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Covid-19

“Batemos no fundo”. ​Álvaro Covões exige responsabilidades à DGS

28 dez, 2021 - 17:30 • Maria João Costa

A Associação dos Promotores de Espetáculos, Festivais e Eventos esteve hoje reunida. O promotor Álvaro Covões acusa as autoridades de saúde de não terem experiência na gestão de logística de multidões. Os promotores dizem que não podem deixar de trabalhar por falta de capacidade de testagem.

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É preciso exigir “responsabilidade civil” à diretora-geral da Saúde, afirma Álvaro Covões. O promotor de eventos culturais lamenta a falta de capacidade de resposta na testagem que está a afastar o público dos espetáculos. Em entrevista à Renascença, o diretor da Everything is New interroga-se: “quem é que vai para uma fila quatro horas para fazer um teste para ir ao cinema?”

Depois de logo de manhã ter escrito na sua página de Instagram que a obrigatoriedade de um teste negativo está a deixar, desde dia 25, as salas de espetáculo “vazias” e que assim continuarão até janeiro, Álvaro Covões participou esta terça-feira numa reunião da Associação dos Promotores dos Espetáculos, Festivais e Eventos (APEFE).

No encontro foram debatidas, entre outras temáticas, as novas medidas do Governo de combate à Covid-19, que exigem a apresentação de testes negativos para a entrada num evento cultural. Sobre a questão, Álvaro Covões aponta o dedo à Direção-Geral da Saúde (DGS).

“De facto as autoridades de saúde não têm experiência para gerir uma logística de multidões”, refere Álvaro Covões que organiza eventos culturais, como o Festival Nos Alive. Na sua opinião, “não é a mesma coisa que tomar decisões à secretária. É preciso ter a noção da escala”.

Covões lembra que “a APEFE alertou o Governo atempadamente”. “Nós temos a capacidade de cumprir as regras, o que importa saber é se vocês têm capacidade de aumentar a logística de testagem para satisfazer a procura”, diz o promotor que desde 1995 está neste ramo. Covões lamenta: “apesar dos nossos alertas, aconteceu”.

Sem capacidade de testagem, o setor cultural tem dificuldade em trabalhar e o público desiste. Álvaro Covões faz um paralelismo: “vai-se fazer um teste para ver os Rolling Stones, mas não se vai fazer um teste para ver um espetáculo que se pode ver daqui a três meses. Fazem-se testes para ir ver um Benfica-Porto, fazem-se menos testes para ir ver o Oriental com o Montijo, da terceira divisão”.

Álvaro Covões fala em “regras disfuncionais”, questiona o papel das autoridades de saúde e aponta o dedo a Graça Freitas. “Aconteceram coisas gravíssimas como nós assistimos a senhora diretora-geral de saúde a recomendar que as pessoas evitassem ajuntamentos nas festas de Natal. Então, o Governo, as autoridades de saúde e o parlamento criam regras de segurança para que a economia possa funcionar, como é que alguém, responsável máximo pela saúde, pode vir dizer, apesar das regras, não façam!?”, interroga-se.

O produtor de espetáculos é afirmativo ao dizer que a DGS “tem de ser responsabilizada”. Nesta entrevista à Renascença, Álvaro Covões diz que “este país tem de se organizar de uma vez por todas. Se as autoridades de saúde e o Governo, com o apoio de muitos especialistas chegam a um acordo com um conjunto de regras, não podem vir dizer, afinal não cumpram estas regras”.

Mas Álvaro Covões vai mais longe nas críticas, questiona “como é que é possível não haver um único partido que, por interesse próprio, não critique o facto de os eventos políticos não terem as mesmas regras dos eventos culturais”. Covões conclui: “esta coisa de se decidir em causa própria, é uma coisa muito pouco democrática”.

Pandemia provoca quebra de mais de 85% de espetadores

O Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgou, recentemente, os dados sobre a área cultural relativos a 2020. Álvaro Covões diz que são “uma tragédia”. O promotor de eventos lamenta os números e diz: “batemos no fundo”.

Os números mostram que em 2020 os eventos culturais perderam quase 86% dos espetadores. “Vem confirmar que fomos o setor económico mais prejudicado pela pandemia”, aponta Álvaro Covões.

No entanto, o promotor faz uma ressalva: “não podemos esquecer, quando olhamos para números de 2020, que houve dois meses e meio ainda a funcionar dentro da normalidade e que por sinal foram dois meses e meio fortíssimos.”

Ainda assim, Covões diz que os números só vêm “demonstrar que foi uma tragédia” e vêm confirmar que a cultura “deve ser o único setor em que 2021 vai ser pior do que 2020”.

O diretor da Everything is New aplaude a medida do Governo que encerrou as discotecas e “estabeleceu um plano de pagar os prejuízos que vão ter”. Mas questiona o que aconteceu na cultura. “Não nos fechou, mas pergunto se vai para uma fila de quatro horas para fazer um teste?”. A pergunta fica no ar.

[notícia atualizada às 23h38]

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