Siga-nos no Whatsapp
A+ / A-

Inteligência Artificial

Máquinas "longe" de serem mais inteligentes que humanos

18 set, 2021 - 10:16 • Lusa

Daniela Braga acredita que está próximo o tempo em que as máquinas possam interagir com as pessoas.

A+ / A-

A especialista em inteligência artificial Daniela Braga considera que as máquinas estão "muito longe" de substituírem totalmente os humanos ou serem mais inteligentes, mas estão "muito perto" de interagirem como as pessoas.

Daniela Braga, de 43 anos, que fundou e dirige a DefinedCrowd, empresa com sede nos Estados Unidos e escritórios em Portugal e no Japão que produz dados de voz, texto e imagem para sistemas de inteligência artificial e aprendizagem automática, integra um grupo de trabalho, para o qual foi nomeada em junho, que vai definir a estratégia para a inteligência artificial no país liderado por Joe Biden.

Um dos objetivos do grupo de trabalho, que junta académicos e empresários, é fomentar a literacia em inteligência artificial, "desmistificar o medo em relação à singularidade tecnológica", à ideia de que "as máquinas vão tomar conta do mundo", nas palavras da empresária natural do Porto, mas com dupla nacionalidade, portuguesa e norte-americana.

"Acho que estamos muito longe de que as máquinas nos substituam na maior parte das atividades ou que sejam mais inteligentes do que nós", afirmou, em declarações à agência Lusa.

Daniela Braga entende que as máquinas estão "pelo menos 30 a 40 anos" de poderem executar "atividades mais evoluídas do que as rotineiras, com pouca capacidade cognitiva".

A empresária defende que as máquinas devem substituir as pessoas "nas atividades rotineiras, mais braçais, que implicam pouca atividade cognitiva", dando como exemplo a condução autónoma de autocarros ou camiões.

Para a especialista, no entanto, está-se "mais perto" de uma interação com máquinas semelhante à que existe entre humanos.

"Estamos mais perto, e estamos tão perto que agora é quase indistinguível uma voz sintética de uma voz real", apontou.

Um exemplo de uma "interação perfeita" homem-máquina, para Daniela Braga, é um computador responder a uma questão e depois a uma nova questão suscitada pela resposta anterior sem que a pessoa tenha de ligar para um número de telefone de apoio para resolver um problema em mãos.

Quanto à possibilidade de os computadores poderem comportar-se de forma inteligente, exibir um comportamento de um ser humano em idêntica situação, Daniela Braga respondeu com um "não", por enquanto.

"Neste momento, o computador só responde a situações mais ou menos validadas", frisou, exemplificando que, num cenário de guerra, em que "várias coisas" imprevisíveis "estão a acontecer", um computador não consegue substituir um piloto no ar na tomada de decisões.

No grupo de trabalho para a inteligência artificial criado nos Estados Unidos pela administração do Presidente Joe Biden, ao qual os seus membros terão de apresentar um relatório preliminar em maio de 2022, Daniela Braga vai "ajudar a que as máquinas tenham acesso a conhecimento com mais confiança e com mais qualidade".

Na DefinedCrowd, que tem "clientes de topo na produção de inteligência artificial à escala mundial", como a Microsoft, onde trabalhou, são produzidos "dados artificialmente para cérebros artificiais".

"Enquanto o "software" é programado com regras e códigos, a inteligência artificial é treinada com dados", assinalou Daniela Braga, "uma das poucas mulheres a liderar empresas de inteligência artificial".

Estratégia nacional é Declaração de intenções

Daniela Braga classifica como "uma declaração de intenções" a estratégia definida para o setor em Portugal, onde é preciso "muito mais investimento", a começar pelo Estado.

A especialista faz parte de um grupo de trabalho que vai definir a estratégia para a inteligência artificial neste país.

A empresária de 43 anos considera que, na área da inteligência artificial, Portugal pode liderar o polo dos chamados serviços cognitivos, processos computacionais baseados em algoritmos bastante complexos de inteligência artificial e aprendizagem automática.

"Temos uma tradição académica muito forte, pessoas de renome internacional, e empresas", justificou, em declarações à agência Lusa.

Contudo, para colocar o país no mapa nesta área, será preciso "muito mais investimento, e focado em inteligência artificial". Investimento público e privado, com este último a ser impulsionado necessariamente pelo Estado, realçou.

No grupo de trabalho para o qual foi designada em junho, de um dia para o outro, em representação das pequenas e médias empresas tecnológicas, Daniela Braga tem a seu cargo os recursos de dados.

Ficou "muito surpreendida" com a nomeação, não obstante trabalhar com dados para sistemas de inteligência artificial há 21 anos.

A sua "experiência global", que se estendeu por três continentes (Europa, Ásia e América), onde trabalhou, e o facto de ser das poucas mulheres a liderar uma empresa na área terão valido como "ingredientes únicos" para fazer parte de uma estrutura que pretende "democratizar o acesso a dados e a ferramentas" de inteligência artificial, um setor a progredir a grande velocidade e em que "o mercado está mais competitivo", sublinhou.

Sobre a estratégia portuguesa para a inteligência artificial, que se propõe "promover a investigação e a inovação nesta área específica, em prol do seu desenvolvimento e aplicação em campos como a administração pública, o ensino, a formação e as empresas", Daniela Braga entende que é "mais uma declaração de intenções".

"Não tem medidas de ação", criticou.

Formada em Linguística Aplicada e Tecnologia do Discurso, a especialista explicou que os dados "são o alimento" dos sistemas de inteligência artificial, que "só conseguem decidir artificialmente, simulando as decisões humanas, se tiverem acesso a muitos dados de treino".

"Assim como os nossos cérebros são treinados com dados, que são recebidos na forma de experiências, de [aprendizagens na] escola, de "inputs" [entradas] sensoriais ao longo da vida, nos computadores esses "inputs" sensoriais são os dados", acrescentou.

Uma das funções do grupo de trabalho para o qual Daniela Braga foi nomeada em junho é "facilitar o acesso" a dados de inteligência artificial por parte de instituições e empresas norte-americanas, que, no futuro, passarão a ter um departamento vocacionado para esta área, tal como hoje têm para a informática.

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

  • my
    18 set, 2021 li 14:57
    Coitadas, pobres das máquinas.
  • Bruno
    18 set, 2021 aqui 12:19
    Eu ainda não percebi onde foram buscar a ideia de que os humanos são inteligentes. No alto da nossa arrogância, dizemos que somos Homo sapiens. No entanto, poucas são as decisões que tomamos na nossa vida que são realmente racionais; a maioria delas é emocional. Coisas como a escolha de um emprego, de um cônjuge, da habitação, etc, são todas tomadas tendo em conta emoções: gosto vs não gosto. Eu até propunha que nos chamassemos Homo emoticus, no entanto, a característica que se sobressai na nossa espécie em relação às outras é a capacidade de destruir ecossistemas. Por isso, o mais adequado seria sermos designados por Homo destructor.

Destaques V+