazer um filme sobre a sua identidade «exótica».
Os filmes que chegaram a estar programados para uma “versão híbrida”, como lhe chama Teresa Althen, com apresentações no Cinema São Jorge, em Lisboa e via 'streaming', acabaram devido às medidas restritivas impostas por causa da pandemia, apenas a serem exibidos através da plataforma de cinema independente Filmin.pt