19 out, 2021 - 06:37 • Maria João Costa
“Quero lá ir”. Foi desta forma que André Rieu reagiu quando soube da elevada taxa de vacinação portuguesa contra a Covid-19.
Depois de mais de ano e meio afastado dos palcos por causa da pandemia, e ter aproveitado o tempo para fazer “bolos”, o violinista, que atuou na última passagem por Lisboa para 160 mil pessoas, está de regresso.
De 2 a 4 de dezembro sobe ao palco do Altice Arena com a sua orquestra Johann Strauss. Para o público português reserva surpresas e quer que “viva uma noite que nunca vai esquecer”.
Em entrevista à Renascença, Rieu revela que a paixão por uma jovem professora de violino o fez tocar e porque não gosta de ver músicos “a tocarem Mozart com caras como se já estivessem mortos”. Aos 72 anos, André Rieu confessa que é a música que lhe dá “energia”.
Esteve em Portugal em 2019, tocou na altura para 160 mil pessoas. Regressa agora com novos concertos a Lisboa. O que espera destes concertos?
Quando ouvi na Holanda que vocês estavam muito bem nos níveis de vacinação, que tinham 86% da população vacinada, imediatamente disse: “Quero lá ir!”. Disse que queria regressar porque as memórias que tinha destes concertos, em Lisboa, ainda estavam vivas na minha cabeça. Foram fantásticos
Sente-se seguro em vir atuar em Portugal?
Sim, claro! Sinto-me seguro com a situação do coronavírus.
Costuma dizer que “uma valsa por dia, mantém o médico longe”. Funcionou consigo durante esta pandemia?
Sim, funcionou!
Sentiu falta dos concertos, das tournées, do público?
Sim, foi tremendo. A 13 de março de 2019 nós estávamos nos Estados Unidos e foi quando foi decidido que tínhamos todos de ir para casa. Desde então, não houve mais concertos, não podíamos estar juntos, fazer música, por isso foi muito, muito difícil. Escrevi na altura na internet que na História, todas as pandemias levam dois anos, então, comecei a mentalizar-me de que seriam dois anos, para levar as coisas com calma e isso ajudou-me muito.
O que fez durante todo este tempo, preparou novo material para os concertos?
Fiz bolos! (risos)
Eram bons?
Se eram bons! Toda a gente os adorou e comia-os. Na rua onde habitualmente vou às compras, toda a gente me dizia: “já sei que está a fazer bolos. Tem de fazer um para nós!”
Cozinhar e fazer música tem semelhanças?
Acho que sim. Diverte-me. Mas por outro lado, fizemos muito trabalho em estúdio porque os países onde estávamos, como foi o caso de Portugal, as televisões, pediram-nos para fazer alguma coisa para animar as pessoas, porque o coronavírus era tão terrível. Acabamos por estar muito tempo em estúdio.
Estará em Lisboa de 2 a 4 de dezembro. Irá incluir no concerto algumas surpresas para o público português, como já fez antes?
Claro que vou fazer isso, mas não lhe vou contar como será a surpresa! Senão deixa de ser surpresa. Sabe porque venho a Lisboa, e porque gosto tanto? As pessoas não sabem o que vou tocar, mas compram os bilhetes porque sabem quando vão ver o André e a sua orquestra vão ter uma noite que nunca vão esquecer. Vão para casa com um sorriso na cara.
Conte-nos um pouco como tudo começou. Começou a tocar violino era ainda criança. Ficou logo preso ao violino? É um instrumento muito exigente.
Quando tinha 5 anos. A minha professora tinha 18 anos e era loira e eu apaixonei-me imediatamente por ela. Isso ajudou muito a estudar violino, porque é difícil. Ela tinha um lindo “vibrato”, e eu tinha 5 anos e não sabia fazer aquilo. Depois de três semanas a tocar intensamente consegui fazer o “vibrato”. Mas não sabia ainda tocar. Queria fazer com que o violino tocasse o meu coração, é isso que faço ainda hoje nos meus concertos. Quero que o público, seja tocado pela música. É isso que quero.
Fundou a Orquestra Johann Strauss Orchestra em 1987. Desde então não tem parado. Como explica esse sucesso?
Acho que a razão é a que referi. Toco apenas música que me toca o coração. Quando sei que me toca a mim, sei que irá também tocar o seu. Funciona. A minha música faz bater o meu coração, e toda a orquestra toca. Eu escolho músicos que também tocam com o seu coração. É isso que sente e vê quando está na plateia
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É esse o poder da música?
Sim, é exatamente esse o poder, a interação com o público. Normalmente, o maestro sobe ao palco e volta as costas para o público e não o vemos mais. Eu quero olhar o público nos olhos.
A música clássica e em especial compositores como Strauss eram muito populares na sua época.
Depois, com o tempo, a música clássica foi levada para salas mais fechadas. Trazer a música clássica de volta, para o grande público, tornando-a mais democrática, é o seu principal objetivo?
Sim, não é o principal, porque o principal é fazer música com o coração e levar essas emoções lindas às pessoas. Mas de facto, é o resultado do meu trabalho, que as pessoas voltem a gostar de todo o tipo de música. Há pessoas que vieram aos meus concertos e nunca tinham visto um violino. E ficam espantadas. Dizem, que é lindo! Estou muito contente que isso aconteça.
E tem um verdadeiro Stradivarius que toca. Qual é a diferença?
Sim, só toco esse. É difícil dizer a diferença, mas é a história, é o tom. Todos os violinos são diferentes, como todas as mulheres são diferentes. É assim! Sabe, quando toco violino, mexe comigo. Nos outros violinos temos de trabalhar, com este é puro gozo.
O público não o vê, mas enquanto fala sobre o violino vai demostrando como se estivesse a tocar com os seus braços. Sente que ainda tem essa energia para subir ao palco, e atuar dessa forma intensa que sempre atua?
Acha que pareço um velho? (risos) Sinto-me muito jovem, tenho 72 anos, mas vou chegar aos 140 anos, por isso estou só a meio caminho. Pratico desporto três vezes por semana. Acho que isso é muito importante. Mas é a música que me dá a energia. Quando penso que estou aqui em Lisboa, de frente para este público extraordinário e vejo todas aquelas caras felizes, dá-me muita energia.
Gosta de assistir a concertos de música clássica mais convencionais?
Nem sempre. Vê orquestras maravilhosas a tocarem Mozart com caras como se já estivessem mortos! Porquê?! A música de Mozart é linda. Porque é que a tocam assim?! Isso eu não gosto.
Como reage a pessoas que preferem concertos mais elitistas e criticam o seu tipo de espetáculo?
Os meus concertos não são espetáculos. São concertos. Um show é quando vai a Nova Iorque e vê 25 bailarinas a dançar com pernas e braços coordenados. Isso é um espetáculo. Eu gosto de ter as minhas raparigas com vestidos lindos. Tudo é lindo e colorido, porque eu sou um homem, quero olhar para essas e quero que estejam bonitas. Mas sabe, vivemos num mundo livre, se não gostam da minha música podem desligar o botão. Mas tenho sorte, milhões de pessoas gostam da minha música.
Os mais jovens ouvem música em novas plataformas, outro tipo de música. Em que medida a educação musical é importante?
A educação é tudo. Tenho sorte de ter no meio do meu público, muitas crianças. São os pais que me dizem que eles ouvem todo o dia a minha música. Têm de comprar auscultadores para eles ouvirem e verem na televisão os meus DVDs. Por isso tenho muita sorte e estou feliz com isso.
Lança uma semente musical nas crianças que vai crescer?
Certamente que irá crescer! É espantoso como muitas crianças foram educadas assim. Já faço isto há 35 anos, por isso já há adultos que cresceram com a minha música. Sou um sortudo e tenho muito orgulho nisso.