18 mai, 2021 - 15:22 • Maria João Costa
Já não há desculpas. Não tem tempo para ir ao Museu do Caramulo? O Caramulo veio até Lisboa. A exposição temporária “A Coleção Utópica” mostra uma seleção de obras da coleção do Museu do Caramulo, no Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), até 26 de setembro.
O espólio da Fundação Abel e João Lacerda viajou até à capital enquanto decorrem obras de remodelação do Museu do Caramulo, explica ao Ensaio Geral da Renascença o diretor do museu. Salvador Patrício Gouveia indica que as “obras de reabilitação nas salas de arte” obrigaram à retirada dos quadros das paredes do museu e surgiu assim a oportunidade para a exposição em Lisboa.
Na Sala dos Passos Perdidos (piso 0) do MNAA são mostradas algumas das peças que deram origem à coleção. “O Museu do Caramulo começou como museu de arte, apesar de muita gente não saber isso”, explica o seu diretor. Salvador Patrício Gouveia lembra que muitas vezes o público conhece mais o museu pelo seu espólio automóvel, mas este guarda “cerca de 500 peças que vão desde o paleolítico, ao antigo Egipto, até Picasso e arte contemporânea”.
Em Lisboa, estão cerca de 30 peças, dando assim a conhecer uma parte deste “tesouro escondido do centro de Portugal”, como lhe chama Salvador Patrício Gouveia que lembra que no MNAA será também estreado o documentário «Abel de Lacerda: O Coleccionador Utópico».
Se fosse vivo, Abel Lacerda faria este ano 100 anos. Foi este o homem que sonhou a coleção de arte, “totalmente feita de peças doadas”, como explica o diretor do Museu do Caramulo. Quando tinha “30 anos, num Portugal pouco desenvolvido, [Abel Lacerda] consegue convencer um conjunto de notáveis a doar uma ou mais peças para se construir uma coleção no meio do Caramulo”, conta Patrício Gouveia.
O Museu do Caramulo “foi o segundo edifício a ser construído de propósito para ser um museu em Portugal” e está a celebrar já 70 anos de vida. A Lisboa escolheu trazer o emblemático quadro que Pablo Picasso ofereceu ao museu e que foi a primeira obra do artista espanhol que foi exposta no nosso país, mas também obras de Amadeo de Souza-Cardoso ou Eduardo Viana.
Além de Grão Vasco, são mostradas obras de Raoul Dufy, Isembrandt, Quentin Metsys e Frei Carlos. Mas há mais para descobrir, refere Patrício Gouveia. “Trazemos um Vieira da Silva. E há uma história muito engraçada. Abel Lacerda foi o primeiro português a comprar um Vieira da Silva à artista que na altura vivia em Paris e que era relativamente desconhecida, ao ponto de a imprensa referir-se a ela como “o” Vieira da Silva, porque nem sabiam que era uma mulher!”
Além destas obras, o Museu do Caramulo mostra ainda em Lisboa peças da sua coleção de arte contemporânea. São também expostas no MNAA “algumas porcelanas”, tapeçaria e um automóvel da marca Bugatti, “um dos mais belos clássicos” da indústria automóvel.
O Museu do Caramulo está instalado no centro da antiga estância de sanatórios da Serra do Caramulo, no distrito de Viseu. Nasceu pela vontade de Abel Lacerda em criar uma coleção de arte e foi depois concluído pelo irmão, João de Lacerda que juntou à coleção de arte, a sua paixão pelos automóveis “clássicos”.