08 abr, 2021 - 12:12 • Maria João Costa
São sete os locais de património ameaçados na Europa. A sua nomeação foi anunciada esta quinta-feira pela Europa Nostra, a organização que é a voz Europeia da sociedade civil para o património. Áustria, Croácia, Grécia, Itália, Kosovo, Macedónia do Norte e Espanha são os países onde a Europa Nostra identificou esses monumentos e espaços em perigo.
Numa conferência de imprensa digital mantida esta manhã, a Europa Nostra apontou como um dos casos a necessitar de preservação urgente a linha ferroviária operada a vapor, na zona do Tirol, na Áustria. A “Achensee Steam Cog Railway” faz a ligação entre Jenbach e o Lago de Achensee. É um exemplo do património industrial europeu que está ameaçado e que deveria ser preservado, no âmbito do Ano Europeu dos Caminhos de Ferro que se assinala este ano.
Outros dos exemplos em perigo é o complexo do cemitério histórico de Mirogoj, em Zagreb, na Croácia. Construído entre 1876 e 1929, é um exemplo da arquitetura neoclássica europeia. Projetado pelo arquiteto alemão Herman Bollé, este cemitério sofreu danos estruturais devido a dois terramotos que abalaram a região em março e dezembro de 2020. A Igreja de Cristo Rei e diversas lápides e esculturas ficaram fortemente danificadas.
Na Grécia, segundo a Europa Nostra, as cinco ilhas do Mar Egeu, Amorgos, Kimolos, Kithira, Sikinos e Tinos estão ameaçadas devido às propostas para a instalação de diversas turbinas eólicas naquelas ilhas. Além do impacto visual, alerta a Europa Nostra, algumas destas turbinas vão ficar junto a sítios arqueológicos, alguns deles dentro de áreas protegidas da Rede Natura 2000 ou junto a aldeias tradicionais.
Em Itália, o Jardim Giusti, na cidade de Verona foi inscrito na lista dos sete locais mais ameaçados da Europa. Construído em 1570, planeado pelo Conde Agostino Giusti que lhe deu nome, este jardim é um exemplo do jardim renascentista da Toscânia, mas que foi gravemente atingido por várias tempestades no último ano, provocando danos neste jardim que ainda está na posse da família original. Cerca de um terço das árvores do jardim, um labirinto e diversas estátuas do século XVII ficaram gravemente danificadas.
No Kosovo, o Mosteiro Dečani, entrou também para esta lista. De acordo com a Europa Nostra, este complexo monástico com uma igreja ortodoxa construído no início do século XIV está classificado pela UNESCO. A sua segurança tem vindo a ser garantida pelas tropas da NATO no terreno. A Europa Nostra mostra-se preocupada com a sua segurança e alerta para a construção de uma estrada que ligará o Kosovo a Montenegro que passará às portas do Mosteiro.
Na Macedónia do Norte, o antigo edifício dos Correios de Skopje foi também considerado um dos locais ameaçados. Este exemplo da arquitetura modernista em cimento armado, em forma de flor de lótus, sofreu um grande incêndio em 2013. Além dos danos causados pelas chamas, o edifício está em estado de abandono e ameaçado pelas águas de um rio nas imediações.
Em Espanha, o caso inscrito na lista de património em risco contempla a Ermida e Capela de San Juan de Socueva, na Cantábria. Situada em Arredondo, a Capela, ainda aberta ao culto, é considerada a construção religiosa mais antiga da Cantábria. Para a Europa Nostra, o seu estado de conservação preocupante. “O pórtico está em avançado estado de degradação”, referiu Pilar Bahamonde, a presidente da Futuro para o Património Religioso. Esta responsável alertou para o facto de “qualquer visitante pode entrar no local e retirar elementos” pertencentes ao monumento.
Os sete locais de património mais ameaçados selecionados poderão agora receber um apoio financeiro do Banco de Investimento Europeu no valor de 10 mil euros, por local que servirá para obras de conservação e restauro.
Sneska Quaedvlieg-Mihailovic, a responsável da Europa Nostra referiu que os sete casos nomeados este ano são “a ponta do iceberg”. Há mais locais ameaçados na Europa, cujo “repto está a ser escutado”.
Esta representante anunciou que vão continuar a organizar debates de forma digital para que a Europa Nostra continue a “servir de catalisador para uma mudança positiva”, no âmbito do património a nível europeu. Para breve foram também anunciadas visitar com equipas interdisciplinares aos locais ameaçados, por disse esta responsável “o património é uma causa comum” de toda a Europa e fundamental, para a identidade europeia.