06 out, 2021 - 07:46 • João Cunha
No ano em que se celebra o centenário do nascimento de Amália Rodrigues - e no dia em que passam 22 anos sobre a sua morte - o Ministério da Cultura anuncia que vai candidatar as gravações da cantora ao programa da UNESCO “Memória do Mundo", que visa realçar e preservar documentos com “importância mundial e valor universal excecional”.
"Ah, mourir pour toi", original do françês Charles Aznavour. Uma versão de "Vitti 'na Crozza", do italiano Domenico Modugno, ou "El Lerele", da espanhola Lola Flores. Amália quebrou as fronteiras linguísticas, mas sobretudo, as fronteiras de género musical.
Para além de se afirmar como intérprete do fado, também interpretou as "rancheiras" mexicanas, o flamenco ou a canção italiana, entre outros repertórios, inspirando autores como Aznavour ou Vinicius de Moraes que para ela compuseram.
As gravações de Amália Rodrigues farão parte da candidatura promovida pelo Ministério da Cultura, através da equipa do Arquivo Nacional do Som e em colaboração com a empresa Edições Valentim de Carvalho - proprietária da coleção de gravações da cantora entre 1951 e 1990 e de outras gravações, algumas delas nunca publicadas - ao programa "Memória do Mundo", da UNESCO.
"Uma iniciativa que visa realçar e preservar documentos com especial significado e valor para a humanidade", resume Graça Fonseca, a Ministra da Cultura, que sublinha que se trata da primeira candidatura portuguesa de um documento audiovisual a este programa das Nações Unidas - que já inclui centenas de documentos - alguns deles nacionais.
"Até hoje há cerca de hoje já foram inscritos como “Memória do Mundo” cerca de 400 documentos ou conjuntos de documentos, desde a Magna Carta à Bíblia de Gutenberg. Até hoje, Portugal inscreveu dez documentos entre os quais podemos referir o Tratado de Tordesillas, o Diário da primeira viagem de Vasco da Gama à Índia ou o registo de vistos atribuídos pelo cônsul português Aristides Sousa Mendes.
No domínio do património documental sonoro, também são vários os documentos inscritos: o disco com a gravação do apelo à resistência francesa na II Guerra Mundial pelo General de Gaulle, as coleções históricas dos arquivos de som de Viena, de Berlin e de São Petersburgo ou uma coleção de discos de Carlos Gardel.
A candidatura do espólio musical de Amália será a primeira candidatura portuguesa de um documento audiovisual.
Mas há outro objetivo, que surge na sequência do trabalho desenvolvido pela Valentim de Carvalho e pelo Arquivo Nacional do Som. "Aprofundar o que tem sido o trabalho da própria Valentim de Carvalho e, também desde há dois anos, com colaboração do Arquivo Nacional do Som, precisamente para promover, divulgar e preservar neste caso um espólio importante e que deve ser universal", diz Graça Fonseca.
Porque "Amália é nossa, mas também é do mundo".
O programa “Memória do Mundo” é uma iniciativa da UNESCO que visa realçar e preservar documentos ou conjuntos de documentos com especial significado e valor para a humanidade, documentos (também fonográficos) com “importância mundial e valor universal excecional”.
As primeiras inscrições tiveram lugar em 1997, e até hoje já foram inscritos como “Memória do Mundo” mais de 400 documentos ou conjuntos de documentos, da Magna Carta, à Bíblia de Gutenberg.