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Confinamento

Associação Portuguesa de Editores e Livreiros defende abertura urgente das livrarias

24 fev, 2021 - 20:42 • Lusa

No cumprimento das medidas de confinamento para o combate à Covid-19, as livrarias voltaram a encerrar desde o passado dia 15 de janeiro, não podendo nem vender ao postigo.

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A Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL) defende que "é urgente reabrir as livrarias", que aponta como "rampa de lançamento determinante para qualquer livro", e que já representa uma perda de "34% das vendas totais".

Em comunicado divulgado esta quarta-feira, a APEL demonstra o papel das livrarias no setor, como "motor e parceiro indispensável e insubstituível da edição, na divulgação dos livros, das suas novidades e do fundo de catálogo".

"No curto prazo, o acesso do público aos livros está garantido, pelo levantamento da proibição de venda de livros nos espaços livreiros integrados em outros espaços comerciais, tais como as livrarias/papelarias, CTT, FNAC, El Corte Inglés, Note, e nos super e hipermercados", lê-se no mesmo comunicado.

Porém, para a APEL, a associação argumenta que "as livrarias são, não só pelo peso comercial que têm, a rampa de lançamento determinante para qualquer livro", como, "sem o seu dinamismo e iniciativa, a edição de novidades ou reedições" diminui "significativamente, pondo em causa de uma forma profunda, a liberdade de expressão, pensamento e conhecimento, perdendo com isso toda a sociedade".

"O nosso desafio não é fechar ou condicionar as livrarias ou outros pontos de venda, antes pelo contrário, é criar condições para que todos possam desenvolver a sua atividade em prol de um objetivo comum, a divulgação da leitura e do livro", afirma a APEL.

Recorde-se que, no cumprimento das medidas de confinamento para o combate à Covid-19, as livrarias voltaram a encerrar desde o passado dia 15 de janeiro, não podendo nem vender ao postigo. Já em março do ano passado, quando foi decretado o estado de emergência e a obrigatoriedade de o comércio fechar portas, foi permitido às livrarias estarem abertas, se fizessem as vendas através de um postigo, medida que a ministra da Cultura justificou, então, considerando os livros um bem de primeira necessidade.

Segundo a APEL, o encerramento das livrarias representa 34% das vendas totais.

Para a associação, "há que desenvolver uma verdadeira política de médio longo prazo para o livro e para a leitura, no interesse da população", considerando que, desde 2015, se assiste "ao definhamento do apoio à leitura, ao livro, às bibliotecas, e aos seus programas como o Plano Nacional de Leitura".

Para APEL há que evitar "medidas avulsas e imediatistas" e estabelecer, "com clareza e para todos, critérios de apoio às livrarias e aos editores, tendo sempre por objetivo a promoção do livro e da leitura", em função da população.

"Cada livraria, grande ou pequena, cada espaço livreiro, cada ponto de venda que comercializa livros, tem o seu próprio público, diferenciado, e o encerramento de qualquer um deles significa sempre perda de leitores", sustenta a APEL, recordando que a atual situação mostrou que as editoras "se viram em risco de estrangulamento financeiro, como resultado da quebra prolongada do circuito comercial", um "risco tanto mais grave se comparado com outras atividades, quanto a devolução de 'stocks' existentes no retalho foi iminente", podendo levar "ao seu possível encerramento ou à incapacidade de investir em novas edições".

A APEL realça que "a permissão da venda de livros nos espaços livreiros, como são as livrarias/papelarias, lojas multiproduto como a FNAC ou a Note e outros, supermercados e hipermercados, não é de importância decisiva para estes canais comerciais, mas foi de extrema importância para o público em geral e para as editoras".

Estão abertos os espaços livreiros, que representam 40% das vendas totais e super e hipermercados (26% das vendas totais), segundo a APEL.

O grupo editorial 20|20, num comunicado hoje divulgado, afirma que, este ano, as quebras das suas vendas "já chegaram a ultrapassar os 70%", de pois de o ano de 2020 ter fechado com uma queda global de 17% do mercado do livro não escolar.

O Grupo 20|20 Editora é constituído pelas chancelas Booksmile, Cavalo de Ferro, Elsinore, Fábula, Farol, Influência, Lilliput, Nascente, Topseller e Vogais.

Quanto às livrarias, diz este grupo editorial que, "no ano passado foram, em entendimento consensual, demasiado insuficientes os apoios" que lhes foram destinados, para sobrevivessem à pandemia.

"Reconhecendo a importância destas na promoção do livro e da leitura", o grupo diz-se preparado para renovar, este ano, o desconto sobre o preço de venda ao público e moratórias de pagamento.

Esta semana, o Grupo Porto Editora anunciou também que iria retomar a aplicação de moratórias sobre o pagamento devido pelas livrarias, até ao final de abril, "sem qualquer custo adicional".

O Grupo Porto Editora envolve chancelas como Assírio & Alvim, Contraponto, Livros do Brasil, Pergaminho, Quetzal Editores, Sextante, Temas e Debates, assim como a Areal e o Grupo Bertrand/Círculo, num total de cerca de duas dezenas de casas editoras.

Tanto o Grupo 20|20 como o Grupo Porto Editora defendem que o livro seja considerado um bem essencial, e a reabertura das livrarias independentes.

"A atual situação, com a abertura parcial, não é, de todo, a ideal, e está longe de resolver os problemas de um setor que se encontra numa grave crise há quase um ano", lê-se no comunicado do Grupo 20|20.

Para vários livreiros contactados esta semana pela agência Lusa, a impossibilidade de as livrarias que vendem unicamente livros abrirem ao público, é “absurda” e “incompreensível” e tem motivado algumas ações de protesto simbólicas, como é o caso da livraria Leituria, que afixou na montra um cartaz, em que se lê “Encerrado por decreto presidencial e do Governo”, e publicou na página de Facebook uma foto de uma fileira de enchidos pendurados, com a legenda: “Os Orwell, os Tolstoi e os Saramagos, não podemos mostrar-lhos. Mas não se vai arrepender de pôr a mão nestas morcelas!”.

Em Coimbra, a Faz de Conto protestou contra o encerramento das livrarias, com a criação de uma “vitrine manifesto”, que inclui um livro - "A Greve", de Catarina Sobral - tangerinas, cenouras e produtos de limpeza.

Com as vendas 'online' como única hipótese, as livrarias tornaram-se uma espécie de armazéns de expedição, entregam encomendas ao domicílio ou no meio da rua, angariam clientes pela Internet e fazem ações de protesto, tudo para sobreviverem à lei “absurda” que as proíbe de abrir portas.

A reportagem da Lusa, que se estendeu a livrarias de várias regiões do país, verificou que esta realidade é mais sentida em meios pequenos, onde há apenas uma livraria, ou pouco mais, e o contacto do livreiro com o cliente tem raízes e um conhecimento aprofundado dos seus perfis e gostos, que orienta a escolha de livros, o aconselhamento e as conversas de circunstância dentro da loja.

José Pinho, da Ler Devagar, que também tem sido porta-voz da Rede de Livrarias Independentes, questionou se o livro foi alvo de uma “despromoção” no espaço de menos de um ano, já que em 2020 foi considerado bem essencial e as livrarias foram autorizadas a vender ao postigo.

A Ler Devagar, localizada em Lisboa, está também a viver das encomendas ‘online’ e não tem para já ideia das quebras que virá a ter.

“Encomendámos muitos livros em dezembro. As faturas foram emitidas. Entretanto, os livros foram confinados e nós não conseguimos vender nem devolver”, afirma José Pinho, criticando um decreto que estipula que “quem só pode vender livros é que não pode vender livros”.

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