03 fev, 2021 - 11:58 • Maria João Costa com Lusa
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A atriz Adelaide João, de 99 anos, morreu esta quarta-feira de madrugada na Casa do Artista, em Lisboa, onde residia. Segundo fonte da instituição revelou à Renascença, a atriz morreu vítima de Covid-19.
Maria da Glória Pereira Silva, de nome artístico Adelaide João, nasceu em Lisboa em 27 de julho de 1921 e começou como atriz amadora no grupo de teatro da Philips. Participou nas primeiras telenovelas portuguesas, "Vila Faia" e "Origens", mas também noutras, tendo o último trabalho na televisão na série televisiva “The Coffee Shop Series”, cuja primeira temporada foi transmitida na SIC Radical e, a segunda, na RTP 2, em 2014.
É pelo menos a segunda morte por Covid-19 na Casa do Artista, depois da morte da atriz Cecília Guimarães. Também recentemente morreu outro residente da Casa do Artista, o ator António Cordeiro, que sofria de paralisia supranuclear progressiva, uma doença rara, degenerativa.
Questionada sobre a existência de um surto de Covid-19 na Casa do Artista, fonte da instituição diz à Renascença que a situação "está tranquila".
Recentemente, a instituição revelava terem sido identificados casos da doença entre funcionários e residentes.
Conhecida por Lai Lai no teatro, Adelaide João iniciou-se nas lides teatrais pela mão do pai, o ator Morais e Castro, e foi buscar o nome profissional aos dois primeiros nomes da mãe e do pai.
Estudou no Conservatório Nacional e, em 1961, partiu para Paris para estudar teatro com uma bolsa de estudo Fundação Calouste Gulbenkian, tendo trabalhado com várias companhias francesas. Obteve a carteira de atriz profissional em França e chegou a trabalhar numa companhia de teatro que era dirigida por Ingrid Bergman, como disse um dia em declarações à RTP.
Ainda em 1961, a atriz integrou o elenco de “A intrusa”, do dramaturgo belga Maurice Maeterlinck, de “A Castro”, de António Ferreira, e de “Eva e Madalena”, de Ângelo César, já em 1962.
No ano anterior, representou “O consultório”, de Augusto Sobral, no Teatro Nacional D. Maria II, e, um ano depois, “A rapariga do bar”, dirigida por Couto Viana, no Teatro da Trindade pela Companhia Nacional de Teatro.
Adelaide João participou ainda em vários filmes, portugueses e franceses, trabalhando com realizadores tão diversos como Ernesto de Sousa, José Fonseca e Costa, Manoel de Oliveira, Fernando Lopes e Ricardo Costa, entre outros.
É em 1965 que regressa de vez a Portugal e integra a Companhia do Teatro Estúdio de Lisboa, dirigida por Helena Félix e Luzia Maria Martins. Mas outras companhias se seguiram, como o Teatro Experimental de Cascais, Teatro Maria Matos, Casa da Comédia, Empresa Vasco Morgado ou O Bando, de que era cooperante. Aqui, fez parte do elenco de peças como "Ensaio sobre a cegueira", de José Saramago, e "Os anjos", de Teolinda Gersão, entre outras.
O seu trabalho na televisão repartiu-se por séries, telenovelas, telefilmes e teatro televisivo, tendo participado em:
Integrou o elenco de telenovelas como “Vila Faia” (1982), "Origens" (1983), "Chuva na areia" (1985), "Palavras cruzadas" (1987), “Nunca digas adeus” (2001) e “Tudo por amor” (2002).
“Os gatos não têm vertigens”, de António-Pedro Vasconcelos, “A última dança”, “A mulher que acreditava ser presidente dos Estados Unidos”, de João Botelho, “Telefona-me” e “A estreia”, de Frederico Corado, “O processo do rei” e “O fim do mundo”, de João Mário Grilo, “Francisca”, “manhã submersa” e “Amor de perdição”, de Manoel de Oliveira, contam-se entre os filmes em que participou.
Em 2017, recebeu o prémio Sophia pela Carreira.
Recorde uma entrevista dada aos 85 anos à Agência de Informação Norte.
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, lamenta a morte de Adelaide João, recordando-a como "uma atriz omnipresente nas últimas décadas" em Portugal, a cuja presença os portugueses estavam habituados.
Numa mensagem de pesar publicada no portal da Presidência da República na Internet, Marcelo Rebelo de Sousa endereça "sentidos pêsames" à família da atriz.
Nesta nota, Adelaide João é recordada como "uma atriz omnipresente nas últimas décadas", referindo-se que tinha "muito mais de uma centena de trabalhos no currículo" e era "quase centenária em idade".
"E se estávamos tão habituados à sua presença, a verdade é que reencontraremos sempre Adelaide João quando regressarmos às imagens do nosso cinema e da nossa televisão", acrescenta-se.
Segundo o chefe de Estado, "lembrar os seus trabalhos é fazer o historial do teatro televisivo em Portugal, do Teatro Nacional e das companhias de teatro independentes, das novelas fundadoras", como "Vila Faia", "Origens" e "Chuva na Areia", e também "dos dramas e séries", como "Eu Show Nico" e "Cláxon".
A ministra da Cultura, Graça Fonseca, também já lamentou a morte de Adelaide João, recordando uma “figura inesquecível do teatro, da televisão e do cinema em Portugal”.
“Adelaide João, atriz de uma graciosidade imensa e com uma singular inteligência de palco, era reconhecida pelos seus colegas de profissão como um exemplo de integridade e de entrega. A profusão de papéis, do teatro experimental às séries de televisão e ao cinema, são testemunho da qualidade e de um modo de representação sem pejo na diversidade e na entrega”, pode ler-se na nota de pesar do ministério, que endereça as condolências à família e amigos.
[notícia atualizada]