04 dez, 2021 - 10:50 • Lusa
Os músicos Tozé Brito e José Cid vão editar, em 2022, um álbum conjunto que inclui, entre outras, canções do Quarteto 1111, de que ambos fizeram parte, proibidas pela censura, como “Domingo em bidonville”, “Pigmentação” e “João Nada”.
“São canções que escrevemos ao longo destes 50 anos em que trabalhamos juntos e que nos conhecemos”, disse Tozé Brito.
“Foram canções que editámos e que rapidamente foram proibidas, foram retiradas do ar e os discos retirados das lojas. Essas canções estão perdidas no tempo, têm 50 anos e pouca gente as conhece”, afirmou.
José Cid, também em declarações à Lusa, lembrou que, “no final dos anos 1960, início dos 70, existiu em Portugal o grupo mais perseguido pela censura, mais maldito, mais ousado: o Quarteto 1111”.
Entre os temas censurados na altura do Estado Novo e revisitados para “Tozé Cid”, estão “João Nada”, “Domingo em bidonville”, “Pigmentação”, “o primeiro tema que se escreve em Portugal sobre a xenofobia”, e “Lisboa ano 3000”, “uma visão estratosférica daquilo que será Lisboa ano 3000”.
No álbum está também o primeiro tema que Tozé Brito e José Cid escreveram juntos: “Todo o mundo e ninguém”.
“Um poema de Gil Vicente que o [‘rapper’ e produtor norte-americano] Jay-Z incluiu [no tema ‘Marcy Me’ de ‘4:44’] no último álbum dele”, recordou José Cid.
Para Tozé Brito, as canções incluídas no álbum “são extremamente atuais”.
No entanto, “com a sonoridade que tinham e a produção que tinham estavam datadas”. “Ouvias e dizias ‘estas canções são nitidamente canções dos anos 60/70’, pelo som, pelos arranjos, etc. Agora o destaque está nas vozes, a prioridade foi pôr as vozes bem à frente. E depois os arranjos são simples, muito acústicos, com órgão e alguma percussão. Penso que vai ser um álbum muito interessante”, afirmou.
José Cid corrobora, referindo que, no álbum, estão “temas que muito pouca gente conhecia, numa nova versão muito acústica”. “Nada de sintetizadores”, disse.
Em “Tozé Cid”, além de Tozé Brito, que “toca os baixos todos”, e José Cid, responsável “pelas concertinas e os acordeões”, participa também o multi-instrumentista Amadeu Magalhães, “um dos grandes músicos da música tradicional portuguesa” que, no álbum, toca gaitas de foles, flautas e violas acústicas.
O álbum, que, segundo Tozé Brito, deverá ser editado “no verão do ano que vem", “está gravado”, faltando agora “dar pequenos toques e depois misturar e masterizar”.
José Cid fala num “documento importante para a música popular portuguesa”, que recupera “pop criativo, underground, interveniente e crítico do sistema entre 1968 e 1973”.